Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Mais do mesmo

Pessimista que sou, fui instado a pesquisar, por certa expectativa que percebi, em dois grandes amigos, a respeito do Partido Novo e do Partido Raiz. Mais do que por esperança, o que me moveu foi a convicção de que estes amigos, apesar de militarem em campos distintos, do ponto de vista ideológico, são, ambos, pessoas de boa fé e, mais do que isso, absolutamente abertos ao debate lúcido com as opiniões divergentes.

Antes de qualquer coisa, tenho que confessar que não conhecia nenhuma das duas propostas e, por isso, fui diretamente às suas páginas oficiais, para conhecê-las. Apesar de, rapidamente, perceber em cada uma delas a posição no espectro ideológico que os orienta (o Novo à direita e o Raiz à esquerda) o que identifiquei de mais importante foram as similaridades entre os dois e não as divergências. E estas similaridades, infelizmente, não representam virtudes, sob o meu ponto de vista.




A primeira similaridade é o primarismo da mensagem. Ambos se apresentam como um movimento quase apolítico (como se isso fosse possível) e como se fossem detentores de ideias novas e inéditas.

O Novo, basicamente, defende o individualismo como agente de mudanças políticas e o mercado como agente regulador da economia.  Nenhuma diferença entre o que propõe o DEM e o que defendia o PFL ou o PDS, seus antecessores. Uma investigação mais minuciosa nos valores expostos no site, entretanto, revela uma profusão de propostas pueris, dignas de um TCC. Frases como “acreditamos no valor fundamental das liberdades individuais, incluindo direitos e deveres” são evidências do que estou dizendo. Ressalta o vigor com que defende a igualdade perante a lei, mas não dedica nenhuma palavra sobre algum instrumento que garanta igualdade de oportunidades a todos.

O Raiz, basicamente, propõe o rompimento com o individualismo e defende uma política que privilegie os interesses coletivos. Sua orientação é guiada por um documento chamado Carta Cidadanista, cujo teor, apesar de recheado de nobres intenções, não apresenta nada que já não esteja contido nos documentos originais do PT ou dos partidos oriundos das dissidências petistas mais autênticas, como o PSOL. Faz uso de um discurso ambientalista que não difere do utilizado pela REDE de Marina Silva, numa clara intenção de “roubar-lhe” um espaço neste mercado, em moda. E, quando explicita o método de decisão interno, cita um tal de consenso progressivo que nos faz imaginar aquelas incansáveis discussões de centros acadêmicos universitários onde a vaidade tem muito mais valor do que qualquer resultado prático.

A maior similaridade entre os dois, entretanto, reside na insistência em se apresentar como um movimento e não um partido político, o que, em si só, já representa uma tentativa de embuste da opinião pública. São (ou serão) 2 partidos políticos e, com eles, teremos 34, no total. Isso me parece um exagero. O discurso dos dois é que se tratam de movimentos (eu chamaria de agremiações) de pessoas cansadas dos políticos corruptos e desonestos que existem nos outros 32 partidos, como se o discurso fosse, por si só, garantia de que nestes dois novos (novos?) não haverá nenhuma pessoa corrupta ou desonesta.

Não precisamos de 34 partidos políticos, até porque não existem 34 formas diferentes de enxergar o país (nem mesmo o mundo). O que precisamos é de partidos mais programáticos e menos personalistas. De partidos mais ideológicos, dentro dos quais, quem estiver em desacordo com a direção, lute, com argumentos, para derrotar as posições contrárias, em lugar de sair (ou seria fugir?) e fundar uma nova agremiação. Quando isso ocorrer, teremos, talvez, no máximo, 5 partidos, o que cobrirá todo o espectro político ideológico, com intersecções. E, neste caso, que cada partido aprimore suas ferramentas internas para extirpar o que houver de mal dentro dele. Se a solução continuar sendo a fundação de novos partidos, logo teremos 70.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Lidando com os monstros

Na sede de ler livros de história e política, acabo, displicentemente, lendo menos livros de ficção e literatura do que eu deveria. Se com os livros de história e política eu obtenho informação, fundamental para eu entender melhor o mundo, é a literatura que me provoca as reflexões necessárias para que eu possa entender a mim mesmo.

