“A violência é a
parteira da história” é um dos aforismos mais citados de Karl Marx e,
possivelmente, o mais mal interpretado. Por estar presente justamente no capítulo
de O Capital, que fala sobre a
acumulação primitiva, esta frase, muitas vezes, é interpretada como uma
incitação à violência, cujo intuito seria disseminar o ódio de classe para
mover a luta pelo poder. Mais do que uma incitação à violência, esta é nada
mais que uma constatação de como as sociedades têm se transformado ao longo da
história.
Pois é exatamente à
clarificação desta constatação que se presta o livro A história do mundo para quem tem pressa, da historiadora britânica
Emma Marriott. Nem mesmo um historiador imbecil ou irresponsável (o que não é o
caso), imaginaria ser possível resumir 5 mil anos de história em 200 páginas.
Apesar do que está grifado como subtítulo em sua capa, esta tarefa é tão
obviamente impossível que ninguém pode acusar a editora de propaganda enganosa.
O maior (se não o único)
mérito do livro é expor a história da civilização e suas transformações através
de uma linha do tempo, pontuando seus principais acontecimentos com causas e
consequências, sem a preocupação de se deter em detalhes ou análises mais
elaboradas. Com isso, não tece nenhum juízo de valor e, portanto, consegue o
distanciamento perfeito que toda análise histórica deveria ter.
O livro tem início nos
anos 3.500 antes da era cristã, discorrendo sobre os antigos impérios, em todos
os continentes. Passeia pela evolução dos primeiros impérios europeus, os novos
impérios, a era dos descobrimentos e termina às portas da eclosão da segunda
guerra mundial. Não passa deste período, justamente para preservar o
distanciamento já citado.
Nesta exposição, fica
muito claro que todas as transformações pelas quais passou a organização da
espécie humana, nos quatro cantos do mundo, tiveram como instrumento a
violência, o que acaba por corroborar a afirmação de Marx.
Nas poucas páginas do
livro, só há duas passagens em que a autora cita o Brasil. Uma delas é a
respeito dos efeitos que a grande depressão da década de 1930 provocou no país,
citando Getúlio Vargas, que ela define como alguém que “embora governasse como
um ditador, modernizou o Brasil, com reformas fiscais, educacionais e agrárias,
melhorando assim as condições de vida dos pobres”. A outra passagem é para
informar o vergonhoso fato de termos sido a última nação do ocidente a abolir a
escravidão.
Enfim, um livro leve e
que se consegue ler rapidamente, mas sem pressa.
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