Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Abandono de lar (II)

Mais uma vez, este blog vai ficar abandonado por uma semana. Desta vez, porém, é por um motivo mais prazeroso. É que sairemos em férias, viajando pra Buenos Aires. Vamos nos deliciar com a carne argentina e com o tango.

O que fica aqui, nesta coluna ao lado, Pra Ouvir, são 3 tangos que adoro, cantados pelos meus dois cantores preferidos: Roberto Goyeneche e Maria Graña.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Sanfoneiro pai d’égua

Como quase todo o resto da humanidade, sou grande fã de Chico Buarque. Há, entretanto, 3 ou 4 músicas dele que eu não gosto de ouvir. E a que eu menos gosto é A banda. Não é por nada. A melodia é simples, bem singela. A letra até que é bem elaborada, principalmente se considerarmos a idade dele quando a compôs. Mas, talvez por tê-la ouvido muito ao longo de tantos anos, talvez pela comparação com suas obras posteriores, muito mais complexas e ricas, tenho muita má vontade com esta canção, a ponto de mudar a estação do rádio ou pular a faixa do CD, sempre que ela toca.

E não é que consegui encontrar uma gravação desta música de que gostei!



Comecei a ouvir a introdução, num arranjo diferente, com flauta, piano e sanfona e achei ótimo. E melhorou ainda mais, quando o cantor começou. Tudo graças ao sanfoneiro Dominguinhos.

A gravação faz parte de um dos 8 CDs do Songbook de Chico Buarque, da gravadora Lumiar, a mesma que editou os livros com partituras e cifras.

O arranjo do pianista Leandro Braga é primoroso e faz com que o piano, em conjunto com a flauta de Andrea Ernest Dias, pareçam uma banda de pífaros. Esse conjunto, unido à excelente sanfona de Dominguinhos, produz um resultado delicioso.

Dominguinhos é meu sanfoneiro favorito. Pode não ter a versatilidade de Oswaldinho do Acordeon e nem a criatividade de Sivuca. Também não tem, evidentemente, o carisma de Luiz Gonzaga, mas aí já estamos falando do rei do baião. Seria covardia, a comparação. Mas Dominguinhos tem uma voz muito bonita e uma simplicidade na execução do instrumento que me comovem, fã que sou das formas mais simples de expressão de arte.

Além de tudo, é um compositor de muita qualidade, autor de clássicos como Abri a porta, Lamento sertanejo (com Gilberto Gil), De volta pro aconchego, Gostoso demais (com Nando Cordel), Eu só quero um xodó, Tenho sede (com Anastácia), Isso aqui tá bom demais, Tantas palavras (com Chico Buarque), entre muitas outras músicas.

Só mesmo ele, pra me fazer gostar de ouvir A banda.

O dono da nossa vida

O livro Traição e outros desejos, de Sônia Peçanha, é um livro de contos. Contos breves, cujo cenário de fundo é a cidade do Rio de Janeiro. E a personagem principal é a classe média. Em suas histórias, a autora desfila todo tipo de angústia do ser humano ordinário. Fala da morte, da velhice, da solidão, do desespero. Disseca, enfim, o homem comum, expondo seus desejos mais inconfessáveis, seus delírios, suas taras. Tudo aquilo que preferimos deixar escondido, mas que não conseguimos esconder de nós mesmos.

São personagens atormentados, tristonhos, sem esperança. São histórias tão reais e possíveis, que assusta a clara evidência de que qualquer um daqueles personagens poderia ser nós mesmos.

É um livro que teria tudo pra angustiar, pra deprimir, mas não é isso o que acontece. Por uma razão inexplicável, é com uma sensação de alívio que a gente vê as mais profundas angústias do ser humano sendo destiladas na nossa frente. Alívio por perceber que a nossa vida tem dono. Que o dono somos nós mesmos e que está em nossas mãos fazê-la seguir o caminho que mais nos interessa e nos satisfaz.

Musas em série

Não sou de assistir novelas na TV. Não tenho saco. Mas confesso que gosto de assistir a algumas séries da TV americana, nos canais Sony, Warner ou AXN. Gosto mais das séries cômicas, pois são mais curtas. Normalmente, as séries cômicas têm duração de meia hora enquanto as dramáticas duram a hora completa. Acho que isso é porque é difícil fazer rir por muito tempo.

Dentre as séries cômicas, a que mais gosto é Two and a half man. Deve ser pelo fato dela ser tão politicamente incorreta. Afinal, naquele seriado, entre dois irmãos, há o certinho, que só faz o que é correto, respeitador dos direitos alheios e sobretudo das mulheres e há o outro, sacana, cheio de más intenções, principalmente com seus alvos femininos. E, invariavelmente, é só o sacana que se dá bem. O bonzinho só se ferra. Parece até a vida real.

