Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 30 de setembro de 2018

Histórias musicais


A música brasileira que mais me interessou, ainda na infância, foi aquela que se convencionou chamar de MPB e que surgiu nos festivais da TV Record, em meados da década de 60, no século passado. Naquele momento, uma geração de jovens compositores, todos ao mesmo tempo, despontaram no cenário musical ostentando uma criatividade inacreditável.

No resto do mundo, aquele período era o prenúncio de uma época iluminada, do desabrochar das liberdades individuais, e que culminaria com maio de 1968. Enquanto isso, no Brasil, mergulhávamos num período de sombras, culminando com o AI-5, em dezembro daquele mesmo ano.

Mais tarde, eu fui perceber que a música produzida por aquela geração genial não teria acontecido se não fosse o samba e a Bossa nova. Sem o samba e a Bossa nova, provavelmente não teríamos a MPB e, se não tivesse existido Pixinguinha, Noel Rosa, Ismael Silva, Tom Jobim e João Gilberto, arrisco-me ao palpite de que Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, teriam sido um arquiteto convencional, um obscuro crítico de cinema e um gestor de empresas engravatado e careta, respectivamente.

Wilson das Neves classificava a Bossa nova como um sub estilo do samba, mas essa é uma análise muito simplista. Nascida no Rio de Janeiro, seria impossível ela não ter os genes do samba em seu DNA, mas sofreu, também, uma enorme influência do jazz americano.

Tanto o samba quanto a Bossa nova têm seus personagens emblemáticos e, nos dois casos, são infinitas as histórias que os envolvem. Duas boas oportunidades para conhecer algumas destas histórias são os livros O Barquinho Vai... – Roberto Menescal e suas histórias, escrito por Bruna Fonte e Taberna da Glória e Outras Glórias – mil vidas entre os heróis da música brasileira, organizado por Ruy Castro.


Os personagens destes dois livros, Roberto Menescal e Hermínio Bello de Carvalho, respectivamente, têm quase a mesma idade (80 e 82), podem ter cruzado suas trajetórias em diversos momentos da vida, mas vêm de origens bem diversas e trilharam caminhos distintos, no cenário da nossa música. Enquanto Hermínio, filho de empregada doméstica, chegou ao topo da carreira à custa de muito trabalho infantil e passando necessidades, Menescal sempre foi um típico representante da classe média alta, com todos os privilégios que, ainda hoje, beneficia esta casta, no Brasil.

A música a que cada um deles se associa tem, também, características distintas. Enquanto o samba tem seu caráter de resistência, de luta do povo pobre, principalmente o negro, pela busca da dignidade na sociedade, a Bossa nova foi uma música produzida e consumida pela parcela da sociedade mais afortunada.

Apesar destas diferenças socioeconômicas, ambas têm sua sonoridade particular, complexa e extremamente importante para a identidade estética de nossa música.

Os dois livros têm uma característica em comum. Nenhum deles foi escrito, diretamente, por seu personagem. O livro com as histórias de Hermínio Bello de Carvalho é uma compilação de textos publicados em outros livros de sua autoria, já fora de catálogo, além de textos esparsos recolhidos pelo incansável Ruy Castro, exímio autor de biografias importantes (Garrincha, Nelson Rodrigues, Carmem Miranda). Já as histórias de Menescal foram contadas, verbalmente, para Bruna Fonte que as transcreveu, mantendo o relato na primeira pessoa e, com isso, dando um caráter muito intimista a ele.

No livro de Hermínio desfilam personagens como Pixinguinha, João da Baiana, Cartola, Dona Zica e Dona Neuma, Elizeth Cardoso, Emilinha Borba, Isaurinha Garcia, entre tantos outros. O capítulo mais interessante é o que discorre sobre seu convívio com Aracy de Almeida, no qual se consegue enxergar a real importância desta cantora (a mais fiel intérprete de Noel Rosa) e o quanto sua imagem, estereotipada, da ranzinza jurada de programas de calouros, como os de Chacrinha e Silvio Santos, foi uma imagem fabricada para dar audiência aos programas, estratégia à qual Aracy aquiesceu e foi conivente.

No livro de Menescal, como não poderia deixar de ser, os personagens presentes são os precursores e os fundadores da Bossa nova. Interessante perceber a diferença das duas frentes em que ele atuou, no cenário musical, primeiro como músico (compositor e instrumentista) e, depois, como produtor musical e como diretor de uma importante gravadora de discos, à época. É interessante, também, verificar, nesta trajetória, o momento em que abandonou a carreira de executivo extremamente bem pago, para pegar a estrada e voltar a fazer shows pelo mundo todo, depois de 15 anos sem tocar em um violão.

Uma característica que me agrada muito, em ambos os livros, é o fato de que os relatos sobre a vida privada dos dois são praticamente inexistentes. Eu, particularmente, quando leio sobre um artista, tenho muito pouco interesse em sua intimidade. Me interessa muito mais a sua obra. E isso, os dois livros têm de sobra.


domingo, 23 de setembro de 2018

O som de Rod Stewart que me empolga


O rock e o pop de Rod Stewart nunca me empolgaram. Eu o conheci, ainda bem moleque, quando um primo me mostrou o compacto simples (há quem não saiba bem o que é isso, mas o Google sabe) daquele desconhecido cantor, com a canção Maggie May. A canção, em si, não me disse nada, mas me chamaram à atenção sua voz rouca e o arranjo em que uma guitarra acústica e um órgão produziam um som parecido ao de uma gaita de foles. Àquela época, eu nem sabia que ele tinha ascendência escocesa.

Logo depois, o cantor iniciou uma carreira de grande sucesso, que nunca me animou a comprar algum de seus álbuns. Afinal, excetuando os Beatles, a música pop (inglesa ou americana) nunca fez minha cabeça. Das terras do Tio Sam, o que sempre me seduziu foi o jazz e, sobretudo, seus Standards.

A partir de 2002, Rod Stewart iniciou uma série de gravações de discos que foram intitulados The Great American Songbook. Foram 5 volumes em que o cantor desfilava clássicos da Brodway dos anos 1930-50. Standards, como se diz por lá, dos mais importantes compositores americanos, como Irving Berlin, Cole Porter, George & Ira Gershwin, Rodgers & Hart, Johnny Mercer, Jerome Kern, Harold Arlen, entre outros.

Ella Fitzgerald já havia gravado discos com músicas de todos eles, os famosos songbooks, mas foi uma surpresa ouvir estas canções na voz do astro pop britânico. Uma feliz surpresa, devo dizer.

Nesta série de discos, Rod Stewart é acompanhado de orquestra e a combinação cai muito bem. Eu, pelo menos, gostei muito.





sábado, 22 de setembro de 2018

Estações Havana

Eu me interessei pela literatura policial de Leonardo Padura depois de ler O homem que amava os cachorros, de 2009, livro do qual já falei por aqui. Afinal, um autor que consegue manter o suspense, até o fim, em uma história que todo mundo sabe o desfecho, merece, ao menos, atiçar minha curiosidade. E foi com curiosidade que me pus a ler sua tetralogia Estações Havana. Devorei-os gulosamente.

A trama dos livros se passa nas 4 estações do ano de 1989, emblemático pela queda do muro de Berlim, na capital cubana, onde o tenente Mario Conde, detetive da Polícia, desvenda crimes.

Passado Perfeito, Ventos de Quaresma, Máscaras e Paisagens de Outono (inverno, primavera, verão e outono) foram escritos em 1991, 1994, 1997 e 1998, respectivamente e, em todos eles, além de um intrincado mistério a ser resolvido pelo indolente policial, o autor nos brinda com uma descrição detalhada da vida das pessoas na Havana daquele final dos anos 1980.

Como é de lei, em qualquer história policial, as investigações são entremeadas por relatos de romances calientes, crises existenciais, análises socioeconômicas e muito senso de humor. Assim como eu já havia constatado no livro de 2009, Padura aproveita a oportunidade para traçar um perfil da sociedade cubana, não se furtando a criticar o governo, sem cair, entretanto, na armadilha do maniqueísmo, que empobrece toda tentativa de reflexão. Saber captar, sempre, todos os lados de qualquer realidade, sobretudo aqueles que vão de encontro aos nossos preconceitos, é o que nos ajuda a enxergar o mundo com os olhos e a mente mais abertos.

A Netflix produziu e exibe, no Brasil, uma série, batizada 4 Estações em Havana, com o ótimo ator cubano Jorge Perugorría, baseada nos livros. Por algum motivo, que me escapa a compreensão, ela alterou a sequência das histórias. 

No último volume, o tenente Conde se demite da polícia para se dedicar à sua real vocação de escritor. Ele reaparecerá, entretanto, como um investigador autônomo, nos futuros livros Adeus, Hemingway; A neblina do Passado; O Rabo da Serpente e Hereges. Seu último livro, A Transparência do Tempo, deve sair em outubro, segundo promessa da Editora Boitempo.

Todos editados no Brasil, apenas Adeus, Hemingway está fora de catálogo. Publicado pela Companhia das Letras, é item raro e só se consegue achar exemplares usados e, mesmo assim, por preço bem salgado. Comprei o meu pela Amazon da Espanha, no idioma original e enviei à casa de uma amiga que mora em Madrid. Em sua última viagem ao Brasil, ela o trouxe pra mim. Nem preciso dizer que o devorei avidamente, como sempre é delicioso devorar os livros de Padura.



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Pitaco eleitoral - Candidatos


Jair Bolsonaro

A última pesquisa Datafolha apresenta Jair Bolsonaro com 28% de intenção de voto e 43% de índice de rejeição.

Bolsonaro é um político bastante conhecido, elegeu-se vereador há 30 anos e há 28 ocupa uma cadeira na câmara dos deputados, em Brasília. Ao longo do tempo, foi construindo uma imagem, através da mídia, muito sólida, mirando o voto do eleitor mais extremamente conservador. Nunca fez questão de esconder suas posições racistas, homofóbicas e misóginas, muito pelo contrário. Afinal, foram estas posições que garantiram os votos de uma parcela da sociedade identificada com estes valores e que sempre foram suficientes para lhe assegurar a manutenção do mandato.  Sua popularidade foi crescendo, ao longo destes 30 anos, tendo sido o 11° deputado federal mais votado do estado do Rio de Janeiro em 2010 e, em 2014, foi o 1° neste que é o terceiro maior colégio eleitoral do país.

É evidente que não se pode afirmar que 28% dos eleitores brasileiros sejam racistas, homofóbicos ou misóginos. O que parece fácil garantir é que aqueles que são racistas,  homofóbicos ou misóginos, votam em Bolsonaro. Não sei quanta gente é assim na nossa sociedade. Isso pode representar 1 ou 20%, pouco importa. Mais relevante, para mim, é a taxa de rejeição.

Se 43% da nossa sociedade rejeita Bolsonaro, significa que 57% dela não o rejeita (embora só a metade, neste momento, parece disposta a lhe dar seu voto). Ou seja, baseados nestes índices, poderíamos considerar que mais da metade de nossa população não se importa com o racismo e nem com a extrema violência que existe, no país, contra mulheres e homossexuais. Isso, para mim, é que é o mais assustador!

Fernando Haddad

Podemos dizer que a estratégia utilizada pelo PT para lançar Fernando Haddad como candidato obteve sucesso. A decisão de manter Lula, o preferido da maioria dos eleitores, como candidato, até o último instante que os xerifes do judiciário permitiram, foi acertada. Ao menos sob um ponto de vista estratégico.

Há chances de Haddad ir ao Segundo Turno. A pesquisa Datafolha indica que, caso isso ocorra, a disputa será acirrada. A militância do partido é aguerrida e os eleitores de perfil progressista que não votam no PT, de forma sistemática, tendem a se alinhar à sua candidatura, caso ele avance depois de 7 de outubro. O que me incomoda é que Haddad não é Lula. Não tem o mesmo carisma, nem a mesma capacidade de articulação política e, muito menos, a mesma representatividade que o líder encarcerado.

Amigos petistas argumentam que esta foi a alternativa possível, já que, tanto o impeachment de Dilma quanto a prisão de Lula foram ações ilegítimas, com o que tendo a concordar (por favor, não se confunda legitimidade com legalidade – acho que já passamos desta fase!).

De qualquer maneira, me desagrada a forma enviesada através da qual a candidatura foi construída.

Ciro Gomes

Ciro ocuparia o mesmo espaço ideológico do PT, situado numa posição de centro-esquerda. A dificuldade de composição entre ele e o partido de Lula obrigou-o a uma pequena movimentação em direção à direita. Está buscando se situar nesta posição de centro, que ficou, de repente, vaga com a corrida desesperada de Alckmin em direção à extrema-direita.

Ciro tem, a seu favor, ótimas avaliações como prefeito de Fortaleza e governador do Ceará, teve preponderante atuação como Ministro de Itamar Franco. Tem formação acadêmica sólida e, aquilo que é a menina dos olhos do eleitorado mais ingênuo, não tem processos consistentes por corrupção.

Contra si, Ciro tem uma personalidade irascível, sua marca registrada. É intrépido, de forma exagerada, e, nem tão eventualmente, costuma explodir quando a melhor estratégia, talvez, fosse a busca pela conciliação.

Geraldo Alckmin

O PSDB está despedaçado. Seus membros, artífices principais da tramoia que tirou Dilma do poder e impediu Lula de concorrer, envolveram-se em uma luta fratricida no interior do partido, o que deixou o ninho tucano em frangalhos. Alckmin lutou em duas batalhas, a primeira delas, iniciada, sorrateiramente, já em 2014, contra Aécio Neves, para conquistar a indicação de seu nome como candidato em 2018 e a outra contra Fernando Henrique para emplacar João Dória (aquele que ostenta um sorriso nos lábios e o ódio no olhar) como candidato à prefeitura de São Paulo e que, depois de eleito, tentou lhe passar a perna. Venceu as duas batalhas, mas, aparentemente, estas lutas exauriram sua energia (além disso, não encontra apoio entre os principais caciques do partido).

Sua campanha chega a ser patética. Atrapalha-se entre bombardear Bolsonaro, que lhe surrupiou parte generosa do eleitorado conservador e espinafrar o PT, tomando o cuidado de não criticar muito a figura de Lula. Sem rumo, escorrega na direção da extrema direita, tentando usurpar o discurso do concorrente milico, enquanto deixa a retaguarda desguarnecida e um espaço vago na região central do espectro ideológico, que Ciro está tratando de ocupar.

Ao fim das lutas, tende a ver o butim das batalhas vencidas lhe escapar das mãos.

Marina Silva

Temos, de novo, a Marina de sempre. Personagem com alto potencial eleitoral, porém virtual, fictício. Inicia toda e qualquer eleição com expressivos 20% nas pesquisas de intenção de votos que vai perdendo conforme tem que se expor, que se expressar publicamente. Nos períodos entre eleições, é uma figura política que se esconde. Furta-se a assumir uma posição nos momentos mais emblemáticos, para ressurgir na hora de um novo pleito com uma expectativa de apoio inflado e que acaba murchando, ao longo da peleja, devido ao seu seu discurso vazio.

Os nanicos

Entre os concorrentes que já começaram com nenhuma chance de vitória, há 3 que se animam a abrir um pouco as asas, sem chance alguma de levantar voo.

Henrique Meirelles ostenta uma cara de pau sem tamanho ao tentar se descolar da figura de Temer com a maior desfaçatez, como se nunca tivesse sido seu ministro da fazenda. Ao mesmo tempo, conduz a campanha eleitoral insistindo em colar seu nome e sua imagem à figura de Lula.

João Amoêdo, o queridinho das dondocas, apresenta-se ao eleitorado com duas falácias. Uma delas, a de que não é político e sim gestor. Plagia esta ideia estapafúrdia de Dória, mostrando que nenhum dos dois leu Aristóteles, que nos ensinou, há mais de 2300 anos, que “o homem é um animal político”. A outra falácia é a de apresentar seu partido como “novo”, como se, para isso, bastasse pintar um partido neoliberal qualquer, trocando o cinza para cor de abóbora. Algum dia, todas as pessoas vão entender que, se fosse possível fazer política sem políticos, ao time do Vasco da Gama bastaria tirar os jogadores de campo e substituí-los por “não jogadores”, para ser campeão.

Sobre Álvaro Dias, ele não tem nada a perder, pois retoma sua cadeira no Senado, seja qual for o resultado da eleição. Foge, entretanto, à minha compreensão o motivo de 3% do eleitorado ter intenção de votar nesta figura.

De toda forma, minha escolha já está feita. Nada, porém, impede que eu mude, na última hora, para um voto, digamos, um pouco mais útil.



Pitaco eleitoral - Pesquisas


Foi publicada, ontem, mais uma pesquisa do Datafolha de intenção de votos para presidente. Os gráficos mostram a evolução de cada um dos candidatos em pesquisa estimulada e espontânea, além da evolução do índice de rejeição dos mesmos, nas últimas 4 pesquisas (22/8, 10/9, 14/9, 20/9 – um mês, portanto).

   


Bolsonaro manteve um ritmo de crescimento praticamente constante (1% por semana) e, depois do atentado sofrido, que aumentou significativamente seu tempo de exposição no noticiário da TV, sua taxa de crescimento dobrou na pesquisa estimulada. Nas respostas espontâneas, entretanto, o gráfico mostra que o evento não teve tanta influência.

A maior taxa de crescimento percebida foi a de Fernando Haddad (3% por semana) tanto na pesquisa estimulada quanto na espontânea. Já Ciro Gomes é o que apresenta mais discrepância de crescimento quando comparados os dois métodos de pesquisa. Interessante perceber que as posições de Haddad e de Ciro se invertem, dependendo do método utilizado na pesquisa. (A pesquisa do IBOPE, menos detalhada, apresenta valores bem maiores para Haddad)

Alckmin patina num patamar constante. Não cai, mas não consegue crescer nem um mísero ponto percentual. Continua na mesma, após 20 dias de campanha no horário eleitoral, apesar de ser detentor de 44% do tempo total disponível de propaganda no rádio e TV.

Quem cai, ou melhor, despenca nas pesquisas, é Marina Silva que, a manter este ritmo, deve chegar no dia da eleição empatada com os candidatos chamados “nanicos”.

Por falar em nanicos, os 3, dentre eles, mais bem posicionados nas pesquisas, Álvaro Dias, João Amoedo e Henrique Meirelles, apresentam comportamento constante ao longo do mês, gravitando em torno de 3%, em situação de empate técnico. Na pesquisa espontânea, aliás, levando em conta a margem de erro, os três beiram o patamar de 0%.



  
O nível de rejeição a Bolsonaro, que crescia mais que o índice de intenção de votos, estacionou depois da facada. É difícil, porém, estabelecer se o evento teve influência neste fenômeno ou se atingiu a saturação. Os índices de rejeição a Marina e Haddad também são crescentes, enquanto se mantêm constantes (e baixos) os de Alckmin e Ciro Gomes.



A pesquisa mostra, ainda, que no segundo turno, apenas Ciro Gomes venceria Bolsonaro. Todos os outros cenários mostram um empate técnico.




Se eleição fosse uma coisa puramente aritmética, poderíamos fazer suposições baseadas nas pesquisas e levando em conta as intenções de voto em cada candidato pelo seu perfil. Assim, teríamos uma vantagem de 45% para o candidato conservador contra 35% para um candidato progressista. Por outro lado, a soma dos índices de rejeição aos candidatos conservadores é de 150% contra 135% referente aos progressistas. (Os valores acima de 100% se explicam pelo fato de que, quando um entrevistado responde em quem pretende votar, ele escolhe apenas um candidato, enquanto que, ao ser perguntado em quem não votaria em hipótese nenhuma, ele pode escolher mais de um).

Eleição, entretanto, não é uma coisa puramente aritmética. Além do mais, a soma dos percentuais dos indecisos, com os que pretendem votar em branco ou nulo é de 17% na pesquisa estimulada e de 41% na espontânea.

O que parece certo, de qualquer forma, é que, para o segundo turno, teremos um embate, mais uma vez, entre candidatos com perfil e discurso antagônicos. É bom que seja assim. Estimula uma reflexão mais ideológica, por mais que alguns queiram fugir desta discussão.

É muito melhor do que aquilo que, provavelmente, irá ocorrer em São Paulo, onde teremos 2 candidatos que representam o que há de mais obscuro no pensamento conservador de nossa sociedade. Será a oportunidade para que eu, pela primeira vez na vida, pratique o voto nulo.



quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Maturidade


No programa Fim de Expediente, que acontece às sextas-feiras, na rádio CBN, quase sempre com um convidado, o apresentador costumava fazer uma rodada de perguntas em que o entrevistado tinha que optar entre duas alternativas: Beatles ou Stones? Grande Otelo ou Oscarito? Bill Gates ou Steve Jobs? Spielberg ou Scorsese? E por aí vai.

Uma das perguntas, invariavelmente, era: Chico ou Caetano?

Sempre achei errada esta pergunta. Em minha opinião, ela deveria ser: Chico ou Gil?

De qualquer forma, tenho convicção de que estes três artistas são a real representação da geração mais criativa que a nossa música já teve. Muita gente boa veio depois, mas nenhuma chegou perto deles. E antes, também, tivemos artistas de altíssimo calibre, dos quais eles souberam beber da fonte.

Rondando os 75 anos, todos eles, há algum tempo não me empolgam seus discos com músicas inéditas. Não está embutida aqui uma crítica e sim uma percepção. Beirando os 60, eu compreendo, absolutamente, que, aos 75 anos, uma pessoa não esteja mais em seu ápice de criatividade.

De Caetano, o último disco que me empolgou foi Livro, e aí já se vão 20 anos. Depois disso, nos 4 álbuns que apresentaram composições inéditas, Noites do Norte, , Zii e Zie e, por fim, Abraçaço, ele foi caminhando por uma trilha que privilegiava a estética da música eletrônica e o ritmo sintetizado, coisa que não me agrada. Questão de gosto, reconheço.

Já faz 20 anos, também, o lançamento de As Cidades, o último disco de inéditas de Chico Buarque a me empolgar. Em seus 3 discos seguintes, Carioca, Chico e Caravanas, o compositor foi se aproximando, cada vez mais, de harmonias complexas, intrincadas, exageradas nas dissonâncias. Apesar de desagradar meus mal treinados (ou cansados) ouvidos, não posso deixar de reconhecer que em cada um destes discos, há, ao menos uma obra-prima: Dura na Queda, Sinhá e As Caravanas, respectivamente.

De Gil, diferentemente dos outros dois ícones da MPB, não se pode dizer que tenha enveredado por caminhos heterodoxos na prática de compor canções. Por outro lado, este artista não lançava um álbum com músicas inéditas (Fé na festa) desde 2010. Pois eis que, mês passado, acabou de sair OK OK OK, pela Biscoito Fino.

Possivelmente, seja o disco mais emotivo que Gil já tenha lançado. Cheio de referências ao seu momento pessoal, suas composições discorrem sobre atuação política, velhice, doenças e família. Recheado com canções dedicadas aos netos e à bisneta, estas configuram a parte menos interessante do CD. Há, entretanto, algumas obras-primas no disco, mostrando que, mesmo num momento mais intimista e emotivo, o compositor baiano não perdeu a verve poética. Muito pelo contrário.

Vale muito a pena prestar atenção em Jacintho, em que ele usa a figura de linguagem da aliteração com rara maestria. Em Yamandu, ele homenageia este genial violonista (Com seu violão ligeiro, parece que é pressa, mas é só suingue à beça e bossa e vibração no corpo inteiro. Só quem segue o Yamandu, é o frisson do pandeiro). Afogamento é de um lirismo comovente, que ele divide com a voz de Roberta Sá. Mais do que todas estas, entretanto, OK OK OK é a que nos convida para a mais pura reflexão, nestes tempos em que o ódio, definitivamente, está vencendo a tolerância no comportamento de nossa sociedade.

Uma dica: concomitantemente ao lançamento do disco novo, o Canal Brasil passa a exibir, semanalmente, o programa Amigos, Sons e Palavras, em que Gil, ao violão, dialoga com personagens expressivos da cena brasileira, como Caetano, Drauzio Varella, Juca Kfouri, entre outros.






A Volta


Em conflito entre a saudade do hábito de escrever sobre os temas que mais me seduzem (livros, música, cinema, gastronomia e política - não necessariamente nesta ordem) e a desativação da conta do Facebook, por puro enfado com o que circula naquela rede social, acabei chegando a uma solução que, talvez, me agrade.

As coisas que mais me afastaram do Facebook foram o exagerado exibicionismo e a desbragada exposição pessoal que imperam naquela casa do demo, fenômenos aos quais eu estava, também, sucumbindo. Afinal, eu, que nunca nutri qualquer curiosidade a respeito de onde as pessoas estão passeando ou o que estão comendo, sejam elas, amigos ou desconhecidos, me peguei, incauto, postando fotos de minhas viagens e dos pratos de comida colocados à minha frente, enquanto eles esfriavam. Ou seja, caí na armadilha.

Por outro lado, desativar a conta do FB me fez sentir falta da esperança de conseguir travar um debate construtivo sobre o mundo (e sobretudo o Brasil), no que diz respeito ao comportamento da sociedade e de expor a minha visão do que poderia ser construído para que tenhamos um planeta (e sobretudo um país) melhor. A bem da verdade, pouquíssimas vezes consegui participar de algum debate com um mínimo de respeito e elegância, já que a maioria das postagens do FB estão infestadas de fake news (por que não usar o termo mentiras, logo de vez?) e argumentações pobres de conhecimento, seja histórico ou filosófico. Nesta outra armadilha eu não caí, mas a tentação sempre foi grande. Reagi a tempo, felizmente.

Pesando tudo isso, cheguei à conclusão de que o melhor caminho que dirime meu conflito entre a sede de escrever e a ojeriza que nutro pela exposição e ostentação exacerbadas, será reativar meu velho blog Baú deTranqueiras (agora repaginado) e utilizar o FB apenas para veicular os textos que eu publicar.

Eu sei que blog parece uma coisa ultrapassada e que muitas pessoas têm preguiça de ler textos que contenham mais que um ou dois parágrafos. Mas aí já não é um problema meu. Cada um que lide como quiser com a própria preguiça.

Aproveito, também, para fazer um convite a visitar meu novo blog, Enfoque Racional, no qual irei postar textos sobre temas corporativos.















(foto retirada de LP de Nelson Gonçalves de 1967)