Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Conversa pra filosofar

Desde que comecei o blog, sempre que vejo um filme, ouço um disco novo, faço uma viagem ou leio um livro, faço cada uma dessas coisas pensando em escrever. No decorrer da leitura do livro, por exemplo, fico pensando nas coisas que vou salientar, no que me tocou mais, no caminho que vou tomar no próximo post. Muitas vezes, aliás, o que escrevo nem tem tanto a ver com o filme, CD ou livro. Eles apenas servem de pano de fundo pra eu poder expressar aquilo que me dá vontade, naquele momento.

Inexplicavelmente, não sei bem o que escrever sobre Às Margens do Sena, uma espécie de biografia do jornalista Reali Jr., a partir de entrevistas e conversas com Giani Carta. Isso não quer dizer que o livro não seja bom. Muito pelo contrário. Acredito que minha dificuldade em escrever sobre ele deva-se, exatamente, pelo fato dele ter me absorvido toda a atenção enquanto eu o lia. A única coisa que eu pensava, lendo o livro é que, se eu fosse jornalista, gostaria de ter seguido os seus passos. Afinal, ele escreve, sobretudo, a respeito de política e futebol, dois assuntos dos quais eu mais gosto. Mais do que isso, sua carreira começou em São Paulo, mas, desde 1972, ele se mudou pra Paris com mulher, filhas e a coragem. Conheço muito pouco de Paris, mas, nos 2 dias e meio que passei lá, fiquei com uma profunda sensação de que não me sentiria muito deprimido se tivesse que morar naquela cidade. Além do mais, uma de suas filhas, a Cristiana Reali, além de bonita (as 4, na verdade, o são) é uma das atrizes mais respeitadas, atualmente, na França. E, pensando em tudo isso, percebi que o que eu sentia, mesmo, era uma ponta de inveja do Reali. Não uma inveja maléfica. Sentia um tipo de inveja do bem (se é que isso existe), pensando que até gostaria de ter a vida dele, mas consciente de que gosto muito da minha vida, não desejei, em nenhum momento, que ele não tivesse tido a sua.

O Reali é um tipo de jornalista das antigas. É do tempo que não era necessário fazer faculdade pra ser jornalista. Bastava trabalhar em jornal e ter qualidade. E aí, pensando nisso, percebi que a maioria dos jornalistas que eu mais admiro, não fizeram faculdade pra exercer essa profissão. Nenhum deles. Nem Clóvis Rossi, nem Carlos Heitor Cony, nem Juca Kfouri, nem Sérgio Cabral, nem José Trajano, nem Elio Gaspari, nem Luís Nassif. Mas não vou gastar este tempo e espaço pra ficar filosofando sobre o que eu acho da obrigatoriedade do diploma pra exercer a profissão. Tenho minha opinião, mas isso importa muito pouco. Além do mais, esse não é um assunto que me tira o sono.

O livro é delicioso. O papo flui rápido e fácil. Reali fala de jornalismo e, sobretudo, do seu trabalho como correspondente de rádio e jornal. Fala dos políticos franceses e dos exilados brasileiros na França, com quem ele conviveu na época da ditadura militar no Brasil. Fala de Celso Furtado, de Miguel Arraes, de Brizola. Fala de seu contato com FHC e com Lula. E fala, sobretudo, das viagens de férias que costuma fazer pelas cidades da Europa ao lado de Luís Fernando Veríssimo. Viagens gastronômicas, como as que eu gosto de fazer.

Aproveita a conversa para filosofar. Filosofar e ensinar. Ensina como é que um jornalista deve preservar suas fontes. Ensina como é que um jornalista de esquerda consegue trabalhar num órgão de direita (O Estado de São Paulo). Ensina, sobretudo, como viver uma vida plena de prazeres, conjugando trabalho e dedicação à família.

Agora que terminei de ler o livro, vou emprestá-lo pra Bá, minha querida sobrinha, que se forma este ano e será, sem dúvida nenhuma, uma ótima jornalista.

8 comentários:

Anônimo disse...

