Pululam na imprensa (e,
por conseguinte, na internet) editoriais, artigos e textos esparsos com o
discurso de que a disputa que se avizinha, após o próximo domingo, será entre a
extrema-direita e a extrema-esquerda. Até mesmo Ciro Gomes está pegando carona
nesta conversa, menos por convicção, mais por oportunismo (coisas de estratégia
política mesclada com desespero). Nada, porém, é mais falso do que este
discurso.
Posicionada à esquerda
do PT, encontramos uma enorme diversidade de agremiações (partidárias ou não)
e, mesmo dentro do partido, há um balaio com divisões e subdivisões que abrangem
um espectro inimaginável, de tão diverso. Há quem defenda que nem mesmo de
esquerda o PT pode ser classificado, mas, aí, já reside certo exagero.
À direita de Bolsonaro, não há nada nem ninguém.
Para quem prefere os
desenhos às palavras, basta imaginar um segmento de reta, na horizontal, e
visualizar o PT e uma enxurrada de outros agrupamentos como PSOL, PC do B,
PSTU, MST, MTST, entre outros, alguns próximos e outros mais distantes, mas todos
à sua esquerda. É possível enxergar, no outro extremo, um Bolsonaro solitário, bem
longe das outras agremiações conservadoras e sem ninguém, nem nada, à sua
direita.
A visualização desta
imagem mental é mais do que suficiente para perceber o quanto este discurso do
embate entre extrema-direita e extrema-esquerda é fantasioso (a quem tiver
dificuldade em visualizar figuras imaginárias, sugiro que desenhe).
Na minha juventude eu
me entediava com as intermináveis discussões nos centros acadêmicos entre
stalinistas e trotskistas, evocando figuras emblemáticas do pensamento de
esquerda com discursos repetitivos e desconectados da nossa realidade. Eram
discussões inúteis, mas ficava muito clara a posição de cada grupo na tal linha
imaginária. Chegava a ser divertido (muito menos divertido, entretanto, era o
que se passava nos porões do regime).
O pessoal mais jovem
não vivenciou essa realidade, e, talvez por isso, este discurso desproporcional
ganhe adeptos. É compreensível. Vejo, entretanto, muita gente da minha idade comprando
esta ideia da simetria entre os dois extremismos o que, aparentemente, mostra
que àquela época, não tomava conhecimento do que se passava à sua volta, que
dirá no país inteiro (seja na superfície, seja no subterrâneo).
Fico imaginando o que é
que essas pessoas ficavam fazendo na faculdade e, antes que alguém diga que
ficava estudando, devo esclarecer que, nessa idade, sempre tive energia para
estar antenado com o que ocorria à minha volta e, ao mesmo tempo, aprender a utilizar
as transformadas de Laplace (saudade daquela vitalidade!!!).
Não há nada de ilegítimo
em se situar à esquerda ou à direita. São posicionamentos absolutamente
pessoais, que eu respeito. A pessoa pode ser progressista ou conservadora, solidária
ou individualista. Pode acreditar num modelo de estado que atue para garantir as
mesmas oportunidades para todos ou num modelo em que o mercado ajuste as
discrepâncias sociais aos seus interesses. Tudo isso, repito, são posições legítimas
e pessoais. Depende dos valores de cada um.
As posições
extremistas, entretanto, mesmo as legalmente admissíveis (a escravidão, há 131
anos era legal, no Brasil), podem ser ilegítimas e não têm meu respeito.
Na realidade de hoje, o
extremismo está fortalecido de forma absolutamente assimétrica, apenas de um
lado.
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