Após terminar de ler 1822, o segundo da trilogia do Laurentino Gomes, resolvi ler ficção e fui procurar algo na estante. Eu poderia optar por algum do Moacyr Scliar ou do Cony, apostando, portanto, que iria me satisfazer. Queria, entretanto, alguma coisa nova pra mim, um autor que eu não conhecesse, queria assumir algum risco. Escolhi A Suavidade do Vento, de Cristóvão Tezza.

Diferentemente do Moacyr Scliar ou do Cony, em que os primeiros parágrafos já costumam me enfeitiçar, o texto de Cristóvão Tezza demorou para engrenar e me conquistar. O lado positivo desta característica, porém, é que a conquista foi acontecendo aos poucos e, no ápice, me ganhou por completo.

O livro trata, sobretudo, de como temos, todos nós, que lidar, diariamente com nossos monstros, bichos criados por nós mesmos e o quanto é importante, mais do que tentar matá-los (tarefa impossível), aprender a conviver com eles.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Mais um pedaço da história

O livro 1822, diferentemente da obra anterior de Laurentino Gomes, não conduz a história pela via temporal. Em lugar disso, trata a independência do Brasil a partir das principais personagens e das passagens mais pitorescas que envolveram o evento. Nem por isso é inferior ou menos delicioso de ler que o antecessor. Muito pelo contrário, esta forma distinta de conduzir a narrativa traz um sabor todo especial para quem tem interesse nesta importante etapa da construção do nosso país.

O maior mérito do livro é o de desfazer alguns mitos, começando com as condições e o ambiente em que ocorreu a proclamação da independência. A primeira informação é a de que no fatídico dia 7 de setembro, a situação intestinal do futuro imperador era absolutamente desconfortável, o que o obrigava a interromper, sistematicamente, a viagem de Santos a São Paulo, para aliviar-se no denso matagal que cobria as margens da estrada. Além disso, por uma questão de conforto, D. Pedro montava uma mula, nem de longe parecida com o exuberante cavalo que Pedro Américo pintou no famoso quadro Independência ou morte, 50 anos depois.


Outro mito desfeito pelo livro é o de que a independência foi um movimento pacífico. Na verdade, o que Laurentino mostra é que muita gente morreu, tanto do lado português quanto do brasileiro, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde algumas batalhas bastante sangrentas foram travadas.

Apesar da personagem principal, evidentemente, ser o imperador, o livro dedica capítulos a outras importantes figuras como a princesa Leopoldina, José Bonifácio, o Chalaça e a Marquesa de Santos. E trata de questões emblemáticas como a questão do Dia do Fico, da constituinte e da influência da maçonaria na independência.

Por fim, mostra como o imperador, apesar de um homem iletrado, quase bronco, teve habilidade política para conseguir apoios, principalmente no Nordeste, onde dominavam os poderosos senhores de engenho de açúcar, comprometendo-se com eles de que não iria acabar com a escravidão, apesar de ser, tanto ele quanto Bonifácio, convictos abolicionistas.

Apesar de não ser historiador, Laurentino Gomes trata a história com muita honestidade, pesquisando incansavelmente os dados, que, aliada à qualidade do texto, proporciona aos aficionados por história, como eu, uma leitura sempre prazerosa.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Grupo vocal com graça

Quem acompanha o que eu escrevo no blog sabe que eu gosto de conjuntos vocais. Sabe que prefiro os conjuntos masculinos e minhas referências são, nesta ordem, o MPB4 (de antes da saída do Ruy), Os Cariocas e o Boca Livre. Não sou muito fã de grupos vocais femininos, mas apreciei os grupos mistos como o Céu da Boca ou o Garganta Profunda.

Fazia tempo que não surgia um grupo vocal novo que me chamasse a atenção e eis que, este ano, tomei conhecimento do Ordinarius, do Rio de Janeiro. Seu som tem pouca intrusão instrumental e, quando tem, é quase sempre apenas percussiva.

O que traz de novidade, entretanto, é que, aliada a uma excelente qualidade vocal, eles capricham bastante nuns vídeos postados em sua homepage. São sempre graciosas as apresentações.

Seu primeiro CD, lançado em 2012, traz um repertório bastante diversificado, e de muita qualidade. Agora, saiu um novo CD, chamado Rio de Choro, bem interessante, também. Prefiro, entretanto, o primeiro.


Enfim, pra quem aprecia a música vocal bem executada e, também, a música brasileira de primeira qualidade, ouvir o grupo Ordinarius é garantia de ter as duas coisas reunidas.