Mas o que eu gosto mesmo, são as mulheres bonitas que cada uma das séries tem. É um padrãozão. Uma receita de bolo. Toda série tem a sua musa, a sua bonitinha. Algumas são meigas, algumas são rígidas, outras indefesas. A maioria é gostosa.

O primeiro seriado pelo qual me interessei foi CSI. E nele há duas musas. A coroa Catherine (Marg Helgenberger) e a novata Sara (Jorja Fox), ambas deliciosas.

Minha preferida, entretanto, está no seriado Without a trace. É a agente do FBI Samantha Spade interpretada pela atriz Poppy Montgomery.


Coloquei esta foto na tela de abertura do meu computador e a Cecília disse que ela tem umas bordinhas recheadas de catupiry. Acho que minha filha precisa ir urgente a um oftalmologista!

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Os Livros


Não sou muito afeito a fazer transcrições. Acontece que esses dois trechos que transcrevo abaixo, falam de uma forma tão semelhante ao que eu penso e sinto em relação aos livros, que é como se eu os tivesse escrito, se talento pra isso eu possuísse. São dois textos extraídos da entrevista do escritor Salman Rushdie, no livro Contestadores, de Edney Silvestre:

Existe uma coisa que se pode fazer com um livro, que não se faz com mais nada: estou falando de intimidade, no sentido de uma ligação direta de alguém com o mais profundo interior de outro ser. É a capacidade de se transportar, e deixar que você participe daquilo que está lendo. Você cria as imagens; não foram criadas para você. Você lê os diálogos e ouve as pessoas falando, imagina os sons. Essa participação na literatura é única. E a facilidade de ler: pode fazê-lo na cama, na banheira, na praia, pode cuidar mal do livro, dobrar as folhas, sublinhar frases. Tudo isso, em minha opinião, é a comunhão íntima que as pessoas necessitam e apreciam. Vão continuar querendo isso. É assim que os livros mudam o mundo. Não acontece como na política.

(...) o que sempre acontece com os livros é algo mais profundo. Vamos dizer que quando lemos, amamos. O livro nos modifica. De uma certa forma, uma parte dele ficará conosco para sempre. Ele se torna um pouco do que somos. Assim, os livros mudam o mundo. Eles mudam seus leitores, um de cada vez. E não necessariamente da mesma forma, porque o que me afeta pode não afetar você, no mesmo livro. Por isso é uma coisa tão radical e perigosa, e por isso os tiranos tentam destruí-los, porque é a comunhão íntima de mentes que muda radicalmente a consciência humana.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Dois Joões

Um João. Baiano. Mas não um baiano de Salvador, como tantos outros baianos. Como tantos outros joões. Um baiano de Juazeiro, todo diferente. João Gilberto.

Há quem não goste de João Gilberto. Eu entendo. Entendo e respeito. Pra ser sincero, não entendo e muito menos respeito. Não dá pra não gostar. Se não gostou é porque não prestou a devida atenção. É porque trata a música como fundo musical. Pra conversar fiado, pra esperar consulta no dentista. Música, tem de prestar atenção. E, se prestar muita atenção em João Gilberto, vai perceber uma riqueza indescritível.


O que é que falam de João? Que tem voz pequena. Que repete a música infinitas vezes. Que desafina.

Quanta bobagem! E quem é que disse que é necessário ter vozeirão pra cantar? Quem é que precisa gritar? Quem não consegue convencer. É assim quando a gente conversa. É assim quando alguém canta.

João Gilberto não repete a música mil vezes. Ele canta a música mil vezes, cada vez com um detalhe diferente de harmonia, um acorde novo, achado na hora. Ele sabe achar os acordes, com a sapiência de quem conhece o violão na intimidade. Intimidade conquistada na clausura de Juazeiro, como bem revelou Ruy Castro, em seu livro Chega de Saudade.

João saiu deste retiro com o violão reinventado. Inventou uma nova batida. Inventou a bossa nova. E foi por causa do violão de João Gilberto, em algumas faixas do LP Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso, que o mundo percebeu que a música brasileira não seria a mesma dali em diante. É por causa de João Gilberto que a música de Chico Buarque é do jeito que é. E a música de Edu Lobo. E a de Caetano Veloso. E a bossa nova reinventou a nossa música e acabou, aliás, imprimindo um padrão tão forte e poderoso, que durante muito tempo, não se fez música de qualidade no Brasil, que não tivesse a sua influência. Isso durou muito tempo, até que apareceu outro João.

Outro João. Mineiro. Mas não um Mineiro de Belo Horizonte, como tantos outros mineiros. Como tantos outros joões. Um mineiro de Montes Claros, todo diferente. João Bosco.


Este João surgiu do nada, com a coragem de fazer música brasileira que fugisse do padrão da bossa nova. Fez samba, fez rumba, fez tango, fez marcha-rancho, fez xaxado, fez música cigana, fez bolero. Como Lucho Gatica ou como Ravel. Música brasileira. E construiu, ao lado de Aldir Blanc, um cancioneiro dos mais ricos, a verdadeira perfeição quando se pensa na combinação entre palavra e melodia. Tanto foi perfeita esta fusão que tanto João quanto Aldir, nunca foram os mesmos depois que deixaram de fazer música juntos. Parece que voltaram a compor em parceria. Fico excitado com essa expectativa. Tomara que voltem logo. Seria um sonho.

