À beira do momento ápice
da campanha eleitoral, percebo que, infelizmente, não evoluímos na forma de
conduzir o debate político que pudesse servir para facilitar a escolha do
eleitorado. Eu me arrisco a dizer que, muito pelo contrário, corremos o risco de
termos um debate piorado se comparado aos que tivemos nas eleições passadas.
Como já ocorreu nas últimas
campanhas eleitorais para presidente, podemos identificar, entre o eleitorado, três
grandes grupos: os petistas, os antipetistas e um terceiro que eu
chamaria de independentes. Cada um dos dois primeiros pode ser dividido em duas
fatias. O terceiro grupo é mais multifacetado.
Entre os petistas há aqueles que se posicionam
desta forma por uma questão ideológica, de esquerda. Nada mais legítimo, já que
a posição de esquerda é clássica como uma maneira de enxergar a política e está
presente em todas as sociedades. A esta fatia eu chamaria de autênticos. Há uma
outra fatia, entretanto, que não tem uma compreensão clara do que os petistas defendem
como bandeira e identificam nas ações do governo apenas um componente
clientelista, enxergando cada ideia como dogma e cada ação como salvação da
pátria. Esta parcela da militância petista é a que costuma enxergar um risco de
golpe em cada esquina e tem grande dificuldade em tolerar qualquer pensamento
divergente. A esta parcela eu chamaria de ignorantes.
Entre os antipetistas, aqueles que se posicionam
assim por uma questão ideológica de direita também representam uma posição
absolutamente legítima, até porque, a posição de direita é, também,
historicamente, clássica como uma maneira de enxergar a política e, da mesma
forma, presente em todas as sociedades. Quem defende esta posição ideológica
também poderia ser chamado de autêntico. A outra fatia dentro deste grupo é
aquela que adota esta posição baseada em preconceito e todo preconceito é
demonstração de ignorância, já que não se vale de informação verdadeira para
conceber seu pensamento. Esta parcela, em geral, teve acesso a uma evolução
social, mas não apresenta a contrapartida de uma evolução cultural. São pessoas
com algum poder econômico, mas com pouca capacidade intelectual. Enxergam em
toda ação do atual governo um perigo iminente de revolução comunista. Por este
motivo, esta parcela de antipetistas é muito parecida com a parcela ignorante
dos petistas.
O terceiro grupo,
aquele que eu chamei de independentes é o mais complexo na hora de distinguir
as facções. Há uma parcela guiada pela ideologia e que não identifica em nenhum
dos dois grupos uma clara representação de seus conceitos. Esta parcela do
eleitorado, normalmente identificada como “indecisos”, na verdade, vai migrar
para uma das posições anteriores no momento do voto. Curiosamente, neste caso,
acabam se misturando, neste balaio, pessoas de centro, de extrema esquerda e de
extrema direita que, apesar de discordarem entre si na concepção política do
mundo, unem-se na crítica ao discurso ou à prática de um dos grupos anteriores
(ou a ambos). Nesta massa de eleitores, incluem-se, também as pessoas sem
interesse nenhum por política, outrora chamados alienados (termo meio fora de
moda) e, finalmente, uma quantidade imensa de pessoas que não consegue
interpretar claramente as propostas de qualquer grupo (ou candidato) que esteja
na disputa. Novamente aí, uma grande quantidade de pessoas ignorantes.
Quando uso o termo
ignorante, não o faço com a conotação pejorativa, às vezes ofensiva, que ele
tem. Ser ignorante é não ter conhecimento. É uma coisa natural. Afinal, todos
somos ignorantes em algum tema (ou em muitos).
Não é tão preocupante
que haja tanta gente ignorante em termos de política. Preocupante é perceber
que os grupos que estão na disputa, ao identificarem o enorme contingente de eleitores
nesta situação, foque seu discurso exatamente neste extrato, não para
esclarecer suas propostas, mas, sim, para alimentar ainda mais a falta de
entendimento destas pessoas e, com isto, conquistar seus votos, já que o voto
das pessoas esclarecidas, tanto à direita quanto à esquerda, já está garantido.
Para isso, as campanhas eleitorais utilizam de todo tipo de estratégia para
confundir, enganar, mentir, alimentando o preconceito e fomentando o ódio na
sociedade, ódio este que serve de combustível para incendiar as militâncias.
Em geral, passada a
eleição, este clima esmaece, as coisas se acomodam e os grupos que disputam o
poder negociam entre si, como é normal (e desejável) em política.