Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 14 de março de 2009

Pizza

Conforme o tempo passa, vão diminuindo as certezas absolutas que a gente tem na vida. Minha meta é envelhecer sem nenhum dogma. Tenho alguns, ainda, e o maior deles é que só se deve comer pizza em São Paulo.
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Já comi pizza em muitos lugares. No Norte, no Sul, na Bahia, em Minas, na Itália. Nenhuma delas chega aos pés das que se come aqui. As melhores pizzarias na cidade são a Castelões, no Brás, a Speranza, em Moema, a Camelo, na rua Pamplona. Tinha o Carmo, no Ipiranga, a melhor de todas, mas não existe mais. A maioria das boas pizzarias, as mais tradicionais, tem um cardápio reduzido. Não cede a invenções ou aos modismos.

Quando me mudei pra Campinas, foi difícil achar uma pizzaria de qualidade. Hoje, tem o Bráz e o Babbo Giovanni, não por coincidência, filiais das casas da capital.

Embora eu aprecie muito uma pizza bem feita, me seduz também comer pizza no balcão, no meio da noite, em lugares pouco badalados do centro da cidade. Em Campinas, à que eu mais recorro é a da Padaria Sacramento, com sua massa bolachuda, de pão, e seu recheio exagerado, parecendo mais uma torta. Nunca neguei que sou meio varzeano.

De qualquer forma, comer pizza fora de São Paulo sempre me deixa em estado de alerta. Em Porto Alegre, colocam catchup; no Rio de Janeiro, esquartejam a pizza, como se ela fosse vítima de maníaco. Qualquer uma dessas atitudes dá prisão preventiva aqui por estes lados. Afinal, quem faz essas coisas é capaz de cometer os crimes mais hediondos.

Todo esse preâmbulo é só pra falar do filme Pizza de Ugo Giorgetti. Trata-se de um documentário em que ele percorre todos os cantos da cidade e interpreta a relação de amor que a população tem com essa iguaria. E com a sensibilidade que lhe é peculiar, tira o foco das redondas e dos restaurantes, para colocar a luz sobre as pessoas. Assim, disseca as discrepâncias sociais da nossa sociedade, sem transformar o filme num libelo sociológico que o tornaria chato. Mostra as diferenças entre a região chique e a periferia de forma escancarada. Desde a pizzaria A Tal da Pizza, na Granja Viana, onde uma brotinho pode custar 40 reais ou a Veridiana, em Higienópolis, com música ao vivo de piano e baixo acústicos, até as pizzarias dos bairros da periferia, como a Tropical, no Jardim Ângela, onde a pizza grande custa 6 reais.

Mostra a Castelões, a mais tradicional, onde não entra o frango e nem o Catupiry e mostra uma pizzaria na favela Heliópolis, a maior do Brasil, com seus 70 mil habitantes. As pizzarias de bairros tradicionais como a Moca ou o Belém, onde se come de pé, no balcão, e a Pizzaria do edifício Copan, que atende aos mais de 2 mil moradores, a maioria solitários, incluindo as putas, aposentados e travestis. Todo mundo gosta de pizza.

É particularmente belo o enfoque que o filme dá no trabalho dos entregadores de pizza, com suas motos ou mesmo aqueles que se vestem das geladeiras de isopor e fazem a entrega a pé. Conversa com eles de forma direta e amistosa e essas conversas é que rendem os depoimentos mais saborosos do filme. É também divertida a conversa com os pizzaiolos da periferia, a grande maioria migrantes que nunca tinham experimentado pizza nas cidades de origem. Um deles foi experimentar a primeira pizza de sua vida, depois de fazer algumas delas.

O filme é, fundamentalmente, noturno, já que pizza não combina com a luz do dia. Mas, pra quem acha que todas as pizzarias na cidade abrem à noite e fecham muito antes do sol raiar, o filme revela uma realidade que era pra mim desconhecida. Numa manhã de sábado, na fila de espera para entrar no presídio, está lá o entregador de pizza pra proporcionar uma refeição especial no dia de visita. É a última e única cena melancólica do filme. Talvez, por uma coisa ou a outra, a mais marcante.

15 comentários:

Unknown disse...

Que beleza de texto! Concordo plenamente. E fiquei surpreso e feliz por você ter citado a pizza de balcão da Padaria Sacramento. Apesar do mau humor da balconista - o que sempre me faz pensar duas vezes se vale mesmo a pena deixar meu dinheiro por lá - considero que seja a melhor pizza da cidade. Da próxima vez que for passar por lá, me avisa, pô! Sou praticamente vizinho da Padaria Sacramento e quase todas as noites passo por lá, seja para comprar umas cervejas ou para comer umas pizzas encostado no balcão.

francinebittencourt disse...

Fiquei com vontade de almoçar uma pizza, vou sair a procura agora mesmo e tbm de ver este documentário. Escrevi para dizer que sempre passeio pelo seu blog, ele faz parte das minhas leituras obrigatórias e gosto muito e também para agradecer suas visitas lá no meu.Agora tchau que tô indo atrás de uma pizza. rs

Andrea Nestrea disse...

adorei o texto, arnaldo!
aqui no rio comer pizza boa é difícil, eu acho! e caro!
agora tem a pizza de prato dos supermercados zona sul, bem gostosa, massa fininha. eu sinto muita saudade das pizzas de escarola que matavam a minha fome nos meus tempos uspianos. e nem vou falar das outras pizzas de sampa.
eu tambpem sinto falta da piza de balcão, sempre q ia ao cinema na rua augusta ia a um bar que vende pizza no balcão, aos pedaços, não sei o nome do lugar,mas sei chegar lá. em brasília tem uma pizza de balcão famosa, da 'dom bosco', muitos gostam, outros detestam, mas é a cara de brasília.
beijos

Andrea Nestrea disse...

ah?! quero ver o filme, com pizza, é claro!!!!!!

