Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A história e o tempo

“A violência é a parteira da história” é um dos aforismos mais citados de Karl Marx e, possivelmente, o mais mal interpretado. Por estar presente justamente no capítulo de O Capital, que fala sobre a acumulação primitiva, esta frase, muitas vezes, é interpretada como uma incitação à violência, cujo intuito seria disseminar o ódio de classe para mover a luta pelo poder. Mais do que uma incitação à violência, esta é nada mais que uma constatação de como as sociedades têm se transformado ao longo da história.

Pois é exatamente à clarificação desta constatação que se presta o livro A história do mundo para quem tem pressa, da historiadora britânica Emma Marriott. Nem mesmo um historiador imbecil ou irresponsável (o que não é o caso), imaginaria ser possível resumir 5 mil anos de história em 200 páginas. Apesar do que está grifado como subtítulo em sua capa, esta tarefa é tão obviamente impossível que ninguém pode acusar a editora de propaganda enganosa.

O maior (se não o único) mérito do livro é expor a história da civilização e suas transformações através de uma linha do tempo, pontuando seus principais acontecimentos com causas e consequências, sem a preocupação de se deter em detalhes ou análises mais elaboradas. Com isso, não tece nenhum juízo de valor e, portanto, consegue o distanciamento perfeito que toda análise histórica deveria ter.

O livro tem início nos anos 3.500 antes da era cristã, discorrendo sobre os antigos impérios, em todos os continentes. Passeia pela evolução dos primeiros impérios europeus, os novos impérios, a era dos descobrimentos e termina às portas da eclosão da segunda guerra mundial. Não passa deste período, justamente para preservar o distanciamento já citado.

Nesta exposição, fica muito claro que todas as transformações pelas quais passou a organização da espécie humana, nos quatro cantos do mundo, tiveram como instrumento a violência, o que acaba por corroborar a afirmação de Marx.

Nas poucas páginas do livro, só há duas passagens em que a autora cita o Brasil. Uma delas é a respeito dos efeitos que a grande depressão da década de 1930 provocou no país, citando Getúlio Vargas, que ela define como alguém que “embora governasse como um ditador, modernizou o Brasil, com reformas fiscais, educacionais e agrárias, melhorando assim as condições de vida dos pobres”. A outra passagem é para informar o vergonhoso fato de termos sido a última nação do ocidente a abolir a escravidão.

Enfim, um livro leve e que se consegue ler rapidamente, mas sem pressa.