Mario Vargas Llosa é um
escritor peruano muito profícuo, que também se aventurou pela política. No campo político tem um pensamento bastante conservador, o que pode ser percebido através
da leitura de sua coluna no jornal espanhol El País. É como contador de
histórias, entretanto, que se expressa de forma mais proveitosa.
Uma das características
que mais me encantam em sua prosa é a capacidade de dosar o erotismo com
elegância e ardência, ao mesmo tempo. Tive meu primeiro contato com isso há
mais de 40 anos, lendo Pantaleón e as
visitadoras e com Travessuras da
menina má, há menos de 10 anos. Em ambos, o erotismo era um ingrediente
utilizado com sabedoria. Exatamente entre estas duas obras, escreveu Elogio da madrasta, que eu só vim a ler
agora.
Neste livro minúsculo, em
lugar do erotismo ser um ingrediente da história, é, na verdade, seu único e
principal tema. Apesar disso, consegue trabalhá-lo com diversos enfoques,
utilizando a técnica de alternar a narrativa da trama central, bem simples,
aliás, com interpretações criativas de quadros de Francis Bacon e Fra Angelico,
entre outros. Como a edição que li era um livro de bolso, não pude apreciar, de
forma apropriada, as obras de arte, mas isso não teve importância graças ao
velho amigo Google, que me salvou. Nesta página é possível degustar, em boa
resolução e em cores, as obras utilizadas no livro.
Quando digo que a trama
é bem simples, isso não quer dizer que a narrativa não seja soberba. Na
verdade, até mesmo um capítulo que ele dedica a temas escatológicos é escrito
com graça e engenhosidade.
Isso é Mario Vargas Llosa.
Quem dera todos os pensadores conservadores tivessem tanta perícia ao
escrever ficção.