Uma das coisas que um feriado prolongado pode
proporcionar é a ida ao cinema de maneira plena, quase excessiva. É difícil
este exercício em Campinas, onde impera a exibição de blockbusters nas centenas
de salas contidas nas dezenas de shopping centers da cidade. Não há
alternativa. Pra ter verdadeira variedade de filmes, é preciso ir pra São
Paulo.
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Supus que o feriado tornaria o trânsito naquela
cidade mais ameno. Ledo engano, estava impossível. A quantidade de carros era
inacreditável, tornando realidade que o preço do estacionamento chegue a 14
reais por meia hora. De qualquer forma, apesar do valor extorsivo dos
estacionamentos e, também, das entradas do cinema (25 reais, uma inteira!),
logramos assistir a 2 filmes que, se acaso estiveram em alguma sala de Campinas, isso
não durou mais do que 1 semana.
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O primeiro foi o filme canadense O que traz boas novas (Monsieur Lazhar), do diretor Philippe
Falardeau. Uma leitura superficial da sinopse poderia sugerir tratar-se de mais
uma daquelas histórias de professor e alunos, no estilo “Ao mestre com carinho”, com
uma sala de aula, cheia de jovens desajustados e que são convertidos em
pequenos gênios, graças aos métodos diferenciados de algum professor
iluminado. Coisa de ficção científica. Uma leitura atenta da sinopse,
entretanto, indica que não é este o caso. Muito pelo contrário, aliás,
percebe-se ao assirtir ao filme. Neste caso, os alunos são absolutamente
ajustados, nada indica que tenham grandes problemas sociais, mas a tela mostra
que este equilíbrio não é garantia de uma rotina sem conflitos.
De uma
delicadeza cirúrgica, o filme, entre outras coisas, desnuda o conflito entre
ensinar e educar, questionando a função da escola e a dos pais. E, nesta questão, o
principal mérito do filme é o de nem ao menos sugerir uma resposta para ela. Há, ainda, que se ressaltar o
exelente desempenho do ator protagonista e os de duas das crianças que
interpretam seus alunos. De arrepiar.
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O segundo filme que assistimos, logo em seguida,
foi o brasileiro Hoje, de Tata Amaral
com Denise Fraga e o ator uruguaio Cesar Trancoso. Muito mais tenso que o
primeiro, o filme trata das marcas deixadas nas pessoas que sofreram
torturas no regime militar, mesmo depois de muito tempo passado. A diretora
escolhe uma forma de condução da narrativa nada usual e que confere ao filme,
em alguns momentos, uma morosidade incômoda. Incômoda, porém, é a realidade na
qual viveu o país por 20 anos e da qual não está conseguindo se livrar, por
total incapacidade de expiar suas culpas.
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E falando em culpa, para explicar o
título dete post, é necessário dizer que a forma de lidar com a culpa é a única
coisa comum a dois filmes tão diferentes, tanto na temática quanto na maneira
de conduzir a direção. A culpa (e o jeito de lidar com ela) é o elo de ligação
destas duas histórias tão distintas. E mais não vou falar, para que, quem tiver a
oportunidade, possa assisti-los. A ambos.
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Em tempo: Acho que mudaram o material da embalagem
dos sacos de pipoca, nos cinemas. Parece algum tipo de papelão grosso. O que
sei é que isso produz um ruído insuportável na sala de projeção. E como os
sacos são imensos, o ruído é interminável. As pessoas, tudo indica, vão mais ao
cinema para comer do que para assistir a um filme.
Um comentário:
Seus textos, como sempre, impecavelmente escritos!
Bim, infelizmente, não terei a oportunidade de assisti-los. Se você sente dificuldade em achar esses filmes em campinas... Imagine eu aqui onde estou. As vezes nem os blockbusters chegam... Estarei em sp no final do mês, quem sabe consigo pegar algo ainda. Queria ver esse primeiro filme. Parece ser muito bom.
Bjs
(eu nao tenhi conserto - assinando como anônimo porque ainda não consegui desvendar os mistérios de como usar o meu celular corretamente... Rs)
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