Sonho mesmo, entretanto, seria ouvir algum samba de João Bosco cantado por João Gilberto. Isso não é sonho. Isso é utopia.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Dendê

Como eu viajei pro Maranhão e Pará na semana passada, minha amiga Vivien me pediu uma encomenda. Que eu visitasse e escrevesse um post sobre o mercado Ver-o-peso em Belém. Eu até passei em frente ao mercado, Vivien, mas ele já estava fechado. Não deu. Aliás, essa coisa de eu viajar muito, sempre faz muitas pessoas acharem que isso representa uma porção de oportunidades de conhecer lugares novos e interessantes. Até representa, mas muito menos do que as pessoas imaginam. Por conta do trabalho, os compromissos são sempre tão apertados, que quase nunca sobra tempo pra algum tipo de passeio. O máximo que consigo fazer, são incursões gastronômicas. E desta vez, nem mesmo isso foi possível fazer.

Já visitei o Pará umas 4 vezes, e o que mais me chama a atenção, sempre que vou pra lá é a situação de extrema pobreza em que vive uma enorme parcela do nosso povo. Desta vez, fui visitar uma usina de processamento de óleo de dendê que é utilizado para a produção do biodiesel. Encravada entre as cidades de Moju e Tailândia, a 300 Km ao sul de Belém, a usina processa o fruto dessa palmeira para produzir aquilo que o presidente Lula acredita que pode ser a solução dos nossos problemas energéticos, caso ele encontre alguma maneira de fazer o Brasil crescer. Aliás, essa história também ajudou muito na eleição da senadora Ana Júlia para o governo daquele estado. Quem ouve um e outra falando, imagina que estamos tratando de um mar de prosperidade num oásis de vida confortável. Não é nada disso. Absolutamente.

Andar 300 Km numa estrada no Pará não é nem um pouco comparável a andar numa rodovia paulista. Tem muito mais buraco do que asfalto, uma quantidade imensa de caminhões transportando madeira, deus sabe lá de que origem e muita, muita terra sem utilização produtiva. Andam-se dezenas de quilômetros sem ver uma alma viva e de repente, do nada, vê-se um casebre, básico, minúsculo, onde se imagina, vive algum ser humano. Sem nada. Sem nenhum sinal do mínimo conforto a que estamos acostumados aqui no sul. A situação só não é pior do que a do sertão nordestino, já que, apesar da extrema pobreza, nesta região, não dá pra passar fome. A disponibilidade que existe de peixes e frutas impede que isso aconteça.

Mas viver não é só isso. Viver não é só comer e beber. Isso é sobreviver e quem tem que sobreviver são os animais da floresta. Gente tem que viver. Tem que viver bem. Com conforto e dignidade.

Vida Pensante

Os Estados Unidos têm uma força tão poderosa e uma presença tão maciça na mídia, que até dá a impressão de que, lá, todo mundo pensa e age da mesma forma, na mesma direção. O cinema tenta nos vender uma caricatura tão estereotipada daquela sociedade, que pode parecer que naquele país, todo mundo é igual. Para o bem e para o mal. Que todo mundo vive confortavelmente, todo mundo é de direita, todo mundo quer guardar armas em casa, todo adolescente é capaz de entrar num shopping center e metralhar as pessoas numa praça de alimentação.

É fácil e perigoso pensar dessa maneira. Nenhum lugar é assim. Nenhum lugar tem uma conduta tão hegemônica que não admita questionamentos a respeito do modo de vida. Ainda bem.

Isso ficou muito claro pra quem acompanhou as duas últimas eleições para presidente dos Estados Unidos ou a reação da população com as estripulias tabagistas do último presidente do partido democrata. Aquele país está dividido em dois. Fifty-fifty. Se quisermos simplificar, enxergaremos, de um lado, uma sociedade que habita as duas costas, ávida por novidades e tecnologia. Sedenta por estar à frente do tempo, inovando costumes e hábitos. E do outro lado, vivendo no centro e, sobretudo no sul do país, uma gente mais conservadora, ciosa de suas tradições, avessa às mudanças e, portanto, às evoluções. Mas como simplificar também é sempre perigoso, não devemos imaginar que o país esteja à beira de uma guerra civil. Que ianques e confederados estejam a um passo de se digladiarem por causa de ideais inconciliáveis. Nada disso. Há muito pouca diferença entre democratas e republicanos.

