Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Apenas uma saída

Há quem alimente tanta expectativa no amor que não conseguirá nunca se sentir satisfeito. E, na busca do atingimento de uma utopia, corre o risco de sufocar o ser amado, como se fosse possível encontrar, numa só pessoa, uma entidade que, além de satisfazer os anseios atuais, consiga acompanhar as alterações dos desejos e necessidades que todos nós sofremos com o passar do tempo. Quem tem esta expectativa exagerada acaba se frustrando, já que toda utopia é um fim inatingível. Ninguém é tudo o que queremos e todo o tempo. Solução pra isso é saber lidar com as frustrações ou então amar mais de um, ao mesmo tempo.


E foi exatamente isso o que fez a personagem do livro Bocas de mel e fel da escritora Nilza Rezende. Não é seu primeiro livro. Seu romance de estreia, Um Deus dentro dele, um diabo dentro de mim, foi bastante aclamado mas ainda não o li. Em Bocas de mel e fel, a narrativa é um tanto fora do convencional e isso ajuda a separar os dois mundos da mesma personagem, reforçando a ideia de uma relação completar a outra, o que não garante uma realização plena, até porque a vida não é aritmética. Esta estratégia não é uma solução. É apenas uma saída.

sábado, 5 de abril de 2014

Um gol de craque

Gosto muito do jornalista José Trajano. A primeira vez que o vi foi no programa Cartão Verde, da TV Cultura, há vinte anos, no qual participava ao lado de Juca Kfoury, programa que existe até hoje, pelo que sei. Logo em seguida, comecei a acompanhar o canal de esportes ESPN, na época da TVA, quando começavam a surgir os primeiros canais a cabo no Brasil. Trajano foi seu criador e grande condutor durante muitos anos, até se aposentar da função de diretor de jornalismo da emissora. Hoje, participa de alguns programas como comentarista. Não por acaso, a ESPN é o canal de esportes que gosto mais de assistir. Digo esporte como uma maneira de falar, já que do que eu gosto mesmo é de futebol, embora tenha algum interesse em assistir jogos de volei e de tênis, contanto que sejam femininos, como já expliquei num outro texto aqui.

A preferência pela ESPN tem muito a ver com minha maneira de apreciar futebol, já que me agrada muito mais assistir aos jogos do que torcer por um time. Tenho meu time de preferência, o São Paulo Futebol Clube, que eu herdei de meu pai que por sua vez herdou de meu avô. Naquela época era assim e pronto. O que me importa, porém, é que o meu time jogue bem, mais do que vença. Na verdade, entre ele vancer jogando feio ou roubado, ou empatar jogando bonito, prefiro a segunda opção. Por isso mesmo, por gostar tanto de ver um bom jogo de futebol, me é quase indiferente se o jogo é do São Paulo ou de algum outro time. Tanto é que não tive nenhuma dúvida entre assistir ao jogo do Real Madrid e Barcelona, dias atrás, ou a São Paulo e Penapolense que passava no mesmo horário.

O que me atrai na programação da ESPN é o fato de a maioria dos comentaristas enxergar o futebol da mesma maneira que eu enxergo e, também, de não cansar de denunciar todas as mamatas que o futebol contempla, seja no Brasil, seja no mundo, através das venais FIFA e CBF. Era só na ESPN que podíamos ouvir seus comentariastas criticando a realização da Copa do Mundo no Brasil, já antevendo a farra que aconteceria com dinheiro público, enquanto as demais emissoras, capitaneadas pela Rede Globo, teciam loas ao evento. Hoje, virou moda criticar o que está acontecendo, mas foi só na ESPN que ouvíamos este discurso há 7 anos, quando o Brasil foi escolhido. Sobre isso, é imprescindível a forma combativa com que jornalistas como Juca Kfoury, Mauro Cesar Pereira e Lúcio de Castro, incessantemente denunciam e criticam as mazelas do nobre esporte bretão, sem perder a paixão que ele nos suscita. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Como se não bastasse a combatividade, temos no canal uma seleção de craques no que se refere aos comentários técnicos e táticos, com clareza e conhecimento de causa, como Paulo Vinícius Coelho, Paulo Calçade e o surpreendente Juan Pablo Sorin, craque fora e, outrora, dentro de campo. E tudo isso só foi possível se construir devido ao empenho de José Trajano.


E não é que ele surpreende, mais uma vez, lançando um romance delicioso? O livro chama-se Procurando Mônica. Absolutamente autobiográfica, a história conta um caso de amor, entre impossível e platônico, iniciado na adolescência e latente durante a vida toda do jornalista. De forma leve, o texto que eu devorei em menos de 24 horas nos faz perceber que até os amores não correspondidos podem ser aproveitados e que a não correspondência não precisa, necessariamente, desaguar para o drama rasgado. Não falo mais nada sobre o livro para não entregar o final. Mais um golaço de um craque.