Eu me interessei pela
literatura policial de Leonardo Padura depois de ler O homem que amava os cachorros, de 2009, livro do qual já falei por
aqui. Afinal, um autor que consegue manter o suspense, até o fim, em uma
história que todo mundo sabe o desfecho, merece, ao menos, atiçar minha
curiosidade. E foi com curiosidade que me pus a ler sua tetralogia Estações Havana.
Devorei-os gulosamente.
A trama dos livros se
passa nas 4 estações do ano de 1989, emblemático pela queda do muro de Berlim,
na capital cubana, onde o tenente Mario Conde, detetive da Polícia,
desvenda crimes.
Passado Perfeito, Ventos de
Quaresma, Máscaras e Paisagens de Outono (inverno, primavera,
verão e outono) foram escritos em 1991, 1994, 1997 e 1998, respectivamente e,
em todos eles, além de um intrincado mistério a ser resolvido pelo indolente
policial, o autor nos brinda com uma descrição detalhada da vida das pessoas na
Havana daquele final dos anos 1980.
Como é de lei, em
qualquer história policial, as investigações são entremeadas por relatos de
romances calientes, crises
existenciais, análises socioeconômicas e muito senso de humor. Assim como eu já havia
constatado no livro de 2009, Padura aproveita a oportunidade para traçar um
perfil da sociedade cubana, não se furtando a criticar o governo, sem cair,
entretanto, na armadilha do maniqueísmo, que empobrece toda tentativa de reflexão.
Saber captar, sempre, todos os lados de qualquer realidade, sobretudo aqueles
que vão de encontro aos nossos preconceitos, é o que nos ajuda a enxergar o
mundo com os olhos e a mente mais abertos.
A Netflix produziu e
exibe, no Brasil, uma série, batizada 4 Estações em Havana, com o ótimo ator cubano Jorge Perugorría, baseada nos livros. Por algum
motivo, que me escapa a compreensão, ela alterou a sequência das histórias.
No último volume, o
tenente Conde se demite da polícia para se dedicar à sua real vocação de
escritor. Ele reaparecerá, entretanto, como um investigador autônomo, nos futuros
livros Adeus, Hemingway; A neblina do Passado; O Rabo da Serpente e Hereges. Seu último livro, A Transparência do Tempo, deve sair em outubro,
segundo promessa da Editora Boitempo.
Todos editados no
Brasil, apenas Adeus, Hemingway está
fora de catálogo. Publicado pela Companhia das Letras, é item raro e só se
consegue achar exemplares usados e, mesmo assim, por preço bem salgado. Comprei
o meu pela Amazon da Espanha, no idioma original e enviei à casa de uma amiga
que mora em Madrid. Em sua última viagem ao Brasil, ela o trouxe pra mim. Nem
preciso dizer que o devorei avidamente, como sempre é delicioso devorar os
livros de Padura.
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