Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 21 de agosto de 2016

A Pior dor

O jornalista Edney Silvestre é um dos mais competentes que eu conheço. Como correspondente internacional da Rede Globo, cobriu, de maneira muito eficiente, o atentado às torres gêmeas do World Trade Center, em 2001. Além disso, fez reportagens especiais sobre o Iraque, antes da queda de Sadam Husein, em 2013, que tiveram grande repercussão. Suas entrevistas, entretanto, são sua faceta jornalística que eu mais admiro. Já tive oportunidade de escrever, aqui, sobre seu livro de entrevistas Contestadores. Ele apresenta, na TV por assinatura, o programa Globo News Literatura, uma vez por semana, em que entrevista pessoas ligadas aos livros, assunto sobre o qual demonstra muita intimidade.

Talvez por isso, por esta intimidade, revela-se, também, um escritor de ficção bastante respeitado, faceta, a qual, só agora eu tive oportunidade de conhecer. Seu primeiro romance, Se eu fechar os olhos agora, arrebatou, nada menos, que o Jabuti, o mais importante prêmio literário brasileiro, em 2010. Mas foi através de outro livro, Vidas provisórias, que vim a conhecer Edney Silvestre como escritor.

Com muita habilidade, ele mostra, neste livro, a vida de dois exilados brasileiros. Um deles, nos anos de chumbo, início da década de 1970, exilado pela ditadura militar, depois de sofrer fortes sessões de tortura nas masmorras do regime. O outro, já com o país politicamente democratizado, no início dos anos 1990, fugindo da situação econômica cruel a que foi submetida a classe média baixa no nosso país.

Com estas duas narrativas acontecendo de forma paralela, apesar da distância no tempo, Edney insere outros personagens típicos daquelas duas épocas do Brasil, cada um lidando com suas próprias ferramentas para afugentar seus fantasmas e suportar suas agruras. Apesar de se tratar de épocas diferentes e de dramas distintos, Edney consegue mostrar que os martírios das pessoas não são passíveis de comparação. A pior dor é a que sentimos agora.

Gostei tanto do livro que, ao terminar de lê-lo, corri para comprar seu romance de estreia. E ele já está na imensa fila entre os próximos que pretendo ler.



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