Quando eu era moleque e queria andar de bicicleta, a solução era pedir pra quem tivesse que me deixasse andar. Simples assim. Quando ele deixava, bastava pegar a magrela, pedalar pelas ruas do bairro e devolvê-la depois.
Se ele não deixasse, era bem simples também. Bastava ameaçá-lo:
- Se não me deixar andar, eu te dou uma porrada!
A coisa só se complicava se ele, mesmo assim, continuasse negando. Aí, não havia outra alternativa, a não ser, cumprir a ameaça. Se não cumprisse, ficaria desacreditado no bairro e nunca mais poderia andar de bicicleta.
Se ele não deixasse, era bem simples também. Bastava ameaçá-lo:
- Se não me deixar andar, eu te dou uma porrada!
A coisa só se complicava se ele, mesmo assim, continuasse negando. Aí, não havia outra alternativa, a não ser, cumprir a ameaça. Se não cumprisse, ficaria desacreditado no bairro e nunca mais poderia andar de bicicleta.
Não era só eu que fazia isso. Toda a molecada fazia. Era a lei da rua. E todo moleque era esperto o suficiente pra só ameaçar alguém em que pudesse bater, alguém mais fraco ou mais covarde. Todo moleque esperto sabia que não podia ameaçar alguém mais forte ou mais corajoso. E se não soubesse disso e cometesse esse erro, levava ele, umas porradas e aprendia rapidinho.
Quando eu ganhei, do meu pai, a minha bicicleta (uma gloriosa bicicleta Tigrão), passei de algoz a vítima. Aí, tive que aprender a não negar um passeio de bicicleta a quem fosse mais forte ou mais corajoso que eu. A vida era assim. Bem simples. Quem era mais forte vencia quem era mais fraco. E quem era mais fraco, pra não apanhar, recebia ajuda do irmão mais velho ou até do pai. E se não tivesse jeito, continuava apanhando, até crescer ou criar coragem.
Não fique escandalizado com isso, por favor. Isso pode não acontecer com seu filho que mora num condomínio e vai pra escola de transporte escolar. Mas, no meu tempo, era assim que as coisas funcionavam e, tenho certeza, ainda funcionam nos bairros da periferia.
Estou pensando nisso, pra entender melhor essa coisa que está acontecendo na faixa de Gaza. Eu digo coisa, pois já li tanta gente chamando de tanto nome diferente que fica difícil saber como chamar. Guerra, conflito, reação desproporcional, ofensiva, retaliação, enfim, acho que vou chamar de massacre, mesmo.
Pois bem. Vamos fazer de conta que eu acredito, homem de boa fé que sou, em tudo o que sai nO Globo, na Veja, na Folha de São Paulo, e em 99% da mídia instituída. E vou fazer de conta que não haja toda uma realidade histórica embasando essa coisa. Afinal, se toda a mídia está desprezando a história pra veicular as notícias e, principalmente, as análises, eu também tenho direito a este desprezo. Ou, então, vou fazer de conta que não sou um adulto e que raciocino como moleque, já que tem muito moleque sendo atingido naquela região.
Sendo assim, baseado na informação que recebo, eu poderia fazer uma associação com meu tempo. O Hamas jogou umas pedrinhas no terreno de Israel. Israel, que é muito mais forte, joga uma tonelada de pedras em Gaza, sem se importar com quem esteja brincando no quintal. Joga mais pedras no hospital, na escola, no parquinho, enfim, fica mais de vinte dias jogando pedras, machucando gente, destruindo tudo, a tal ponto que, até quem não tem nada a ver com isso começa a se incomodar. Até que, um belo dia, a dona ONU vai até Israel e diz que é pra parar de jogar pedra em Gaza.
E é aí que as coisas se complicam. Pois a dona ONU pediu pra andar de bicicleta. E Israel não deu nem bola. Israel não quis nem saber. E agora, dona ONU? O que fazer? Não vai ameaçar? E se ameaçar e Israel não der pelota e continuar a jogar as pelotas em Gaza?
Que vergonha, dona ONU. A senhora foi até lá, e no dia em que estava lá, mandando eles pararem, onde foi que eles jogaram pedras? Num prédio da ONU!
Não vai fazer nada?
Olha bem. A molecada toda vai ficar falando:
A ONU não é de nada, só come marmelada.
6 comentários:
Nem marmelada come, Arnaldo. A parlenda, ali, talvez tivesse de começar com doce de chuchu. Abraço,
Ehh, Arnaldo, a vida podia ser bem mais simples se a gente não complicasse tanto as coisas.
PS:Que bom que voltou a escrever no Baú.
Também tô precisando encarar o teclado mais vezes.
[]x
Bonito. Gostei.
Demorei pra vir, mas vim. Minha visão ainda tá embaçada e tô ficando desesperada, mas ainda tenho fé.
Uma briga de gente grande, onde os interesses são mais ambiciosos do que dar uma simples voltinha de bicicleta.
Um cenário onde os valores aprendidos (ou não), quando pequenos, de nada valem agora.
As leis são outras e há mais atrativos a serem buscados - o que, para os envolvidos, justifica a omissão e a falta do uso de poder, para interromper os capítulos cruéis que afetam até quem não tem nada a ver com a briga e está muito longe da faixa.
Abraço
Parece então que Israel é o menino mais forte da rua. Aquele metido a brutammontes que bate em todo mundo. E ainda por cima, tem pai rico...
Mesmo depois do cessar-fogo, continuo achando que a dona ONU não é de nada.
Acho e sempre achei que a ONU é um cabide internacional de emprego para diplomatas e almofadinhas de todos os gêneros. Pouca gente faz valer a pena ali dentro. Um deles morreu no Iraque em 2003. O brazuca chamava-se Sergio Vieira de Mello.
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