Se, por brincadeira,
alguém pedir pra eu escolher um, apenas um, dentre os meus letristas de música
preferidos, este inquiridor ficará sem resposta. Julgo-me absolutamente incapaz
de sacar apenas um nome de uma relação que tem Noel Rosa, Orestes Barbosa, Chico
Buarque, Fernando Brant, Vitor Martins, Cacaso, e muitos, muitos outros mais.
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Se a coisa não fosse
brincadeira, se eu tivesse, mesmo, que escolher um nome, sob ameaça contra a
vida, até por instinto, teria que abdicar de certos pudores e reduzir a lista
até chegar a um nome. E este nome único seriam dois: Paulo César Pinheiro e
Aldir Blanc. Isso mesmo. Ambos são meu letrista preferido na música brasileira,
por mais que a sintaxe desta frase soe errada. Nunca tive qualquer dúvida a
este respeito e isso acabou de ser reforçado após ler o livro Aldir Blanc, Resposta ao tempo – Vida eletras, do jornalista Luiz Fernando Vianna.
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Sem se preocupar
estritamente com dados precisos e dando maior valor aos acontecimentos sob o
ponto de vista da lembrança de pessoas entrevistadas, mesmo que apresentem
falhas, o que valeu, mesmo, foi alinhavar os fatos às sensações do poeta e
perceber como elas foram, no decorrer de sua vida, construindo sua poesia. Servindo-se
de alguns versos de suas inúmeras obras-primas, o livro vai encadeando os
períodos do tempo, formando uma biografia do letrista na qual a própria
história da nossa música vai se construindo, numa quase confusão em que conter
e estar contido se misturam, como acontece na vida real. Aldir Blanc, aliás, é o mais competente
cronista da nossa música atual, como já fora, no passado, Noel Rosa, por
coincidência (ou não), também oriundo de Vila Isabel.
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Aldir é um sujeito
recluso, não é dado a manifestações de estrelismo, não é uma celebridade. Por
isso é esquecido pela mídia, até mesmo por que não compactua com seu jogo. Por
esse motivo, o livro trata até dos momentos difíceis de sua vida sem a
dramaticidade que, certamente, venderia mais livros. Mesmo o episódio do
afastamento entre Aldir e João Bosco é tratado de maneira natural e sem alarde,
como eles mesmos, os protagonistas, preferem tratar. Este assunto é o que mais
me interessava quando comecei a ler a biografia, não por gostar de fofocas, mas
pelo fato de que este afastamento provocou em mim uma sensação de orfandade, já
que me privou de continuar recebendo, através dos discos, o tipo de música que
mais me fascinava naqueles tempos.
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O fim da parceria entre
Aldir Blanc e João Bosco me causou, num primeiro momento, a sensação de que
nenhum dos dois, compondo com outros parceiros, conseguiria arrebatar minha
emoção no mesmo nível que o fizeram quando compunham juntos. Esta sensação
perdura até hoje em relação a João Bosco, mas Aldir Blanc conseguiu continuar a
me surpreender e me encantar com letras feitas com outros parceiros, sobretudo Guinga
e Moacyr Luz.
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Não importa que sua
música não venda tanto quanto as bobagens que habitam a nossa mídia. Para mim,
ele continua sendo o primeiro de todos, mesmo que empatado com outro.
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Notas musicais:
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1 - Na contracapa do
livro, Guinga diz: “Aldir não escreve, presta depoimento”. Acredito que este
samba, feito em parceria com João Bosco, seja bastante emblemático desta forma
de fazer letra que tanto me encanta.
Siri Recheado e o cacete (João Bosco e Aldir Blanc) – João Bosco
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2 – Ao lado de um grande senso de humor e picardia, Aldir é, também, hábil com as palavras ao desvendar as amarguras do ser humano, como nesta belíssima canção, composta em parceria com Guinga.
Catavento e Girasol (Guinga e Aldir Blanc) - Guinga
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3 – Com Moacyr Luz, Aldir conseguiu atingir o mesmo grau de perfeição ao compor sambas, como este.
Pra que pedir perdão? (Moacyr Luz e Aldir Blanc) - Moacyr Luz e Aldir Blanc
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