O que há, de um lado e do outro, são pessoas que não temem questionar o modelo. São tachados de esquerdistas, numa conotação muito diferente daquela que nós, na América Latina costumamos utilizar. São na verdade, contestadores. E foram algumas destas pessoas que o jornalista Edney Silvestre resolveu entrevistar na última década do século passado. Nem todos os entrevistados são americanos, mas todos eles, ou moram lá, ou estão intimamente ligados à sociedade americana. São escritores, cineastas, cientistas, músicos, enfim, pensadores. Na lista, dois brasileiros. O jornalista Paulo Francis e o educador Paulo Freire, ambos morando nos Estados Unidos, à época.

As entrevistas foram publicadas num livro, cujo nome é justamente Contestadores, pela Editora Francis.

Edney Silvestre é o tipo do repórter que eu acho exemplar. Vai entrevistar um escritor tendo lido muitos dos seus livros ou um dramaturgo, tendo visto todas as suas peças. É um repórter que não se furta a tocar nas feridas. Não foge dos assuntos polêmicos. Mas, sobretudo, não quer competir com o entrevistado e não se deixa contaminar pelo vírus da vaidade. Jô Soares teria muito a aprender com ele.

O livro é delicioso e nos apresenta um panorama de uma parcela bem pensante da sociedade americana. Uma parcela que não está nos filmes de Hollywood e nem nos seriados da Sony.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Abandono de lar

Este blog ficará um tanto abandonado na próxima semana. Viajo para São Luiz do Maranhão e Belém do Pará e, mesmo que eu consiga acessá-lo, dificilmente terei tempo pra escrever alguma coisa.

Na outra semana estou de volta. Com a corda toda.

A música americana que eu gosto

Namorei muito pouco com a música americana na minha adolescência. Só gostava dos Beatles (eles eram ingleses, mas o que faziam era música americana), praticamente. Nunca me interessei muito pelo rock ou pela música pop. Quando conheci a Clélia me aproximei de James Taylor, Carly Simon, Carole King, Simon & Garfunkel. Mas não passou disso. Meu lance com a música sempre foi predominantemente com a brasileira, sobretudo o samba, a bossa nova, a MPB.

Mais tarde conheci o jazz e estabelecemos uma relação boa. Hoje, a música americana que eu gosto de ouvir são os grandes standards compostos pelos principais songwriters americanos. Meu preferido, de longe, é Cole Porter. Mas gosto muito dos irmãos Gershwin, Irving Berlin, Rodgers & Hart, Johny Mercer e Jerome Kern. Tenho muito prazer em ouvir suas canções nas vozes de ícones da música americana como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chet Baker, Nat King Cole e Tonny Bennett.

Uma pequena degustação deste tipo de música pode ser feita clicando os links à sua direita, na coluna: Pra ouvir.

Enjoy yourself!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

As bandeiras estão desfraldadas

São centenas de bandeirinhas de plástico, verde, branco e vermelho, como as cores da Itália, cercando o glorioso Parque Municipal de Feiras e Exposições Monsenhor Bruno Nardini. Tudo isso pra ornamentar a 58ª Festa do Figo e 13ª Expogoiaba, o mais importante evento da cidade de Valinhos.

Resumindo: acabou nosso sossego.

Quando viemos de São Paulo e escolhemos Valinhos para morar, começamos a procurar uma casa num bairro gostoso e tranqüilo. Onde morávamos, em São Bernardo do Campo, convivíamos diariamente com o ruído ininterrupto da rodovia Anchieta na boca da nossa janela. Era infernal e para viver, tínhamos de manter qualquer aparelho que emitisse som dentro de casa, no máximo volume.

Ao acharmos a casa em que moramos, desde então, experimentamos uma nova sensação que é a de dormir no mais absoluto silêncio que pode existir e acordamos com dezenas de pássaros cantando. Definitivamente, isso é muito parecido com o que seria o paraíso, se ele existisse. Mas esta sensação paradisíaca não ocorre todo o tempo. Durante 2 semanas por ano (o que significam 3 finais de semana) nosso sossego é abalado pela Festa do Figo. E isso acontece pelo fato de nossa casa ficar a menos de 500 metros do pavilhão da festa. E o que mais tem nesta festa é barulho. Eles acham que é música, mas é barulho. São pelo menos 2 palcos com shows consecutivos todas as noites. Graças aos avanços da engenharia acústica, lá na festa, o som produzido no palco não interfere no outro. Por um capricho da natureza, eles chegam igualmente potentes na janela do nosso quarto. Não dá pra aproveitar nada. São bandas de rock locais ou duplas sertanejas, também locais. Um verdadeiro martírio.

A festa enche de gente. As pessoas vêm de toda parte pra comer maçã do amor e sanduíche de lingüiça de origem duvidosa, acompanhada de chope mal tirado, em copo de plástico.

Desde que viemos pra cá, só uma mudança positiva: há 5 anos, a festa tinha entrada franca durante a semana e nos finais de semana pagava-se ingresso (acho que 10 reais) para entrar. Era quando vinham os artistas mais famosos e era quando o povão não ia, já que para uma família com 4 ou 5 pessoas, fica pesado um programa como esse, mais ônibus, mais as guloseimas.

