Tem gente que é boa pra contar histórias. Tem gente
que é boa pra escrever. Alguns são ótimos pra fazer uma coisa e péssimos pra
outra. Outros são capazes de fazer as duas. Estes são os craques. Já os craques
da bola, regra geral, não têm nenhuma dessas habilidades, ao menos em público.
Alguns, entretanto, se arriscam e proporcionam, para quem está ouvindo ou pra
quem está lendo, momentos de prazer.
.
Li, ano passado, O jogo da minha vida, livro do zagueiro corinthiano Paulo André e
gostei muito. Aliás, gosto bastante da forma clara
como se expressa. Suas entrevistas são sempre lúcidas e suas respostas, em
geral, mais interessantes que as perguntas dos jornalistas. Na
escrita também se saiu bem. Ler seu livro é muito prazeroso, principalmente pra
quem gosta do futebol. Talvez até pra quem não ligue. Muito bem articulado, não
tenho dúvidas que Paulo André está bastante acima da média na comparação com os
boleiros em geral. Dentro de campo é normal. Não é um craque, mas carrega bem o
piano.
.
Um bom contador de histórias é o volante Vampeta,
campeão do mundo na copa de 2002. Suas entrevistas, em geral, são criativas e,
muitas vezes, hilárias. Talvez não se saia bem exercendo a escrita e, por
isso, recorreu a um expediente absolutamente lícito que foi narrar suas
histórias, no livro Memórias do velho Vamp,
para Celso Unzelte, professor de jornalismo, um craque na pesquisa e na
escrita. Se você resolver ler o livro, esteja consciente que não vai conseguir
parar. E quando terminar, ficará com vontade de ler mais.
.
Entre os ex-jogadores que comentam jogos na TV,
meu preferido é o Casagrande, ídolo da torcida e da democracia corintiana. Suas
intervenções são lúcidas e me divirto muito quando ele discorda do Galvão
Bueno, deixando o autoritário narrador desconcertado. Embora escreva bem, ele
resolveu recorrer ao mesmo expediente de Vampeta, prestando depoimento ao
jornalista Gilvan Ribeiro, possivelmente pelo pudor de escrever sobre si mesmo.
Uma extensa campanha de marketing fez o livro Casagrande e seus demônios sumir das livrarias nas primeiras
semanas após o lançamento. Não consegui comprar o exemplar em papel e resolvi
estrear meu Kindle, fazendo minha primeira compra na Amazon brasileira. Paguei
a metade do preço. É o próximo que irei ler, assim que terminar K., que foi
indicado pela Cecília.
3 comentários:
Como a maioria das mulheres, não entendo muito da vida futebolística...rs... mas do pouco que vejo, percebo que a maioria dos jogadores não têm muita afinidade com a "arte de se comunicar".
Pela sinopse acabei ficando interessada no livro do Vampeta, que parece ser o mais descontraído de todos. Quem sabe eu encaro a leitura!
bjoks
Você não citou o Tostão, um desses craques na escrita! Mas ele é hors-concours... certo?
bj,
Clé
Pois é, Li. Na verdade, os 3 livros que eu citei, nesta exata ordem, podem interessar mais pra quem não curtem futebol. Se este é seu caso, não recomendo o livro do Paulo André, já que trata quase exclusivamente da arte deste esporte.
Além de ser hour-concours, Clé, o Tostão entrou nesta coisa de escrever e comentar, muito tempo depois de ter deixado de ser jogador. Entre um momento e o outro, ele foi estudar medicina, praticamente se retitou do ambiente futebolístico e só retormou muitos anos depois. Na verdade, é como se fosse outra pessoa.
Postar um comentário