Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 2 de maio de 2015

O jazz e o pop

Quem acompanha este blog sabe que minhas preferências musicais recaem, principalmente, sobre a música brasileira, sobretudo o samba. Isso não quer dizer que eu seja refratário a outros gêneros musicais. Na verdade, tenho muito apreço pelo jazz e pela música norte-americana que foi produzida nas décadas de 40 e 50, do século passado. Me encantam os standards escritos por compositores como os irmãos Gershwin, Irving Berlin, Jerome Kern, Richard Rodgers e Cole Porter, meu preferido. Todos eles produziram canções inesquecíveis que me seduziram (e ainda seduzem), interpretadas pelas vozes de Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Carmen McRae, entre tantos outros. E, dentre tantos, tenho clara predileção por Tony Bennett.

A música americana mais moderna me interessa muito pouco. Com o rock flertei na mocidade e o resquício de interesse ficou restrito a alguma produção nacional. Já em relação à música pop americana, meu interesse é zero. Não me instigam os artistas e, muito menos, a forma com que este produto cultural (ou seria subproduto?) é trabalhado pelo mercado.

E foi por isso, justamente, por esta quase implicância com a música pop, que me surpreendi com meu interesse e, mais que isso, minha satisfação com o resultado de um disco de Lady Gaga. Devo confessar que nunca havia ouvido nada que esta moça tenha gravado e nem mesmo seu rosto era familiar pra mim. O que suscitou minha curiosidade foi o fato do disco em questão ter sido gravado com Tony Bennett, um trabalho cujo repertório é composto por standards de jazz, a maioria em dueto com o meu cantor americano preferido. E não é que a voz da moça é boa? Ela tem um timbre forte e uma boa noção de divisão musical, característica imprescindível para interpretar este tipo de música.

Com acompanhamento irrepreensível, o disco é muito agradável de se ouvir. Não sinto muita propensão em ouvir outras coisas gravadas por ela, mas, ao menos, agora, sei que se trata de uma cantora vigorosa, ou seja, não é só mais um rostinho feio no mercado da música pop. 

Cheek to Cheek (Irving Berlin) – Tony Bennett & Lady Gaga

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Lusitanos

Gosto dos livros da coleção Povos & Civilizações da Editora Contexto. A proposta é analisar a característica de uma determinada sociedade, utilizando a história de seu povo como o fio condutor desta análise. Já li Os Americanos, Os Espanhóis e Os Argentinos, nessa ordem. Agora, terminei de ler Os Portugueses, da professora Ana Silvia Scott, que segue a mesma proposta dos anteriores.

O que notei, entretanto, é que, neste caso, a utilização da história foi bem mais apurada do que os que li anteriormente. Isso, aliás, foi o que mais me seduziu no livro, já que sei muito pouco sobre a história de Portugal. Como a própria autora ressalta, parece que a historiografia brasileira desinteressou-se dos lusitanos, depois da partida da família real de volta à Europa. Só voltamos a nos interessar por eles a partir da Revolução dos Cravos.

Desta maneira, foi muito interessante saber mais sobre o período sob Salazar, por exemplo. Sempre identifiquei este regime com o de Francisco Franco, na Espanha ou Benito Mussolini, na Itália, mas, pude perceber que houve uma série de características únicas na ditadura portuguesa, que durou mais de 40 anos, já que não terminou com a morte de seu criador, tendo sobrevivido, ainda, mais seis anos pelas mãos de Marcelo Caetano.

Como não podia deixar de ser, o livro trata da relação entre brasileiros e portugueses, tanto aqui quanto lá. Mostra, principalmente, como esta relação, por parte dos portugueses, sofreu, ao longo dos anos, alterações constantes, indo da mais profunda admiração até o sentimento de desprezo, não chegando a atingir, entretanto, o patamar de intolerância que é dispensada aos imigrantes africanos.

Outra característica que é salientada no texto é a capacidade de adaptação deste povo a novas culturas. Sendo uma gente que emigra muito, herança do tempo das grandes navegações, os portugueses conseguem a façanha de, ao mesmo tempo, manter vivas as tradições lusitanas e adaptar-se ao modo de vida das sociedades pra onde migram.

Enfim, é um livro valioso pra quem, como eu, interessa-se em entender, ao menos um pouco, como pensam todos os outros povos.