Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Quaresma

Tirei do Aurélio:

carnaval [Do it. carnevale.]
Substantivo masculino.

No mundo cristão medieval, período de festas profanas que se iniciava, geralmente, no dia de Reis (Epifania) e se estendia até a quarta-feira de cinzas, dia em que começavam os jejuns quaresmais.

quaresma [Do lat. quadragesima.]
Substantivo feminino.

Rel. Os 40 dias que vão da quarta-feira de cinzas até domingo de Páscoa, destinados, pelos católicos e ortodoxos, à penitência; quarentena.

Acho isso absolutamente injusto. 40 dias de penitência em troca de só 4 dias de pecado? Isso está muito desproporcional. Resolvi inverter e escolhi meu pecado mais patente: a gula.
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Neste carnaval, estamos fazendo uma dieta de SPA. Peixinho grelhado, arroz integral, saladas, frutas. Nada de bebidas, nada de açúcar.
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A partir de quarta feira de cinzas, recomeço a pecar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Como Sempre

A corrida pela sucessão presidencial está a todo vapor. Tudo com o script de sempre. Tem gente fingindo que não é candidato, tem gente se fingindo de morto, tem gente se fingindo de aliado, tem gente fingindo indignação pra gerar fato jornalístico. Como sempre.

A grande mídia tem desempenhado o seu papel preferido, ou seja, o de fingir imparcialidade, coisa que nunca existiu e nunca existirá. Praticamente sem exceção, os grandes veículos de (des)informação têm trabalhado pesado pra desqualificar a candidatura de Dilma Roussef e enaltecer a de José Serra, como já ocorreu nas duas eleições de Lula. Como sempre.

Nem o rádio escapa. A estação CBN, aquela que não toca música, só toca notícia, tem uma abordagem bastante objetiva nas entrevistas, mas conta com um time de “comentaristas” pra lá de conservadores, como Mirian Leitão, Arnaldo Jabor e Lúcia Hipólito. Esta última, descaradamente pró Serra.

Só tem uma novidade, este ano. Ao lado da mídia, ao lado das redes de TV, dos jornalões e das revistonas, temos também os grandes blogs. Não falo dos blogs insignificantes, como este aqui e tantos outros que há por aí. Falo dos blogs dos jornalistas famosos. Aqueles que têm, também, um espaço privilegiado nos veículos da grande mídia. Quase todos, alinhados com a posição dos grandes jornais, seus empregadores.

O blog mais emblemático, dentre estes tantos, é o de Reinaldo Azevedo, que tem também uma coluna na Veja. É nitidamente contra o governo Lula e descaradamente pró PSDB e DEM. Seus textos recebem uma enormidade de comentários, dos quais se vangloria, embora o excesso de comentários feitos por anônimos, todos eles elogiosos, me faça desconfiar de trapaça. Eu mesmo fiz um pequeno teste, enviando dois comentários, identificando-me, um deles criticando seu texto e outro bastante neutro. Nenhum dos dois foi publicado. Fiz então, mais um comentário como anônimo, elogiando e este foi publicado rapidamente. Não é um blog pra se levar muito a sério, mas, aparentemente, é bem lido. Como tantos outros que seguem a mesma linha.

Há, entretanto, 3 exceções:

O Blog de Luis Nassif tem se esmerado em criticar o governador José Serra, sem adular o governo de Lula. Entre os 3, é o mais sóbrio, até mesmo pra combinar com a mineirice de seu autor. Isso acabou lhe custando o emprego na TV Cultura, que deveria ser uma TV pública, mas, na verdade, é uma emissora a serviço do governo (ou do governador) do estado.

O blog do Paulo Henrique Amorim é o mais zombeteiro dos 3, escrachando, de forma virulenta, o governador e o PSDB, em geral, expondo seus erros, vícios e crimes, abusando do uso de apelidos e do deboche fácil. Tem um conteúdo correto, mas seu formato beira o pastelão. O que eu menos gosto, entre os 3.

Entre os 3, aliás, o meu preferido é o do Mino Carta, que acaba de publicar seu texto A despedida, no qual promete abandonar o espaço, por absoluto desânimo. É o mais equilibrado e o mais transparente. Ao mesmo tempo em que declara sua admiração pelo presidente Lula, não se exime de criticá-lo. Assim como na revista Carta Capital, que ele comanda, as maiores críticas são dirigidas ao banqueiro Daniel Dantas e a quem pertença à sua quadrilha. Mostra com muita ênfase as relações que o banqueiro mantém e mantinha com os governos e políticos tucanos.
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Como eu disse, o blog do Mino Carta é o meu preferido e a leitura da sua despedida só fez aumentar minha admiração, pois reproduziu, com muita fidelidade, a sensação de desânimo e decepção que eu também estou sentindo. Em relação ao governo, em relação à política, em relação ao Brasil. Como nunca.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Coração de manhã

Sábado de manhã, céu nublado, tempo escalafobético. Um bom dia pra ir ao cardiologista, consulta anual de rotina, saber se a coisa tá bombeando direito e se os tubos estão num estado razoável. Espero não precisar de um flushing ou uma decapagem (quem não for engenheiro, que vá ao dicionário), até porque, não sei se dá pra fazer nas veias o que fazemos em tubulações hidráulicas.