Depois das eleições municipais, o novo prefeito mudou esta regra e aboliu o ingresso. Com isso, não vêm mais os artistas famosos, só os artistas locais. Mas todo mundo pode ir na festa. Ficou muito mais democrático, apesar de ainda barulhento.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

O amor pode ser múltiplo

A Argentina está, aos poucos, saindo de uma grande crise. E podemos encontrar, aqui no Brasil, quem não se importe ou até mesmo torça pra que eles tenham dificuldades. Isto é uma estupidez, assim como é uma grande bobagem essa rivalidade entre os dois países, rivalidade esta, tão alimentada pela mídia.

Depois de viajar muito pelo mundo, aprendi a não classificar, de forma genérica, nenhum povo. Isso não faz sentido. São todos seres humanos e, como em todo lugar, este grupo é muito heterogêneo. Tanto faz, na Argentina, na Alemanha ou no Brasil, encontramos pessoas boas e más, honestas e desonestas, alegres e mal humoradas. Enfim, tenho bons amigos na Argentina e gosto muito deles.

Além do mais, não temos como negar que há uma coisa, pelo menos, em que eles são melhores que nós. Trata-se da carne. Sua textura e seus cortes são muito superiores aos nossos. Nenhuma picanha nossa consegue se igualar a um bom bife de chouriço ou um assado de tira.

O outro ramo no qual eles, se não são superiores, empatam conosco, é o futebol. Não há como fugir desta realidade, por mais que ela nos doa. Lembro-me que, na copa de 2002, eu estava muito convicto de que o Brasil não passaria das eliminatórias e a Argentina seria a campeã. Bastava olhar nosso meio-de-campo defensivo que tinha como símbolo o jogador Émerson, enquanto eles tinham um volante da estirpe de um Verón. Isso sem falar em Galhardo, Ortega, Crespo ou Batistuta. A fase do futebol argentino era tão boa, que eles podiam se dar ao luxo de ter alguns destes jogadores na reserva, em sua seleção. Eu estava pronto para torcer pela seleção Argentina, caso o Brasil fosse desclassificado, já na primeira fase. O que acabou acontecendo foi justamente o contrário, mostrando o quanto o futebol é imprevisível e, portanto, maravilhoso.

Há outro tema, ainda, em que não ficamos devendo nada aos argentinos, mas no qual eles têm excelentes representantes. Estou falando da literatura. A Argentina tem gênios da escrita como Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares, que não devem nada a um Jorge Amado ou um Érico Veríssimo. E é sempre bom descobrir um outro autor, sobretudo de língua espanhola, já que aqui no Brasil eles têm tão pouco espaço na mídia. Estou falando de Ernesto Sabato.

Li O Túnel, escrito em 1948, numa edição de 2001, da Companhia das Letras. Apesar de tão antigo, a trama poderia ter se passado nos dias de hoje. O livro fala sobre o ciúme e o quanto este sentimento pode inibir as manifestações de amor. Aliás, o livro quase não fala do amor entre seus personagens, porque o ciúme é tanto que o sufoca, fazendo-o ficar em segundo plano.

O livro faz pensar. Por que o amor tem de ser exclusivo? Por que é que não se pode amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Por que é que pelo fato de eu me interessar por outra pessoa, devo deixar de amar quem estou amando? Será que isso tem que ser tão automático assim? Por que é que o amor tem que vir sempre acompanhado desta sensação de posse? Por que ele não pode ser múltiplo?

Acho que pode. O amor pode ser múltiplo. É possível amar mais de um filho, é possível amar mais de um amigo, é possível amar mais de um homem, é possível amar mais de uma mulher. Cada um do seu jeito, com sua intensidade, de uma forma diferente. Aliás, não se deve comparar o amor. Não há amor maior do que outro. Não dá pra perguntar a uma criança se ela ama mais o pai ou a mãe. Isso não tem importância. O importante é amar.

Mas as pessoas não aceitam isso. As pessoas querem o poder, ao invés do amor. Querem a posse, ao invés da confiança. Querem ter, ao invés de usufruir. E isso faz com que elas abram mão da felicidade em troca do domínio. Acabam não aproveitando todo o prazer que o amor pode proporcionar porque estão preocupadas em preservar seu controle.

É de tudo isso que o livro trata, de forma crua e direta. Mostrando como uma pessoa pode ser levada ao limite por causa do ciúme. Como essa pessoa pode abrir mão de viver um amor plenamente e como o ciúme pode levar à tragédia.
Tenham calma. Não estou contando o fim do livro. Estou contando só o começo. Estou contando só a primeira frase do texto que é: "Bastará dizer que sou Juan Pablo Castel, o pintor que matou María Iribarne." O resto da história está no livro. Muito bem escrito, aliás. Vale a pena ler.