Oi, tio!
Estou louca pra ler! Mas antes preciso te devolver O Abusado que ainda está comigo!

Também nunca pensei muito nessa discussão de ser ou não necessário o diploma para ser jornalista. Será que é mesmo tão importante aprender com que mão se deve segurar o microfone ou quantos segundo tem uma lauda de rádio?

Por outro lado a faculdade me ensinou coisas que talvez eu não tivesse aprendido de outro jeito. Quando estava escrevendo para o jornal universitário Agência Facos da Unisantos me lembro que a primeira matéria que fui cobrir foi um bando de moradores de rua que invadiu um prédio cuja construção havia sido abandonada. Foi uma experiência única. Bater nos tapumes, esperar alguém me atender e então pedir pra que me contassem porque estavam morando lá.

Depois disso já cobri convenção de médicos e greve no porto. Já escrevi sobre garotos de programa, anabolizantes, aumento de preço de remédios...

Tem gente que tem o dom e sabe que o tem, como o Nelson Rodrigues, por exemplo... Eu acho que precisei da faculdade para ter certeza de que era isso mesmo o que eu queria da vida.

Um dos defeitos da faculdade é que a gente sai super idealista e quando chega na hora de trabalhar nem sempre isso é possível. É ruim pensar nisso, desilude um pouco...

Mas de qualquer forma eu espero ser a melhor jornalista que eu puder e usar esse "quarto poder" pra de alguma forma ajudar como os outros três às vezes não ajudam...

Iara Alencar disse...

Uma vez vi uma excelente entrevista com ele, se mal engano foi na Bandeirantes..

MegMarques disse...

Oi Arnaldo,
eu também sinto essa inveja branca quando leio sobre pessoas que viveram vidas intensas e emocionantes, que conviveram com outras que também marcaram época.
Mas acho que não fui talhada para isso e vivo muito satisfeita no meu anonimato.
Obrigada pelas visitas à mesa de bar. Volte sempre!
Linkei seu blog lá, ok?

abraço,
Meg

Maria Helena disse...

Arnaldo,
Deve ter sido fascinante a vida dele, tendo Paris como cenário.
Cristiana Reali é muito linda mesmo
e faz muito sucesso por lá, mas aqui no Brasil não se fala sobre isso. Por que será??????
Bjs

Maria Helena disse...

Arnaldo,
tem uma lembrancinha para vc no caminho suave.
Bjs

Anônimo disse...

Deu vontade de ler... Gosto d epessoas que sabem viver. Estou precisando reanimar a minha vida.

Eli Carlos Vieira disse...

Filosofar é preciso!
Acredito que em tudo, seja profissão ou na vida, precisa-se ter sinceridade no que faz. Independendente da formação, do registro, diploma ou certificado.
Conhecendo muito ou pouco, mas que conheça.

Experiências são marcantes e inesquecíveis a quem viveu e são, posteriormente, estimulantes a que as ouviu, quem ainda anseia por vivenciar tais experiências...

Abraço, Arnaldo
:-]

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Bá,

Tenho convicção de que a maior parte das coisas que sei e que penso, não foi na faculdade que aprendi. Por outro lado, vi, lá, coisas importantes, como em todas as fases da vida da gente. Só não acho que tenha sentido valorizar tanto essa coisa da formação, como se faz hoje em dia. E penso isso, não somente a respeito do curso de jornalismo mas sobre qualquer outro. É importante entender que a gente se faz através de todos os canais de informação de que dispomos.


Iara,

Conhecia muito pouco sobre ele antes de ler o livro.


Meg,

Também gosto do anonimato. Minha vaidade é feita pra dentro. Ela é mais introspectiva.


Maria Helena,

Deve ter sido não! O cara ainda está vivo!


Alena,

Todos precisamos de uma vida animada. E isso só depende da gente. Essa coisa de viver é muito egoísta. É cada um por si.


Eli,

Filosofar é tudo. Argumentar, brigar, insistir. Ser perder a noção de ouvir, aprender, retroceder.