A coisa boa da consulta é que será com o Murilo, um médico que, com tantas afinidades, já virou amigo. É ele que, enquanto espeta eletrodos no meu peito, pra verificar como as coisas estão funcionando, me dá umas dicas imperdíveis sobre os sabores de Campinas e arredores. É durante a consulta e os exames que a gente troca experiências gastronômicas e literárias, duas de minhas paixões.
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Vou pra lá e, na volta, passo no mercado pra comprar peixe, camarão e alho poró. Afinal, sempre que visito o cardiologista, saio de lá com fome e cheio de idéias.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Risco

Pouca gente se arrisca. Afinal, é muito mais seguro garantir o equilíbrio, o conforto, a paz. Acontece que a paz e a tranqüilidade, às vezes tão ansiadas, não movimentam o mundo. Não movimentam a gente. Arriscar nos tira do marasmo, mexe com a nossa cabeça, nossos sentidos, nossos sentimentos.

O medo é o sentimento que logo aflora quando arriscamos. E esse sentimento, o medo, que tanta gente teme e dele foge, é esse sentimento que, muitas vezes, nos acorda pra vida, pra real vida. Quando vencemos o medo, quando o enfrentamos, quando o buscamos, estamos dando a chance, abrindo uma brecha pra que a felicidade se instale na nossa vida. Mesmo que seja uma felicidade efêmera, até porque, toda felicidade é efêmera. Ao menos, a real felicidade.

Não arriscar significa fugir pra dentro da gente. Significa empobrecer-se, grudar nas nossas convicções mais profundas e se fechar pra novas descobertas, novos prazeres. De novo, a felicidade.

Muita gente evita arriscar. Evita improvisar, sair da linha. No futebol, na política, no amor, na arte.

Tomemos a música, por exemplo. Há uma verdadeira enxurrada de cantores e cantoras que optam pelo óbvio. Gravar um disco repleto de sucessos. Um disco com músicas consagradas, de compositores inquestionáveis. Eu sempre fico com um pé atrás quando me deparo com um disco assim:

Fulano canta os sucessos de Tom Jobim

Os grandes sucessos de Elis Regina na voz de Sicrano

Coisas deste tipo, que denotam uma desesperada tentativa de emplacar, de atingir a fama.

E foi com essa expectativa que comecei a ouvir o disco São bonitas as canções – As parcerias para teatro de Edu Lobo e Chico Buarque, da cantora Marianna Leporace. Inacreditavelmente, o disco me surpreendeu. Não porque a voz da cantora ou seu poder de interpretação fossem revolucionários. Nada disso. São bem comuns, na verdade. O que surpreende são os arranjos, o acompanhamento. Na verdade, o disco reúne faixas em que, além da voz, há apenas um singelo piano. Singelo, porém rico. O piano de Sheila Zagury.
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É isso que salva o disco. Faz mais. Dá um brilho excepcional a cada uma das faixas, fazendo com que a gente queira ouvir a próxima, ansiando pela idéia, pela inovação. E nesse sentido, o disco não é linear, absolutamente. Cada canção, cada frase, cada palavra, vem embalada num acorde novo, num arranjo inovador. Em cada faixa do disco, vem embutido um risco.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Tristes tempos

Quem acompanha este blog, há algum tempo, já pôde ler aqui, aqui ou aqui, que gosto mais de futebol do que de torcer. Só que não foi sempre assim. Eu me descobri torcedor do São Paulo, ainda na infância, antes de me interessar por futebol. Aos poucos, fui gostando, cada vez mais, deste esporte, na mesma proporção em que fui achando essa coisa de torcer uma bobagem.

E, por gostar de futebol, aprendi a apreciar os bonitos jogos, aqueles inesquecíveis, fossem do São Paulo ou de outro time qualquer. Foi por gostar de futebol que descobri que é possível apreciar um jogo entre Ipatinga e Valeriodoce, contando que ambos os times joguem bem.

É por gostar de futebol que me vejo, às vezes, na frente da TV assistindo jogos do Milan, do Manchester United ou do Barcelona, só pra ver Kaká, Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi jogarem.

Foi por gostar de futebol que eu me encantei, no final da década de 70, com o futebol praticado em Campinas. Naquele tempo, nenhuma outra cidade tinha dois times tão valorosos como Guarani e Ponte Preta. E eu me embevecia vendo Oscar, Careca, Dicá, Renato ou Zenon jogarem.

É por tudo isso que me entristece perceber que, às vésperas de um clássico campineiro, às vésperas de um jogo Guarani x Ponte Preta (07/02 – 19 h – Brinco de Ouro da Princesa), às vésperas do tal “derby”, fala-se menos do futebol que podem jogar os dois times e mais a respeito do aparato policial que terá que ser montado pra segurar a ira das duas torcidas.

Tristes, estes tempos atuais.