Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 30 de junho de 2013

A Seleção que eu amei

Não digo isto embalado pelo clima das manifestações, mas eu torci o nariz para a realização da Copa do Mundo no Brasil desde que a tragédia foi anunciada, como escrevi neste texto aqui. Sentimento semelhante eu tenho a respeito dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.
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Falando de futebol, especificamente, não tenho me sentido empolgado com a Copa das Confederações e, pra que não digam que é por causa do resultado do jogo final contra a Espanha, estou escrevendo este texto antes da partida. Pra dizer a verdade, nem mesmo a Copa do Mundo tem me interessado muito nos últimos anos. E isso acontece, justamente, pelo fato de eu gostar muito deste esporte.
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Em 1970, eu tinha 9 anos e começava a me interessar por futebol. Daquela copa tenho, claras, duas lembranças. A primeira é do jogo Brasil x Inglaterra, quando acabou a energia na minha casa e eu acompanhei a partida pelo rádio de pilha, inaugurando um hábito que me acompanharia por toda a adolescência.
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A outra lembrança foi depois da partida final, que assistimos pela TV, na casa de minha avó. Mais do que o jogo, em si, o que ficou na minha cabeça foi a quantidade de soldados do exército que havia nas ruas durante a comemoração. Perguntei o motivo ao meu pai e ele deu alguma explicação protocolar, pra mudar de assunto. Só depois de alguns anos eu fui entender, melhor, o que se passava no nosso país naquela época.
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As seleções de 74 e 78 não me empolgaram, como não empolgaram ninguém que tivesse um mínimo interesse pelo esporte. E foi só em 1982 que voltei a me sentir, realmente, excitado com um time brasileiro numa Copa do Mundo. Nunca mais me senti assim, depois disso. Aquele time não ganhou a Copa, mas isso não faz nenhuma diferença.
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E é pensando no time de 82 que eu queria indicar o livro de Paulo Roberto Falcão, Brasil 82: O time que perdeu a Copa e conquistou o mundo. Neste livro, além de relatar alguns casos sobre aquele time e aquela época, Falcão pergunta a cada um dos companheiros, que jogaram com ele, o motivo do Brasil não ter saído vitorioso na competição. É muito interessante perceber como cada um dos ex-atletas tem uma versão distinta para o que aconteceu, mas, principalmente, perceber que a maioria deles, apesar da derrota, não se sente derrotado.

domingo, 2 de junho de 2013

Sexo comportado

No meio do feriado de 4 dias, ainda com ganas de ir ao cinema e sem ânimo pra viajar pra São Paulo novamente, procuramos as opções em Campinas. Busca inglória, acabamos escolhendo um filme argentino, motivados pelas últimas boas sensações experimentadas, nas telas, pelo que se produziu naquele país, nos últimos 15 anos. Filmes como 9 rainhas,  O filho da noiva, Kamchatka, O segredo dos seus olhos, Abutres ou Elefante Branco. Filmes com atores como Ricardo Darin e diretores como Juan José Campanella, que nos fazem morrer de inveja pelo fato do nosso cinema não produzir, há muito tempo, algo minimamente comparável a eles.
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O filme 2 mais 2, de Diego Kaplan é divertido. Tem algumas tiradas engraçadas, mas é só isso. Trata-se da história de dois casais de amigos, um mais conservador, outro mais ousado, que resolvem se atrever e experimentar a troca de casais, ou o swing, como chamam atualmente. O tema é instigante, poderia render alguma reflexão mais profunda sobre o amor e o sexo, ou produzir cenas mais picantes, que provocassem sensações excitantes na platéia. Tanto uma coisa quanto outra teria alguma utilidade.
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Nada disso. O filme é divertido e nada mais. Perde a graça, entretanto, quando, em dado momento, começa a trilhar um caminho que o faz cair na armadilha moralista, reforçando a ideia de que o sexo só deve ser praticado dentro de determinadas normas vigentes e mostrando que quem se atreve a desafiá-las, acaba sofrendo consequências, talvez irreparáveis. Mas o próprio filme oferece, de bandeja, uma chance de reparação ao apontar o arrependimento como forma de salvação.
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Com este tema, poderia desmascarar a hipocrisia da sociedade que cultiva mais o sentimento de posse do que o amor. Poderia produzir um libelo pela liberdade, mostrando formas alternativas das pessoas se relacionarem. Prefere, entretanto, não se atrever, não ousar, não fazer nada disso. Opta pelo caminho mais comportado, mais seguro, menos excitante. Opta por ser um filme divertido. Nada mais.
 
