Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Verdadeira Aula

Quem já teve a oportunidade de ler outros textos deste blog sabe o quanto eu gosto de música brasileira. Não gosto de Axé, não gosto de pagode, não gosto desta música sertaneja das duplas moderninhas. Gosto da música caipira feita pelas duplas tradicionais. Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Tião Carreiro e Pardinho. Gosto, sobretudo, de samba. Do samba autêntico, de raiz, de verdade. O samba é a música que mais me emociona. É o samba que me fez gostar de bossa nova. É o samba que me faz gostar tanto da música brasileira. Música que eu gosto de ouvir e de conhecer.

Pouco interesse eu tenho pelo rock e pela música pop americana. Não dizem nada pra mim. Há uma música americana, entretanto, que me encanta. É aquela música feita nos anos 40 e 50. A dos grandes compositores e grandes cantores. As músicas de Cole Porter, dos irmãos Gershwim, de Irving Berlim, cantadas por Ella Fitzgerald, Tony Bennett e Frank Sinatra. Gosto muito de jazz.



Não sou um grande conhecedor desta música. Sou daqueles que conhece pouco além dos Standards. E é por isso que devorei o livro Tempestade de Ritmos, de Ruy Castro. É uma coletânea de textos, publicados numa infinidade de revistas e jornais brasileiros, desde a década de setenta até este nosso século, escolhidos e organizados pela escritora Heloisa Seixas. Quem já leu O Anjo Pornográfico, sobre Nelson Rodrigues, Estrela Solitária, sobre Garrincha e Carmem, sobre Carmem Miranda, sabe que Ruy é um excelente biógrafo. É um pesquisador incansável e até mesmo obcecado na busca de detalhes e da verdade. E quem já teve seu Chega de Saudade nas mãos, sobre a história da Bossa Nova, sabe o quanto ele gosta da música brasileira de qualidade, a mesma que me encanta.

Pois neste novo livro temos, tanto o repórter detalhista quanto o apaixonado por música. É uma verdadeira aula de jazz, onde ele fala desde ícones como Miles Davis e Louis Armstrong até gênios esquecidos ou desconhecidos, como Lionel Hampton ou Joe Mooney. Dividido por assunto, há até uma pequena reunião de textos sobre música brasileira.

Eu aprendi muito com o livro e, quanto mais aprendia, mais eu o devorava. E enquanto o devorava, ia dando aquela vontade louca de ouvir as músicas produzidas por aqueles personagens. Música de um tempo de glamour. De um tempo em que as guitarras elétricas ainda não tinham iniciado sua massacrante vocação de destruir nossos tímpanos. Tempo em que as músicas tinham mais que 3 acordes. Tempo em que as letras tinham alguma inteligência. Tempo que ficou pra trás.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Nenhum sacrifício

Dentre as cidades do Nordeste que eu conheço, a que mais gosto é Fortaleza. Tem umas coisas diferentes aqui. Salpicada de turistas por todo lado e durante todo ano, Fortaleza é a cidade que mais sabe seduzir o turista, sem, entretanto, mimá-lo. É isso mesmo. A cidade não fica fazendo o que o turista quer. Ela faz o turista querer o que ela é. E ela é uma delícia de cidade. O tempo é bom (o ano todo), só chove nos momentos certos, tem o vento certo, tem o calor certo.

Tem todas aquelas praias belíssimas e distantes, mas não é isso que faz minha cabeça. Gosto mesmo é de tomar um táxi e depois de 10 reais e 7 minutos, me alojar numa barraca qualquer da Praia do Futuro e fingir que o resto do mundo não existe. E não precisaria existir mesmo, se eu pudesse continuar, indefinidamente, a beber cerveja e comer camarão.

Fortaleza tem uma aura que faz com que todo mundo se sinta contente o tempo todo. Mas não é aquela alegria fabricada como em Porto Seguro (que eu nem conheço) ou Salvador (que eu não achei, ainda, a graça). É uma coisa natural, um contentamento que se nota, como se todo mundo estivesse em sua cidade, em sua casa.

E não tem nem um décimo da violência e do trânsito insuportável de Recife.

Fortaleza é diferente. Foi uma das primeiras capitais a ter uma mulher na prefeitura e de esquerda, ainda mais. Tem vocação pra inovação. Fortaleza é inovadora até quando é conservadora. Tasso Jereissati comanda o estado de forma aparentemente moderna, mas não se iludam, não passa de um Coronel, como tantos os que existem nos estados do Norte e do Nordeste. É como foi um ACM e ainda é um Sarney ou um Jader Barbalho. É coronel, mas é um coronel mudérrrninho. Enfim, é diferente.

Passamos dez dias, em férias, em Fortaleza, há uns 5 ou 6 anos e estou hoje aqui, a trabalho. Mas, mesmo a trabalho, dá pra aproveitar um pouco esta aura. Passear pela orla no começo da noite antes de comer uma carne de sol ou um camarão na chapa.

É uma cidade onde eu toparia morar. Sem nenhum sacrifício.

sábado, 12 de janeiro de 2008

O Samba e o Violão

Samba combina com batucada. Mas o que eu gosto mesmo é de ouvir alguém cantando samba acompanhando apenas pelo violão. Melhor ainda se forem dois, um de seis e um de sete cordas. Aí, a combinação fica perfeita. Pois é exatamente isto que se ouve no CD O violão e o samba, com a cantora Dorina e Claudio Jorge e Carlinhos nos violões de seis e sete cordas, respectivamente.

Dorina é uma cantora sem nenhuma afetação. Não é como essas que andam surgindo por aí, acompanhadas de grandes jogadas de marketing, de grandes esquemas de divulgação, tentando tirar uma lasquinha da enorme popularidade que o samba tem na nossa terra. Dorina não toca no rádio e nem nas novelas. Dorina não entra no esquema do jabá, tão difundido em nossa mídia. Mas é uma cantora com a voz límpida, forte e clara. É daquelas cantoras forjadas em rodas de samba, na origem, na raiz.

Cláudio Jorge já pode ser considerado um bamba. É parceiro de sambistas de primeira como João Nogueira, Luiz Carlos da Vila, Wilson da Neves e Nei Lopes. Ou seja, o cara está sempre muito bem acompanhado. Tem qualidade cantando, compondo e tocando seu violão, aqui, neste disco, junto de Carlinhos 7 cordas.

O repertório do disco é um primor. Tem Nei Lopes, Baden e Paulo Cesar Pinheiro, Moacyr Luz e Martinho, Arlindo Cruz e Sombrinha. Tem Sidney Miller, Bide e Marçal, Candeia, Cartola, Chico Buarque. E tem, ainda, o samba que eu mais gosto de Paulinho da Viola.



Enfim, um disco de samba como o samba deve ser ouvido