As primeiras viagens tiveram durações bem longas, com mais de 2 meses cada uma delas. Lembro-me da grande saudade que eu sentia. Saudade da Clélia e da Cecília. Saudade da nossa comida, da nossa música, da nossa língua. Saudade do Brasil.
A sensação que eu tive nos primeiros dias da primeira viagem foi muito negativa. Naquele tempo, eu ainda acreditava que um povo poderia ser classificado de forma simplista. Aquela coisa de que todo brasileiro é alegre, todo argentinho arrogante, todo japonês tímido, todo alemão grosseiro, todo italiano falastrão. Aos poucos, fui percebendo que todo mundo é igual. Em todo lugar há gente boa e má, gente feliz e triste, gente egoísta e solidária.
Lembro-me que o que mais me chocou, na Alemanha, foi a extrema limpeza das ruas, a pontualidade das pessoas, a organização de tudo. Na Alemanha é praticamente impossível ver alguém jogando um pedaço de papel no chão ou um carro atravessar o sinal vermelho. Aquilo me dava uma sensação bem ruim. Uma constatação de que aquele povo era mais educado que o povo brasileiro. Que aquela gente tinha mais preparo para conviver coletivamente, mais respeito pelo próximo. E reforçava um tipo de preconceito que era tudo o que eu sempre combatera.
.
Fiquei mais aliviado quando viajei, num feriado, pra Itália e vi uma imensidão de alemães emporcalhando as ruas com latas de cerveja e bitucas de cigarro, e seus carros cruzando os sinais vermelhos. Pude perceber que aquela educação toda que eles tinham na Alemanha era a custa de pesadas penalidades que sofriam em seu país, caso tivessem este comportamento. Bastava estar num lugar onde as leis eram mais frouxas para se comportarem como todos os outros povos. Passei a sentir mais simpatia pelos alemães.
.
Conhecer muitos países foi o que aconteceu de mais proveitoso nessas minhas viagens de trabalho. Lembro-me que todo feriado, todo final de semana prolongado era uma oportunidade pra viajar. Íamos, sobretudo pra Itália, onde um dos amigos que viajaram comigo, tinha um pedaço da família em cada canto daquele país. Era sempre uma festa. Sempre muita comida e bebida pra receber o parente brasileiro. E eu, sempre na cola, aproveitando tudo. Foi a primeira vez que bebi vinho Lambrusco. E além de tudo, a alegria de ouvir uma língua latina, novamente.
Foi graças a essas viagens de trabalho que conheci Paris, Londres, Copenhague, Lisboa. Sempre aproveitando alguma brecha, pude visitar a Espanha, a Bélgica, a Áustria e a Holanda. Pude pisar no chão da Argentina, Venezuela, Canadá e Estados Unidos. Em alguns desses lugares tive alguns dias pra explorar. Em outros, apenas algumas horas. Em todos, sempre busquei experimentar algo novo, entender seus sabores.
Atualmente, as viagens que faço são muito mais curtas. E, muitas vezes, fico mais tempo dentro do avião do que no país pra onde estou indo.
É exatamente o que vai acontecer hoje. Viajo, daqui a pouco, pra Alemanha, pra participar de um evento com um dia e meio de duração. Vou num pé e volto noutro. Mas já sinto saudades.