Considere um disco em que participem dois artistas
que cantem muito mal, um deles com um timbre quase insuportável e o outro que
chega a desafinar. O que poderia salvar um disco assim? Talvez um repertório
impecável ou uma execução instrumental primorosa ou, então, arranjos ótimos. Talvez
nada disso consiga salvar o disco. Quem sabe, tudo isso, ao mesmo tempo,
possa ser capaz da redenção.
.
Pois é justamente isso o que ocorre com o disco
Francis e Guinga, em que a deficiência na qualidade vocal destes dois excelentes
compositores, arranjadores e instrumentistas, é suplantada por suas virtudes.
.
No disco, suas sofridas vozes são acompanhadas
pelos mais belos acordes produzidos ao piano por Francis Hime e pelo violão de
Guinga. São dois craques cantando juntos, um, as músicas do outro, ora em
conjunto, ora sozinhos, se autoacompanhando ou acompanhado pelo parceiro.
.
Francis e Guinga são dois artistas ímpares. Suas
composições e a forma de executá-las em seus respectivos instrumentos são
únicas. Você pode não conhecer uma canção, mas se ela for de Guinga ou de
Francis Hime, mesmo que seja a primeira vez que você a ouve, saberá quem é o
autor. E isso não quer dizer que eles sejam repetitivos. Muito pelo contrário.
Suas obras são tão complexas e tão especiais que à primeira audição já se sabe
que aquela melodia, com tanto requinte, só pode ter saído da mente daquele
artista.
.
Francis e Guinga é um daqueles discos que a gente
compra com a certeza de que vai gostar. Não é necessário ouvir previamente as
faixas, nem ver o repertório, nem a foto na capa. Basta saber o nome do disco,
procurar na loja, ir ao caixa e pagar. Pelo menos, foi isso que aconteceu
comigo.
.Noturna (Guinga e Paulo Cesar Pinheiro) / Minha (Francis Hime e Ruy Guerra)
3 comentários:
O caminho é mesmo se concentrar no violão e piano e tentar abstrair as desafinações. Talvez, na terceira audição, a gente já se acostume, como acontece com tantos outros compositores desavisados que cometem o desvario de cantar. Mas, nessa primeira audição, não há como não lamentar as vozes que quase atrapalham músicas, arranjos e execução tão geniais.
Cecília
Quando eu soube que o disco tinha saído, pensei que seria só instrumental. Até torci para isso. Mas, apesar das vozes, vale a pena pois as letras também são ótimas. Afinal, nos CD tem letras de Paulo Cesar Pinheiro, Vinícius, Chico Buarque, Ruy Guerra... Mais um sinal de que o disco é bom.
Oi Arnaldo!
Tomei a liberdade de citar seu blog no meu post. Espero que não se importe!
bj
Postar um comentário