Certa vez comentei com
um amigo que era impossível viver com uma mulher que não gostasse de João
Gilberto. Nem me lembro se ele concordou comigo, mas isso pouco importa. O que
importa é que eu realmente acreditava nisso naquela época e, talvez, ainda acredite
hoje.
Sei que há pessoas que
não gostam de João Gilberto e há, aliás, quem o odeie. Tenho muita dificuldade
em entender isso, assim como tenho a mesma dificuldade em entender como alguém
possa gostar destas duplas modernas de música sertaneja ou da chamada música techno.
Esta minha dificuldade deve-se, muito provavelmente, à escolha errada do verbo.
Em lugar de entender, eu estou pensando em sentir.
O maior defeito que as
pessoas apontam em João Gilberto é que suas gravações, assim como as
apresentações ao vivo, são muito longas e que ele repete as músicas muitas
vezes, o que torna a audição enfadonha. Não sinto assim. Consigo perceber, em
cada repetição, alterações sutis na harmonia, enriquecendo a execução de cada canção.
Minha convicção, aliás, é que cada alteração, se não é planejada, surge de uma
busca do novo, da perfeição.
João Gilberto tem hoje
84 anos, vive recluso num apartamento no Rio de Janeiro, esquecido por todos,
até por mim, talvez. O que me fez lembrar dele foi o livro Ho-ba-la-lá, do
jornalista alemão Marc Fischer, que juntou algumas economias e viajou ao Brasil
com a intenção de encontrar-se pessoalmente com João Gilberto, mesmo sabendo
que esta empreitada é inglória. Nesta tentativa, acabou se encontrando com
vários personagens que gravitam ou gravitaram em torno do cantor, o que ia enriquecendo
o rol de informações que tinha do artista, seu ídolo.
Com isso, no livro, vão
se desvendando facetas, algumas conhecidas, outras inéditas de João, numa
narrativa que instiga a curiosidade do leitor pra saber se ele irá, ou não,
atingir seu intento.
Se ele conseguiu, não
sou eu quem vai contar. Não sou estraga prazeres.
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