Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Criticar virou pecado?

Alguns dias atrás, numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o artista Caetano Veloso disse algumas besteiras a respeito do presidente Lula, chegando a ofendê-lo, inclusive. Caetano Veloso falar besteira não deveria ser novidade pra ninguém e, por isso mesmo, eu não valorizo o fato tanto quanto a mídia o fez. Aliás, nem mesmo a sua mãe, sabiamente, concordou com ele. Chamou sua atenção em público, deu-lhe um merecido puxão de orelha. Isto não vai fazer Caetano Veloso deixar de falar bobagens, já que sua incontinência verbal parece ser uma patologia crônica. Tivesse aberto a boca para elogiar o presidente Lula ou para criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, provavelmente teria falado besteira, também. Afinal, a qualidade que lhe sobra ao lidar com as palavras, na forma poética, lhe faz falta quando as usa para emitir opiniões. É um pouco o que ocorre com Pelé, que não consegue, dando declarações públicas, nem mesmo um milésimo da qualidade que obtinha com a bola nos pés. Alguns artistas deveriam ficar sempre calados.

De qualquer forma, o que me tem incomodado, ultimamente, não é a opinião de artistas como esses, da música ou da bola. O que tem me incomodado é o quanto as críticas ao presidente Lula são recebidas como pecados imperdoáveis por uma parcela das pessoas que eu respeito.

Eu tomo sempre muito cuidado ao criticar o nosso presidente. Temo ser confundido com a maioria que o critica pelo fato de ser nordestino; por sua origem operária; por seus deslizes na língua portuguesa; por ter um dedo a menos, perdido num acidente de trabalho. Temo ser confundido com a horda de preconceituosos que desprezam o povo brasileiro e adoram não fazer parte dele, embora dele dependam para limpar suas latrinas, varrer suas calçadas, servir os copos de chope que tomam em restaurantes requintados ou em botequins imundos.

Não aceito, entretanto, que o medo de ser confundido com os beócios me impeça de criticar aspectos de seu governo com os quais não concordo, como a sua capacidade infinita de se compor, politicamente, com qualquer exemplar da fauna brasileira. Não me tomem por ingênuo. Sei muito bem que composições políticas são absolutamente necessárias para sustentar a governabilidade. Sei também, entretanto, que o que baliza, minimamente, uma conduta política apropriada é a existência de limites e critérios na elaboração destas composições.

Nunca fui petista, mas isso não me impede de reconhecer inúmeras virtudes do atual governo. Este reconhecimento, entretanto, não embota minha visão e nem deve bloquear minha capacidade de identificar erros na atuação de Lula.

Não tenho nenhuma simpatia particular com qualquer partido. Esse tempo, pra mim, já passou. Foi uma época em que eu nutria, ainda, alguma crença na espécie humana. Como não a tenho mais, faço questão de preservar, ao menos, a liberdade de elogiar e criticar, quem quer que seja, sem sentir-me um pecador.

2 comentários:

jayme disse...

Arnaldo, entendo perfeitamente o que vc diz e faço minhas as suas palavras (a não ser aquelas sobre a crença na espécie humana: talvez por ingênuo ainda nutro uma esperança).

Anônimo disse...

Blog com cara nova! Gostei.
Não ter fé......respeito
Não ter mais esperança.....critico
não crer mais na espécie humana....duvido!
( todas são suas afirmações!)
O que vc tem para o dia seguinte?
abraços
Manuel