Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 11 de julho de 2015

Erotismo com elegância e ardência

Mario Vargas Llosa é um escritor peruano muito profícuo, que também se aventurou pela política. No campo político tem um pensamento bastante conservador, o que pode ser percebido através da leitura de sua coluna no jornal espanhol El País. É como contador de histórias, entretanto, que se expressa de forma mais proveitosa.

Uma das características que mais me encantam em sua prosa é a capacidade de dosar o erotismo com elegância e ardência, ao mesmo tempo. Tive meu primeiro contato com isso há mais de 40 anos, lendo Pantaleón e as visitadoras e com Travessuras da menina má, há menos de 10 anos. Em ambos, o erotismo era um ingrediente utilizado com sabedoria. Exatamente entre estas duas obras, escreveu Elogio da madrasta, que eu só vim a ler agora.

Neste livro minúsculo, em lugar do erotismo ser um ingrediente da história, é, na verdade, seu único e principal tema. Apesar disso, consegue trabalhá-lo com diversos enfoques, utilizando a técnica de alternar a narrativa da trama central, bem simples, aliás, com interpretações criativas de quadros de Francis Bacon e Fra Angelico, entre outros. Como a edição que li era um livro de bolso, não pude apreciar, de forma apropriada, as obras de arte, mas isso não teve importância graças ao velho amigo Google, que me salvou. Nesta página é possível degustar, em boa resolução e em cores, as obras utilizadas no livro.

Quando digo que a trama é bem simples, isso não quer dizer que a narrativa não seja soberba. Na verdade, até mesmo um capítulo que ele dedica a temas escatológicos é escrito com graça e engenhosidade.


Isso é Mario Vargas Llosa. Quem dera todos os pensadores conservadores tivessem tanta perícia ao escrever ficção.