Mulheres e as crises políticas

É muito interessante que dois dos acontecimentos políticos mais importantes dos últimos anos, depois do fim da ditadura militar no Brasil, tenham sido provocados pelas mulheres.

Se a gente se lembrar, o ex-presidente Fernando Collor só foi defenestrado do poder por causa de uma entrevista que seu irmão, Pedro, deu a uma revista, denunciando as práticas de banditismo de membros de seu governo. Daí, seguiram-se todas as investigações, a pressão da mídia, o clamor popular, o processo de Impeachment. Nada disso teria acontecido se Pedro não denunciasse Fernando. E Pedro não teria denunciado Fernando se este não tivesse tentado comer a Tereza. Ou seja, um presidente da república caiu por ter tentado comer a cunhada!

Na crise do mensalão, após as denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson e das CPIs, por mais que a oposição e a mídia tentassem, nada conseguia derrubar o presidente Lula e o ministro Palocci. José Dirceu caiu, Genoino caiu, além dos Delúbios da vida, mas os dois continuavam firmes. E o único momento em que Lula pareceu correr algum risco foi quando Palocci, finalmente, caiu. E por que Palocci caiu? Se a gente se lembrar bem, o ponto culminante foi uma denúncia de um ex qualquer coisa, o Buratti. E por que é que o Buratti denunciou o Palocci? Justamente pelo fato de que o Palocci, naquelas animadas reuniões na casa de Ribeirão Preto, com aquelas animadas meninas de programa, cismava em comer justamente a menina de quem o Buratti gostava. Um super ministro caiu por ter comido a mulher errada!

E não é só no Brasil que isso acontece. Quem não se lembra das acrobacias tabagistas do ex-presidente Clinton com a estagiária? Pois foi por estas estripulias que o partido democrata não conseguiu emplacar o sucessor do Bill. Afinal, uma parcela grande do povo americano acha pior um presidente que goste de receber uma chupetinha na casa Branca do que um que goste de invadir países e jogar bombas nas pessoas. É uma gente que gosta de ter armas em casa pra defender a propriedade e acha que ser casado com alguém é a mesma coisa que ter uma propriedade.

E ainda dizem que a política é dominada pelos homens!


quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Mau recomeço

Arlindo Chinaglia tem o apoio do PMDB e Aldo Rebelo tem o apoio do PSDB e do PFL. Olhando assim, fica difícil saber quem está mais mal acompanhado. E tem ainda o apoio do PT que, embora importante em termos de votos, perdeu sua aura de partido eticamente mais respeitável, comparado aos outros. Se depender de retrospecto, Aldo sai perdendo, já que sua presidência da Câmara foi pautada pela indecisão e covardia, principalmente na novela do reajuste dos salários dos parlamentares. De qualquer forma, esta disputa parece que já dá a tônica de como vai ser o segundo mandato do presidente Lula, ou seja, como no primeiro, grosso modo, terá a mesma cara dos governos anteriores.

Digo grosso modo, pois consigo identificar aqui e ali, avanços isolados em relação aos governos anteriores. Isto, entretanto, é muito pouco.

Lula foi eleito, há 4 anos, graças, em parte, à esperança de que seu governo seria, de alguma maneira, revolucionário, principalmente no que diz respeito a avanços sociais. Estes avanços não vieram na medida em que seria necessário. Houve uma campanha monstruosa no sentido de desestabilizar sua candidatura, em que a grande mídia usou e abusou de todos os artifícios, conhecidos e desconhecidos. Direita e esquerda se uniram para derrubá-lo. Mesmo assim, ele foi reeleito, principalmente devido à fragilidade das outras alternativas. Isto deveria significar um poder enorme, no início de mandato. Seria a hora de implementar as tão necessárias mudanças na condução da economia e na implantação dos avanços sociais. Nada indica, porém, que ele vá seguir nesta direção.

O que eu sempre admirei no Lula, desde os tempos do sindicato em São Bernardo, foi sua capacidade de articulação política. Foi inovadora a sua maneira de negociar com um empresariado destreinado nas práticas democráticas e acostumado com um sindicalismo pelego, herança de muitos anos de tutela do governo ou de partidos políticos. Lula inovou a forma de discussão, esquivou-se dos partidos viciados e encaminhou a fundação de um novo partido, o PT, que seria diferente de tudo o que havia até então. O tempo mostrou que nem o PT conseguiu ser diferente e nem Lula conseguiu manter sua característica inovadora na forma de fazer política. Treinado por diversas derrotas eleitorais, foi se adequando e se assemelhando aos políticos tradicionais, tão criticados por ele, ao longo de tantos anos. Pior, conseguiu contaminar o PT e transformá-lo num partido ralo, sem estirpe, comparável a qualquer PMDB da vida.

Defendi a eleição de Lula para esse segundo mandato, mas não é por isso que me sinto na obrigação de defender o modus operandi que seu governo adotou no primeiro e, aparentemente, seguirá adotando nos próximos 4 anos.

