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sábado, 2 de julho de 2016

Perspectiva histórica, sempre

O livro Lava Jato, de Vladimir Netto, acaba de ser lançado e já é candidato a um dos mais vendidos do ano. Eu não costumo me seduzir pelo fato de algum livro figurar em listas de mais vendidos (muito pelo contrário), mas não é por este motivo que não pretendo lê-lo. Nem mesmo o fato de, possivelmente, apresentar um texto exageradamente simpático a Sérgio Moro, o juiz pavão. Não, este não é o motivo que me deixará longe do volume. Nem mesmo o seu tamanho, já que 400 páginas é uma quantidade que está longe de me assustar (muito menos afugentar). O que me impede de me interessar pelo livro é a falta de perspectiva histórica, já que considero que este fenômeno vai ser muito melhor entendido quando historiadores, ou até mesmo jornalistas, se debruçarem sobre ele, daqui a 20 ou 30 anos, quando, provavelmente, já não estarei por aqui.

Só a perspectiva histórica pode nos proporcionar uma visão mais ampla e mais correta de todos os elementos que necessitamos para compreender um fenômeno como este. Somente daqui a 40 ou 50 anos é que se poderá entender o que foi que, realmente, motivou o processo pelo qual estamos passando hoje (e que, possivelmente, está longe de acabar). Talvez, daqui a 100 anos, se consiga saber se Sérgio Moro foi um juiz tecnicamente preparado para liderar o processo da Lava Jato ou se ele foi uma pessoa eticamente irrepreensível. Dificilmente será lembrado por estas duas virtudes ao mesmo tempo, a se basear nos atalhos jurídicos que andou tomando pelo caminho. Enfim, isso tudo, só a história dirá.

Por tudo isto que eu disse, estou muito mais excitado para começar a ler o quinto (e último) volume da coleção sobre a ditadura, escrito pelo jornalista Elio Gaspari.

O primeiro volume, lançado em 2002, trinta e oito anos após o início da ditadura, foi chamado A ditadura Envergonhada. Logo em seguida, vieram mais três: A ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Encurralada, que vai até a demissão do General Sylvio Frota do cargo de Ministro do Exército, fato que pavimentou a instalação do processo de abertura política, aquela que foi descrita como “lenta, gradual e segura”.

Este quarto volume foi lançado em 2004 e, na ocasião, Elio Gaspari declarou que não haveria um quinto livro, pois não tinha interesse na figura de João Batista Figueiredo. Na verdade, Elio Gaspari, pelo que me lembro, disse que desprezava este personagem.

Mas eis que, agora, 12 anos depois de publicar o quarto volume, sai o quinto, chamado A Ditadura Acabada, em que é narrado o final do regime. Não li absolutamente nada sobre o livro, mas isso não diminui, de forma alguma, a minha excitação para começar a lê-lo. Graças à perspectiva histórica.


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