No programa Fim de
Expediente, que acontece às sextas-feiras, na rádio CBN, quase sempre com um
convidado, o apresentador costumava fazer uma rodada de perguntas em que o
entrevistado tinha que optar entre duas alternativas: Beatles ou Stones? Grande
Otelo ou Oscarito? Bill Gates ou Steve Jobs? Spielberg ou Scorsese? E por aí
vai.
Uma das perguntas,
invariavelmente, era: Chico ou Caetano?
Sempre achei errada
esta pergunta. Em minha opinião, ela deveria ser: Chico ou Gil?
De qualquer forma,
tenho convicção de que estes três artistas são a real representação da geração
mais criativa que a nossa música já teve. Muita gente boa veio depois, mas
nenhuma chegou perto deles. E antes, também, tivemos artistas de altíssimo
calibre, dos quais eles souberam beber da fonte.
Rondando os 75 anos,
todos eles, há algum tempo não me empolgam seus discos com músicas inéditas. Não
está embutida aqui uma crítica e sim uma percepção. Beirando os 60, eu
compreendo, absolutamente, que, aos 75 anos, uma pessoa não esteja mais em seu
ápice de criatividade.
De Caetano, o último
disco que me empolgou foi Livro, e aí
já se vão 20 anos. Depois disso, nos 4 álbuns que apresentaram composições
inéditas, Noites do Norte, Cê, Zii
e Zie e, por fim, Abraçaço, ele
foi caminhando por uma trilha que privilegiava a estética da música eletrônica
e o ritmo sintetizado, coisa que não me agrada. Questão de gosto, reconheço.
Já faz 20 anos, também,
o lançamento de As Cidades, o último
disco de inéditas de Chico Buarque a me empolgar. Em seus 3 discos seguintes, Carioca, Chico e Caravanas, o
compositor foi se aproximando, cada vez mais, de harmonias complexas,
intrincadas, exageradas nas dissonâncias. Apesar de desagradar meus mal
treinados (ou cansados) ouvidos, não posso deixar de reconhecer que em cada um
destes discos, há, ao menos uma obra-prima: Dura
na Queda, Sinhá e As Caravanas, respectivamente.
De Gil, diferentemente
dos outros dois ícones da MPB, não se pode dizer que tenha enveredado por
caminhos heterodoxos na prática de compor canções. Por outro lado, este artista
não lançava um álbum com músicas inéditas (Fé
na festa) desde 2010. Pois eis que, mês passado, acabou de sair OK OK OK, pela Biscoito Fino.
Possivelmente, seja o
disco mais emotivo que Gil já tenha lançado. Cheio de referências ao seu
momento pessoal, suas composições discorrem sobre atuação política, velhice,
doenças e família. Recheado com canções dedicadas aos netos e à bisneta, estas
configuram a parte menos interessante do CD. Há, entretanto, algumas obras-primas
no disco, mostrando que, mesmo num momento mais intimista e emotivo, o
compositor baiano não perdeu a verve poética. Muito pelo contrário.
Vale muito a pena
prestar atenção em Jacintho, em que ele usa a figura de linguagem da aliteração
com rara maestria. Em Yamandu, ele homenageia este genial
violonista (Com seu violão ligeiro,
parece que é pressa, mas é só suingue à beça e bossa e vibração no corpo
inteiro. Só quem segue o Yamandu, é o frisson do pandeiro). Afogamento
é de um lirismo comovente, que ele divide com a voz de Roberta Sá. Mais do que
todas estas, entretanto, OK OK OK é a que nos convida para a
mais pura reflexão, nestes tempos em que o ódio, definitivamente, está vencendo
a tolerância no comportamento de nossa sociedade.
Uma dica:
concomitantemente ao lançamento do disco novo, o Canal Brasil passa a exibir,
semanalmente, o programa Amigos, Sons e Palavras,
em que Gil, ao violão, dialoga com personagens expressivos da cena brasileira,
como Caetano, Drauzio Varella, Juca Kfouri, entre outros.
2 comentários:
Adoro Jacintho! Neste link, ele fala sobre a música:
youtube: JACINTHO | Gilberto Gil | OK OK OK (2018)
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