Devido ao
meu apego às eleições, do qual já falei anteriormente, neste período de
campanha política eu me sinto muito estimulado a debater e isso acontece desde
sempre. Desde quando ainda não havia redes sociais (sim, garotos, já houve um
tempo em que não existiam redes sociais como as de hoje). Em outras épocas se
debatia nos bares, na universidade, na fábrica e, em todos estes ambientes,
gostei, sempre, de debater e expor meu ponto de vista.
Debater
nestes ambientes, aliás, sempre me pareceu mais saudável do que o que acontece
agora. A primeira diferença é que os debates eram preponderantemente baseados
em argumentos. Hoje, você coloca um argumento na rede e, recebe, de volta a
expressão: “não concordo!”. Aí, fica esperando a próxima mensagem, com o
contra-argumento, mas ele não chega.
Pode
receber, de volta, o desenho de uma bonequinha dançando de havaiana ou a sigla
e o número de algum candidato. Quando muito, recebe, do interlocutor, uma
mensagem absolutamente desconectada do tema que foi proposto. Acho que está
ocorrendo uma dislexia generalizada nas pessoas. Elas não estão conseguindo
concatenar as ideias ou formular frases minimamente relacionadas a um tema
específico, sem falar da estupidez que é a utilização da agressividade como
ferramenta de argumentação.
Como
sempre faço em épocas de eleição, eu estava preparado para debater, utilizando,
como base, meus estudos, valores e reflexões, ou seja, tudo aquilo que constrói
as nossas convicções e embasam nossos argumentos.
Estava
preparado para debater com os petistas, não utilizando aqueles argumentos de
que só o PT praticou corrupção, que em seu governo a corrupção foi maior do que
nunca, de que no regime militar isso não ocorria e outras tolices, pois, nesta
esparrela só caem os muito ingênuos ou os mal-intencionados (aliás, terei,
eternamente, a dúvida de qual destas duas categorias é mais nociva para o mundo).
Meu debate com os petistas tem sido em outra direção. Tem sido na cobrança do
partido ter adotado, ao chegar ao poder, os mesmos procedimentos que sempre
foram a marca registrada daqueles que estavam à sua direita. No fato de, no
poder, Lula ter transigido tanto e atendido, tão fortemente, às demandas da
camada da população que, desde sempre, tem sido a mais favorecida. Por que é
que os inegáveis avanços sociais implementados foram tão tímidos?
Estava
preparado para debater com os tucanos e cobrar, deste partido, o distanciamento
monstruoso que foi promovido, em relação à sua ideia original. A continuidade
do uso da Social Democracia no nome desta agremiação que, hoje, é mais liberal
que o próprio DEM (ou PFL, ou PDS ou ARENA, tanto faz). Por traírem os ideais
de tucanos históricos como Mário Covas, Euclides Scalco ou José Richa (este,
aliás, foi traído pelo próprio filho).
Estava
preparado para debater com eleitores de Marina e mostrar que seu discurso é
sempre vazio e inconsistente. Este debate, aliás, nem seria necessário pois,
como sempre, esta candidata acaba se transformando no próprio argumento contra
si.
Estava
preparado, até, para explicar para os eleitores de João Amoedo e de seu partido
(que de novo só tem o nome) que só quem nunca leu Aristóteles pode se
apresentar ao eleitorado como um “não político”. Afinal, o grande filósofo já
ensinou, há mais de 2.300 anos, que o homem é um animal político.
O que
eu não estava esperando é que teria que debater com as pessoas e afirmar (e
reafirmar) que sou contra a tortura, contra o racismo, contra a homofobia,
contra a misoginia, enfim, contra toda forma de violência que se possa praticar
a um ser humano.
Nunca
imaginei que teria que mostrar para as pessoas que não acho admissível um
candidato falar em eliminar (ao invés de vencer) um adversário.
Nunca
passou pela minha cabeça que eu teria que explicar que a democracia foi um bem
conquistado pela nossa sociedade à custa de derramamento de sangue,
assassinatos e desaparecimento de pessoas que tinham opiniões distintas de quem
detinha o poder no regime militar.
Enfim,
julguei (talvez ingenuamente), que estas coisas eram tão básicas, tão óbvias,
tão absurdamente evidentes, que não careciam de qualquer tipo de argumentação
para serem defendidas.
Esta
etapa da eleição, que se avizinha, deixou de ter um caráter apenas ideológico.
Não é, como deveria, matéria de qualquer tipo de argumentação. Nesta eleição, o
que está em jogo é uma escolha escandalosamente simples. É a escolha entre a
civilidade e a barbárie. E é assustador que ainda haja, na nossa sociedade, uma
dúvida como esta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário