Gostei muito de ler
alguns livros da coleção Povos & Civilizações da Editora Contexto. Com a
proposta de esmiuçar a característica de uma determinada sociedade, utilizando
como linha de análise a história de seu povo, os textos nos ajudam a conhecer
melhor as idiossincrasias de cada elemento desta sociedade, permitindo-nos
escapar dos estereótipos e o consequente preconceito, armadilha que alimenta a
intolerância em relação ao desconhecido (ou mal conhecido).
O primeiro livro que li
foi Os Americanos, sobre o qual já escrevi aqui e que me ajudou a entender o
extremo individualismo daquele povo, característica que sempre me intrigou. O
segundo livro foi Os Espanhóis e, desta vez, ele serviu para que eu melhor
compreendesse as questões regionais, o sentimento de nacionalismo extremo,
levando parte da população ao desejo de separação, sobretudo no caso dos
catalães e bascos. Sempre tive um pé atrás em relação a esses movimentos, comparando-os
ao que acontece, no Brasil, em relação aos nordestinos, principalmente por parte
de algumas pessoas dos estados do sul do país. Este fenômeno, no nosso caso,
reflete um sentimento de extremo egoísmo e falta de solidariedade, mas, no caso
da Espanha, há uma enorme carga histórica para justificar as tensões.
Acabei de ler, agora, mais
um livro da coleção, Os Argentinos, escrito pelo jornalista Ariel Palacios.
Argentino de nascimento, tendo se mudado para o Brasil aos 3 anos de idade, ele
se define como um brasileiro nascido na Argentina. Entrevistado por Jô Soares
em seu programa de televisão, ele justificou esta definição utilizando outros
exemplos como o de Carmen Miranda, brasileira nascida em Portugal, Clarice
Lispector, brasileira nascida na Ucrânia ou Otto Maria Carpeaux, brasileiro
nascido em Viena.
Assim como os demais
livros da coleção, Os Argentinos utiliza a história como o fio condutor da
narrativa, mas, diferentemente dos outros dois que eu li, utiliza os símbolos associados
àquele país para melhor explicar o desenvolvimento daquela sociedade. Na verdade,
ele se vale, inteligentemente, de todos os clichês utilizados em relação aos
nossos mais importantes vizinhos, para explicar melhor suas características e
nos deixar escapar das armadilhas da simplificação. Emblematicamente, inicia o
texto falando da carne, símbolo máximo do país, seguido do tango, do futebol e
da política. Ao longo de todo o texto, pontua cada assunto com comparações
entre eles e nós, os brasileiros, ilustrando os capítulos com exemplos, na
maior parte das vezes, bastante divertidos.
Um dos momentos mais
interessantes do livro é aquele em que ele fala dos mitos argentinos, como Borges,
Gardel, Perón, Evita, Maradona, entre outros. Na verdade, ele desmistifica
completamente estas figuras, sobretudo Maradona, a quem desanca quase cruelmente.
Como o livro foi escrito em 2012, não há referência significativa a Jorge Mario
Bergoglio, que viria a ser eleito papa no ano passado. Teria sido interessante
ler alguma coisa sobre esta personagem que, em tão pouco tempo, já está
caminhando na direção de se tornar, também, um mito, o que é sempre perigoso.