Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 15 de maio de 2010

Maestria

Vez ou outra, invento de ler alguma biografia. Quando cismo em fazer isso, costumo escolher alguma personalidade pela qual eu tenha admiração e de quem eu busque mais informação. Foi assim com Garrincha, Assis Chateaubriant, Carmen Miranda ou Nelson Rodrigues. Todos, personagens que me suscitavam curiosidade. Todos, de quem eu sabia que sabia pouco. E, por causa disso foi que eu relutei em iniciar a leitura da biografia de Tom Jobim, escrita por Sérgio Cabral. Afinal, eu já li tanta coisa a respeito deste fundamental artista, já ouvi tanto as suas músicas, já me inteirei tanto a respeito da Bossa Nova, que achei que representaria certa perda de tempo, encarar suas mais de 500 páginas.

Eu me surpreendi, duplamente.

Primeiro, por que descobri que havia, sobre ele, meia dúzia de histórias desconhecidas completamente por mim, além de perceber que, ler as histórias já conhecidas, com começo, meio e fim e inseridas num contexto e ambiente mais claramente explicitados, é uma experiência muito mais prazerosa.

A outra surpresa, igualmente positiva, foi descobrir o lado biógrafo de Sérgio Cabral. Já li dezenas de reportagens suas, críticas, comentários, sempre envolvendo a cultura brasileira, sobretudo a nossa música, especialmente o samba. Nunca tinha, entretanto, lido um trabalho biográfico escrito por este jornalista. Gostei muito.

Ele não tem aquele estilo investigativo, de quem caça os segredos, esmiúça os detalhes, garimpa as histórias, como outros biógrafos como Ruy Castro ou Fernando Morais. Não mantém aquela distância solene e respeitosa do biografado, criando quase uma barreira entre eles. Não. Sérgio Cabral escreve de dentro da história. Escreve com a propriedade de quem conviveu com o objeto de seu estudo, seu personagem, seu ambiente, seu mundo. Isso dá ao texto um sabor diferente. Isso o exime de ter de comprovar, de checar, de cruzar informações. Faz o trabalho como se fosse mero exercício de relembrar momentos especiais, situações prazerosas.

Além de tudo isso, ler esta biografia só veio reforçar minha opinião de que, se Carmem Miranda foi a primeira a levar o mundo (e mais especificamente os Estados Unidos) a conhecer a música brasileira, foi Tom Jobim que fez com que os americanos e o mundo todo, passassem a respeitá-la como produto de qualidade superior. Tom Jobim é, sem sombra de dúvidas, um dos compositores brasileiros mais respeitados no mundo inteiro, não só pelos amantes da boa música mas, sobretudo, por aqueles que estão inseridos neste meio, que vivem dela, que fazem dela razão de viver.

É, sem dúvida, nosso maestro soberano.


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Confissões futebolísticas

Confesso, eu que tenho deixado muito claro o quanto o futebol deixou de me encantar, há tempos, que voltei a sentir a fisgada da sedução vendo o time do Santos jogar, neste campeonato paulista.

Confesso que deixei de assistir a um jogo do meu time para ver um jogo do Santos, que passava no mesmo horário.

Confesso que cheguei a torcer a favor do Santos, num jogo contra o meu time, dada a infinita diferença estética entre o futebol exibido pelos dois.

Confesso que não havia visto nenhum jogo do Santo André e fui assistir ao primeiro jogo da final, imaginando que os meninos da Vila iriam golear o time do ABC.

Confesso que, no segundo jogo, depois de ver a trave tramar contra o time menor, a arbitragem favorecer o time maior e toda a mídia incensar o de maior torcida, no finalzinho do jogo, torci pelo Santo André.

O Santos foi campeão e, apesar das lambanças da arbitragem e da covardia do técnico, acho que foi merecido. Apesar do mau-caratismo e da imbecilidade que Robinho e Neymar, respectivamente, exibem fora de campo, mesmo assim, o Santos mereceu ser campeão. E mereceu, sobretudo, pela elegância de Paulo Henrique, o Ganso, este sim, um jogador que nem mesmo a cegueira de Dunga deveria impedir que fosse à África do Sul.