Foi impossível sair do
cinema, após assistir Lore, de Cate
Shortland sem me lembrar de outro filme alemão, A Cidade sem Passado, de 1990, que mostrava o quanto uma cidade
alemã, 25 anos depois do fim da Segunda Guerra, fazia questão de se esquecer do
que ocorrera no país durante o Holocausto Nazista. Era como se nada tivesse acontecido,
como se ninguém soubesse, à época, o que se passava no país. E este filme de
2013 mostra, exatamente, o início deste processo de negação por parte da
população da Alemanha.
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Com a ocupação das
cidades alemãs pelos exércitos aliados, começam a surgir as fotos dos campos de
concentração e a reação geral é de incredulidade, de alegada surpresa, como se
fosse propaganda do inimigo conquistador, como se os corpos amontoados fossem
de atores magérrimos, contratados para posar como modelos.
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O filme é muito tenso,
do início ao fim, e mostra o quanto a espécie humana pode ser egoísta quando se
trata de livrar a própria pele. E como o mesmo indivíduo que não se importou
com o que se passava com o vizinho judeu, diferente dele, não se importa com o
que se passa com um alemão próximo a ele, igual a ele, seja homem, mulher, velho
ou criança.
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O filme difere das centenas
de histórias de guerra já produzidas pelo cinema (principalmente o americano) no
fato de que as vítimas, agora, não são os judeus (ou os homosexuais ou os comunistas)
perseguidos pelos nazistas e sim um grupo de crianças alemãs, filhos de
nazistas fugitivos, que sofrem as agruras no país destruído. E, com isso,
mostra que a capacidade do ser humano de impingir a dor e o sofrimento a um semelhante
seu, como ocorreu com os nazistas aos judeus e com os judeus aos palestinos,
não é característica de uma parcela da espécie, mas dela como um todo.
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Apesar de provocar muita
reflexão, o filme é extremamente deprimente, assim como a realidade. Dá vontade
até de negar o passado.