A música brasileira que
mais me interessou, ainda na infância, foi aquela que se convencionou chamar
de MPB e que surgiu nos festivais da TV Record, em meados da década de 60, no
século passado. Naquele momento, uma geração de
jovens compositores, todos ao mesmo tempo, despontaram no cenário musical
ostentando uma criatividade inacreditável.
No resto do mundo,
aquele período era o prenúncio de uma época iluminada, do desabrochar das
liberdades individuais, e que culminaria com maio de 1968. Enquanto isso, no
Brasil, mergulhávamos num período de sombras, culminando com o AI-5, em
dezembro daquele mesmo ano.
Mais tarde, eu fui
perceber que a música produzida por aquela geração genial não teria acontecido
se não fosse o samba e a Bossa nova. Sem o samba e a Bossa nova, provavelmente
não teríamos a MPB e, se não tivesse existido Pixinguinha, Noel Rosa, Ismael
Silva, Tom Jobim e João Gilberto, arrisco-me ao palpite de que Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil,
teriam sido um arquiteto convencional, um obscuro crítico de cinema e um gestor
de empresas engravatado e careta, respectivamente.
Wilson das Neves
classificava a Bossa nova como um sub estilo do samba, mas essa é uma análise muito
simplista. Nascida no Rio de Janeiro, seria impossível ela não ter os genes do
samba em seu DNA, mas sofreu, também, uma enorme influência do jazz americano.
Tanto o samba quanto a Bossa
nova têm seus personagens emblemáticos e, nos dois casos, são infinitas as
histórias que os envolvem. Duas boas oportunidades para conhecer algumas destas
histórias são os livros O Barquinho Vai... – Roberto Menescal e suas histórias, escrito por Bruna Fonte e Taberna da Glória e Outras Glórias – mil vidas entre os heróis da música brasileira, organizado por Ruy Castro.
Os personagens destes
dois livros, Roberto Menescal e Hermínio Bello de Carvalho, respectivamente,
têm quase a mesma idade (80 e 82), podem ter cruzado suas trajetórias em
diversos momentos da vida, mas vêm de origens bem diversas e trilharam caminhos
distintos, no cenário da nossa música. Enquanto Hermínio, filho de empregada
doméstica, chegou ao topo da carreira à custa de muito trabalho infantil e
passando necessidades, Menescal sempre foi um típico representante da classe
média alta, com todos os privilégios que, ainda hoje, beneficia esta casta, no
Brasil.
A música a que cada um
deles se associa tem, também, características distintas. Enquanto o samba tem
seu caráter de resistência, de luta do povo pobre, principalmente o negro, pela
busca da dignidade na sociedade, a Bossa nova foi uma música produzida e
consumida pela parcela da sociedade mais afortunada.
Apesar destas
diferenças socioeconômicas, ambas têm sua sonoridade particular, complexa e
extremamente importante para a identidade estética de nossa música.
Os dois livros têm uma
característica em comum. Nenhum deles foi escrito, diretamente, por seu
personagem. O livro com as histórias de Hermínio Bello de Carvalho é uma
compilação de textos publicados em outros livros de sua autoria, já fora de
catálogo, além de textos esparsos recolhidos pelo incansável Ruy Castro, exímio
autor de biografias importantes (Garrincha, Nelson Rodrigues, Carmem Miranda).
Já as histórias de Menescal foram contadas, verbalmente, para Bruna Fonte que
as transcreveu, mantendo o relato na primeira pessoa e, com isso, dando um
caráter muito intimista a ele.
No livro de Hermínio desfilam
personagens como Pixinguinha, João da Baiana, Cartola, Dona Zica e Dona Neuma,
Elizeth Cardoso, Emilinha Borba, Isaurinha Garcia, entre tantos outros. O
capítulo mais interessante é o que discorre sobre seu convívio com Aracy de Almeida,
no qual se consegue enxergar a real importância desta cantora (a mais fiel
intérprete de Noel Rosa) e o quanto sua imagem, estereotipada, da ranzinza jurada
de programas de calouros, como os de Chacrinha e Silvio Santos, foi uma imagem
fabricada para dar audiência aos programas, estratégia à qual Aracy aquiesceu e
foi conivente.
No livro de Menescal,
como não poderia deixar de ser, os personagens presentes são os precursores e
os fundadores da Bossa nova. Interessante perceber a diferença das duas frentes
em que ele atuou, no cenário musical, primeiro como músico (compositor e
instrumentista) e, depois, como produtor musical e como diretor de uma importante
gravadora de discos, à época. É interessante, também, verificar, nesta
trajetória, o momento em que abandonou a carreira de executivo extremamente bem
pago, para pegar a estrada e voltar a fazer shows pelo mundo todo, depois de 15
anos sem tocar em um violão.
Uma característica que
me agrada muito, em ambos os livros, é o fato de que os relatos sobre a vida
privada dos dois são praticamente inexistentes. Eu, particularmente, quando
leio sobre um artista, tenho muito pouco interesse em sua intimidade. Me
interessa muito mais a sua obra. E isso, os dois livros têm de sobra.
Um comentário:
The casino craze starts at the casino floor. - DRMCD
The 상주 출장샵 casino 안산 출장안마 craze starts at the 서울특별 출장안마 casino floor. The casino craze starts at the casino floor. The 양산 출장샵 casino craze starts at the 용인 출장안마 casino floor.
Postar um comentário