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Em tempo: Praticamente durante toda a exibição, a imagem no cinema do Shopping Galleria ficou desfocada, chegando, durante alguns minutos, a ficar indecifrável. Como se não bastasse a falta de opções na cidade de Campinas, nota-se, também, o descomprometimento com a qualidade da exibição.

sábado, 1 de junho de 2013

Lidando com a culpa

Uma das coisas que um feriado prolongado pode proporcionar é a ida ao cinema de maneira plena, quase excessiva. É difícil este exercício em Campinas, onde impera a exibição de blockbusters nas centenas de salas contidas nas dezenas de shopping centers da cidade. Não há alternativa. Pra ter verdadeira variedade de filmes, é preciso ir pra São Paulo.
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Supus que o feriado tornaria o trânsito naquela cidade mais ameno. Ledo engano, estava impossível. A quantidade de carros era inacreditável, tornando realidade que o preço do estacionamento chegue a 14 reais por meia hora. De qualquer forma, apesar do valor extorsivo dos estacionamentos e, também, das entradas do cinema (25 reais, uma inteira!), logramos assistir a 2 filmes que, se acaso estiveram em alguma sala de Campinas, isso não durou mais do que 1 semana.
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O primeiro foi o filme canadense O que traz boas novas (Monsieur Lazhar), do diretor Philippe Falardeau. Uma leitura superficial da sinopse poderia sugerir tratar-se de mais uma daquelas histórias de professor e alunos, no estilo “Ao mestre com carinho”, com uma sala de aula, cheia de jovens desajustados e que são convertidos em pequenos gênios, graças aos métodos diferenciados de algum professor iluminado. Coisa de ficção científica. Uma leitura atenta da sinopse, entretanto, indica que não é este o caso. Muito pelo contrário, aliás, percebe-se ao assirtir ao filme. Neste caso, os alunos são absolutamente ajustados, nada indica que tenham grandes problemas sociais, mas a tela mostra que este equilíbrio não é garantia de uma rotina sem conflitos.

 
De uma delicadeza cirúrgica, o filme, entre outras coisas, desnuda o conflito entre ensinar e educar, questionando a função da escola e a dos pais. E, nesta questão, o principal mérito do filme é o de nem ao menos sugerir uma resposta para ela.  Há, ainda, que se ressaltar o exelente desempenho do ator protagonista e os de duas das crianças que interpretam seus alunos. De arrepiar.
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O segundo filme que assistimos, logo em seguida, foi o brasileiro Hoje, de Tata Amaral com Denise Fraga e o ator uruguaio Cesar Trancoso. Muito mais tenso que o primeiro, o filme trata das marcas deixadas nas pessoas que sofreram torturas no regime militar, mesmo depois de muito tempo passado. A diretora escolhe uma forma de condução da narrativa nada usual e que confere ao filme, em alguns momentos, uma morosidade incômoda. Incômoda, porém, é a realidade na qual viveu o país por 20 anos e da qual não está conseguindo se livrar, por total incapacidade de expiar suas culpas.
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E falando em culpa, para explicar o título dete post, é necessário dizer que a forma de lidar com a culpa é a única coisa comum a dois filmes tão diferentes, tanto na temática quanto na maneira de conduzir a direção. A culpa (e o jeito de lidar com ela) é o elo de ligação destas duas histórias tão distintas. E mais não vou falar, para que, quem tiver a oportunidade, possa assisti-los. A ambos.
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Em tempo: Acho que mudaram o material da embalagem dos sacos de pipoca, nos cinemas. Parece algum tipo de papelão grosso. O que sei é que isso produz um ruído insuportável na sala de projeção. E como os sacos são imensos, o ruído é interminável. As pessoas, tudo indica, vão mais ao cinema para comer do que para assistir a um filme.