Não será mantendo Henrique Meirelles no Banco Central e aproximando-se de Delfin Netto, que teremos um governo capaz de promover as mudanças sociais que o Brasil precisa e o seu povo anseia.

sábado, 6 de janeiro de 2007

De arrepiar

É inevitável que este post saia cheio de links. Sim, embora possa parecer exagerado, esses títulos sublinhados são necessários pra falar de Maurício Tapajós, dada a grande quantidade de obras primas compostas por ele, em parcerias com vários poetas, entre eles, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e Cacaso.

Pesadelo, Querelas do Brasil, Agora é Portela 74, Estrela guia, De palavra em Palavra, Samambaias, Desalento, Mudando de conversa, Entre o torresmo e a moela, Aparecida, Faz tempo e aquele que, na minha opinião, é o grande hino da anistia, Tô voltando, são apenas alguns exemplos de uma vasta lista de canções deste compositor, falecido tão precocemente.

E depois de dez anos de sua morte, a gravadora do CPC-UMES lança o CD Sobras Repletas, com canções inéditas ou pouco conhecidas deste autor. Interpretadas por artistas de primeira linha de nossa música popular como Chico Buarque, Joyce, Zé Renato e Zélia Duncan, o disco mostra muito da sua versatilidade. Além do mais, Mauricio Tapajós sempre foi um músico muito respeitado por sua classe, devido à sua luta incessante (e inglória) pelos direitos autorais, sempre tão mal administrados neste nosso país.

É neste CD que eu pude ouvir, pela primeira vez, uma música gravada pelo MPB4 em sua nova formação, com Dalmo Medeiros no lugar de Ruy Faria.



É encantadora a interpretação de Mônica Salmaso na canção Desconsolo, uma parceria dele com Nelson Cavaquinho e Hermínio Bello de Carvalho.



Mas emocionante mesmo, é a canção Surdina composta por ele e Cacaso, na voz de Tatiana Parra. É de arrepiar, sinceramente.
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Saudade do Vinil

Tenho achado esse blog muito saudosista. Mas não é culpa do blog não. É culpa minha, que acabo revelando meu caráter um tanto conservador. Pois foi justamente por causa do blog que eu fui revirar meus velhos vinis para escolher músicas para colocar na coluna PRA OUVIR, aí à sua direita, na barra lateral. Selecionei algumas canções que me dão saudades e que não foram nunca lançadas em CD, ao menos nestas gravações. E namorando as velhas bolachas, eu me dei conta de como elas me encantavam muito mais do que os atuais CDs. E muito deste encantamento se deve aos encartes que acompanhavam os discos.

Já contei aqui, neste blog, que não acompanhei a evolução dos Beatles enquanto ela acontecia, vindo a descobri-los somente depois do fim do grupo. Mas o disco Imagine de John Lennon, eu comprei assim que saiu no Brasil. E além das canções maravilhosas, o que me deixou encantado foi o pôster em que ele tocava um piano branco numa sala, também, toda branca. Acho que aquele foi o primeiro pôster que eu colei na parede do meu quarto. Ouvia o disco novo olhando pra ele e deixando minha imaginação fluir, sem entender uma palavra do que aquelas letras diziam.

Os discos dos Beatles eu fui comprando aos poucos. Como o dinheiro era curto, comprei inicialmente duas coletâneas e demorei bastante para comprar todos os oficiais. O Álbum Branco foi o último, já que, por ser duplo, era o dobro do preço. Valeu a pena. Além das ótimas músicas, que eu então, já entendia as letras, ganhei encartado um enorme pôster, que só não foi pra parede porque no seu verso tinha todas as letras das canções.

Sei que há, hoje em dia, muita variedade e soluções criativas na confecção das capas e encartes dos CDs. Gosto, especialmente das capas feitas de papelão, como as da gravadora Biscoito fino. O papel sempre me pareceu mais aconchegante do que o plástico. Há limitações de espaço, entretanto. Ainda mais agora, que à minha miopia veio se juntar esta praga que é a vista cansada (o que me obriga a usar os tais óculos multifocais), é sempre um grande martírio ler as letras das músicas nos encartes.

Hoje, quase não ouço os meus vinis. Acostumei-me ao som sem chiado, rendendo-me à tecnologia. Além do mais, tenho preguiça de procurar a faixa das músicas preferidas. Mas cada vez que os pego nas mãos, vem uma saudade gostosa. Saudade de um tempo musical saboroso e saudade de capas e encartes que fizeram a minha cabeça.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Tem BLOG novo no ar !


Acaba de sair do forno o blog da Clélia!

O endereço é www.achadoseguardados.blogspot.com e através dele ela nos brindará com suas sempre eloqüentes indicações, fruto de suas pesquisas reais e virtuais.