Valéria Martins disse...

Esse filme está disponível em DVD? Nâo me lembro de ter visto no cinema...

Tudo bem que SP é a terra da pizza. Mas uma vez eu comi uma pizza inesquecível na Chapada Diamantina, em Lençóis. Era com Shitake, mas os cogumelos eram feitos de um jeito que eu nunca tinha visto antes, meio refogados, e havia muita quantidade. Delirei, voltei no outro dia para repetir, mas o shitake havia acabado... Vinha de SP, de avião. E o dono da pizzaria era paulista, claro.

Aqui no Rio, temos a velha e boa Pizzaria Guanabara. Os paulistas devem achar um lixo a pizza de lá, mas eu adoro. Bjs!

Anônimo disse...

Parei aqui no seu blog por indicação da Valeria/Pausa no Tempo, já que sou uma carioca que tenta se entender melhor com Campinas, para onde me mudei por causa do trabalho. Muito bom e espero mais dicas sobre a cidade!
Sobre pizza, vou checar o roteiro campineiro e acrescentar que, recentemente, de férias em Jericoacoara (colônia italiana no Nordeste!), comi uma pizza excelente na Pizzaria da Taverna - massa super fininha, leve, queijinho derretido simples por cima com rodelas de tomate... perfeito no calor. Aliás, espanta ver a quantidade de pizzarias por lá.

Abraço,
Márcia

Tatiana disse...

Gosto muito da forma que você escreve.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Bruno,

Sou figurinha fácil naquela padaria. Nem tanto pela pizza, mas pelo pão italiano que, neste caso, é melhor que a mais festejada de todas as padarias da Bela Vista, considerada a Meca do pão Italiano. O da Sacramento é melhor.

Francine,

Pizza no almoço? Tem algum lugar que sirva? Grande desafio, o de encontrar.

Andréa,

Você foi uspiana? Minha filha está nesta vida, agora. Comendo em bandeijão e se divertindo pelas redondezas. Fase boa, esta.

Valéria,

Não sei se saiu em DVD. Nem sei se passou no cinema. Assisti no Canal Brasil. O documentário foi produzido pela TV Cultura e é de 2005. Vai reprisar no Canal Brasil na terça-feira, 18 horas.

Márcia,

Seu comentário motivou-me a escrever um post sobre alguns dos bares e restaurantes que conheci desde que vim morar em Campinas. Vamos ver se tenho fôlego pra esta empreitada.

Tatiana,

Muito obrigado. Assim eu fico mais exibido do que eu sou.

Adriana Calábria disse...

Esse post me deixou com mais fooome, depois de um dia inteiro de aulas!

Adoro pizza,e agora não cometo certos pecados como colocar katchup e maionese. Agora só um bom azeite pra acompanhar.

Valeu a visita lá no blog.Volte mais vezes!

Abraços

Flavih A. disse...

Ahhh definitivamente isso é verdade.
As pizzas de SP são as melhores.
Moro no Ceará, mas as vezes passo férias em Sampa, e uma das coisas q nunca deixo passar é comer uma pizza de palmitoo..
Aiii amooo de paixão.

Beijooos

Sandra Shibuya disse...

Arnaldo, adorei seu blog, suas dicas e a maneira que escreve. Vim aqui para retribuir uma visita que vc fez ao meu blog. Acredita que só hoje vi seu comentário?
Preciso voltar a publicar sobre os lugares que estive em Campinas.
Abraço, Sandra

Vanessa Dantas disse...

Ótimo post, Arnaldo!

Para mim, a melhor pizza do mundo é a Castelões (calabresa artesanal com mussarela) da Castelões. Adoro a frase pregada na parede que tem lá "quem sabe comer, sabe esperar". Programaço!

Quanto a Speranza, só conheço a matriz, que fica no Bexiga - a Margherita deles é imbatível!

Agora essa história de esquartejamento de pizza no Rio é mesmo uma tristeza e mais ainda ver as pessoas colocando catchup. Ergh! Proibi minha prima carioca de fazer essa presepada aqui em Sampa.

Andréa: o lugar ao lado do Unibanco chama O Pedaço da Pizza. Confesso que não gosto! Se for para comer no balcão, que seja numa boa padaria onde não economizam no recheio!

Fiquei bastante curiosa pelo filme. Mas minha net é pobrinha! Não pega o Canal Brasil. Pena!

Beijo.

Anônimo disse...

E eu aqui pensando em razões para começar uma dieta...

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pecado, às vezes é bom, Adriana. Só vale na pizza o da gula.

Flavih, O Ceará é uma delícia. Sempre que vou pra Fortaleza eu me esbaldo na comilança.

Sanshi, entrei por lá há tanto tempo. Foi pelo teu blog que conheci o Le Chef. Valeu a pena.

Vanessa, também adoro a Castelões lá da pizzaria Castelões. O mais interessante é que na Braz tem uma Castelões (homenagem à original), tão boa quanto aquela.

Alena, eu nunca penso em começar dieta. Penso sempre em que prato vou comer daqui a pouco. Será que é por isso que a balança está estourando?

Graziana Fraga dos Santos disse...

olá!
sempre muito bom ler teus textos, recheados de coiss bacanas!
lembrei daquela discussão sobre o catchup usado nas pizzas aqui em Poa que fizemos ha um tempo atrás... eu particularmente não uso!tenho muita vontade de provar estas pizzas de SP, um dia eu vou lá! Muito legal esta dica do documentário, fiquei curiosa pra ver!
um grande abraço,
Grazi