Nunca tive nenhuma
empolgação com o trabalho de Fernanda Torres. Acho-a uma atriz regular, nada
excepcional, daquelas que não me motivam a ir ao cinema assistir a um filme por
causa de sua participação, como acontece com Ricardo Darin, Edward Norton ou
sua mãe, Fernanda Montenegro. Por isso mesmo, não me chamou a atenção o
lançamento de seu livro, Fim. Foi a
Clélia que me disse que gostava de ler seus textos publicados mensalmente na
Folha e, por isso, num dia de vadiagem na Livraria da Vila, em Campinas, peguei
o livro nas mãos e, ao ler a primeira página, senti vontade de lê-lo até que
acabasse.
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Fiquei absolutamente
surpreso com a qualidade do texto e com a forma que escolheu para contar a
história, uma forma nada convencional e muito criativa. Em geral, tenho certa
má vontade com estruturas muito exóticas de ligar a trama, mas a maneira
escolhida por Fernanda foi muito instigante.
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Cheia de personagens, a
história não chega a confundir o leitor, graças à maneira marcante que cada um
deles tem lugar na trama. Se eventualmente acontecer, a dica é escrever na página
do índice, a lápis, o nome das mulheres e amantes de cada um dos 5 amigos que
fazem parte da história. Não cheguei a fazer isso, mas confesso que utilizei
este recurso na segunda releitura que fiz de Cem Anos de Solidão, de Gabriel
Garcia Marques, mas, naquele caso, eram muito mais personagens e quase todos se
chamavam Aureliano ou José Arcádio (na verdade, não escrevi no livro, o que acho
uma heresia, mas desenhei a árvore genealógica da família numa folha à parte).
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Para tratar de alguns
dos personagens, Fernanda Torres utiliza a narração em primeira pessoa e, aí,
revela um excepcional talento, já que faz isso com a mesma desenvoltura, tanto para
personagens femininas quanto masculinas. A morte é o mote do livro, o que não
quer dizer que a história seja fúnebre, muito pelo contrário. A autora usa a
morte para celebrar a vida de cada uma das personagens, tenha sido ela aquilo
que elas quiseram viver, tenha sido ela uma desilusão.
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Enfim, é um livro que
me surpreendeu tanto, que ficarei a espera de outra publicação sua e estarei
mais atento a seus textos na Folha. Provavelmente, entretanto, continuarei a
não dar muita atenção aos filmes de que participa.
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