É um endereço que vale a pena visitar sempre.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Conservadorismo e modernidade

Sou bem conservador em pelo menos 2 assuntos (devo ser em muitos outros, mas é sempre penoso reconhecer). Um deles é a música. Gosto muito de samba, mas abomino os conjuntos de pagode que se aproveitam da onda sem nunca terem ouvido falar em Cartola ou Silas de Oliveira. Gosto bastante de música caipira, mas não suporto ouvir essas duplas sertanejas moderninhas, cantando essa coisa medonha que é a música de corno. Tenho bastante dificuldade com as manifestações musicais mais modernas, como o Rap, o Hip Hop ou a música Techno. Sei compreender sua importância social como instrumento de manifestação de um extrato de classe ou faixa etária. Só que não consigo gostar. Não bate no paladar. Não me toca. Reconheço que é uma limitação minha. Uma coisa meio tacanha.

O outro assunto em que demonstro meu conservadorismo é a pizza. Pizza, pra mim, tem que ser de mussarela, calabresa ou aliche. Até admito uma portuguesa, mas não me venham com catupiri em cima dela que eu rejeito. Muito menos frango ou tomate seco. Até àquele hábito carioca de picotar toda a pizza em quadradinhos e comê-la com um palito eu torço o nariz. E quando um amigo sulista pede maionese e catchup numa pizzaria, eu explico que em São Paulo isto pode dar prisão preventiva.

Certa vez, fomos, eu e a Clélia, na pizzaria Piola, em Campinas. Entre nos sentarmos, recebermos o cardápio e nos percebermos submetidos a uma música techno no máximo volume, não se passou nem um minuto. Não precisamos falar nada, um pro outro. Nos olhamos, nos levantamos e saímos de lá correndo, sob os olhares atônitos e surpresos dos gançons. Não era a nossa praia.

Pois bem. Ontem, primeiro dia do ano, resolvemos comer uma pizza, à noite. Sabemos que muitos restaurantes fecham neste dia (ainda mais, sendo uma segunda-feira). Ligamos pro Brás, nossa preferida, e nada. Nossa sempre segunda opção, a Fidúcia, também estava fechada. Pizzarias medianas como Montebello ou Pizza d’Oro estavam funcionando, mas estas não nos apetecem. E aí, ligando pra outras casas, nos atende a Pizzaria Piola. A menina foi simpática. A Cecília vive dizendo que a pizza de lá é boa. Era o primeiro dia do ano. Resolvemos encarar.

E não é que foi bom? Escolhemos uma pizza individual, cada um. A da Clélia, tinha um recheio nada convencional. Estavam ótimas. Fizemos um troca-troca de sabores e saímos de lá super satisfeitos. O mais surpreendente é que até a música agradou, com uma mistura de pop, rock brasileiro dos anos 80 e até um pouco do abominável techno que não comprometeu.

Saí de lá positivamente surpreso. Com o local e comigo mesmo. Será que estou ficando mais moderninho?


Lidando com as palavras

Nem sempre concordo com as opiniões de Nelson Motta. Sua preferência musical por tudo o que é Pop, ou seja, tudo o que é vendável, está bem longe do meu critério de escolha daquilo que quero ouvir. Sua tendência de encarar a música como um produto, independente da qualidade, faz com que numa canção, seja mais valorizada a sua capacidade de ser comercializada do que sua letra ou melodia.

Não posso negar, entretanto, que ele sabe lidar com as palavras. Autor de inúmeras letras medianas, foi capaz de pelo menos duas obras primas: O Cantador e Saveiros, ambas em parceria com Dori Caymmi.

Além disto, é autor de dois livros interessantes, narrando experiências pessoais: Confissões de um torcedor, onde conta sua participação na cobertura das copas de 82, 86, 90 e 94 e Noites Tropicais, em que narra sua ligação com o mundo da música. Com tarimba forjada em muitos anos de prática jornalística, seu texto flui fácil e agradável. Esta prática, em geral, não garante qualidade quando um escritor cisma de se aventurar na seara da ficção. E é neste aspecto que Nelson Motta surpreende.

Em 2002, lançou seu primeiro romance, O Canto da Sereia e dois anos depois, Bandidos e Mocinhas, ambos policiais. Agora, acaba de lançar seu terceiro romance, Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo. Neste livro, o autor faz uso mais profundo da sensualidade para pontuar sua narrativa. Descreve um Rio de Janeiro do comecinho da década de 1960, prestes a entrar no período de falso moralismo do governo de Jânio Quadros. A cidade que o livro retrata respira os últimos ares da época de glamour e liberdade de JK . Era a época da Bossa Nova e do namoro da nossa música com a americana. É a época em que a classe média brasileira começa a sonhar mais fortemente com os confortos do American way of life. Misturando bossa nova, futebol e carnaval, os personagens envolvem-se, do começo ao fim, num jogo erótico, sem que nada, na narrativa, precise ser explícito.

É um livro de amor, amor verdadeiro, que anseia por liberdade. Como todo amor deve ser.