Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Che

O que há de mais importante no legado de Che Guevara, em minha opinião, são seus escritos. É em seus textos, frases, cartas e discursos que se encontra material suficiente para entender uma época e o imaginário de uma geração que acreditou, sinceramente, na possibilidade de mudar o mundo através da ação revolucionária.
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Independentemente de concordância ou não com sua ideologia, é impossível não identificar, na leitura de seus textos, pinceladas de lirismo e até mesmo alguma erudição, coisas raras de se encontrar em assunto tão áspero.

Pois foi justamente isto, ou seja, o conteúdo do pensamento de Ernesto Guevara, que faltou no filme Che, de Steven Soderbergh. As cenas são recheadas de referências históricas, absolutamente conhecidas de todo planeta, como as batalhas na tomada de Sierra Maestra ou seu famoso discurso na reunião da Organização das Nações Unidas, em 1964, época em que já havia iniciado o bloqueio comercial a Cuba, praticado pelos Estados Unidos e imposto, também por eles, ao resto do mundo ocidental. Bloqueio este que ainda perdura, há mais de 40 anos, apesar das promessas de Obama.

O filme, ao abdicar do pensamento de Guevara, faz uma opção pelo seu símbolo, numa recorrência do que acabou acontecendo na vida real, quando, por parte das esquerdas do mundo inteiro, seu pensamento foi colocado em segundo plano em prol da utilização de seu mito e sua imagem para incentivo da militância. Mais tarde, a mídia apoderou-se desse símbolo e sua imagem passou a fazer parte do universo pop, promovendo a festa dos fabricantes de camisetas, num primeiro momento, e das quinquilharias e bugigangas, logo em seguida.

O que é muito interessante, no filme, é justamente a semelhança física dos atores com seus personagens. Além da óbvia barba de Camilo Cienfuegos, a caracterização do ator Demián Bichir, como Fidel Castro, estava fidelíssima, com o perdão do trocadilho. Não só fisicamente, mas sua maneira de falar e sua verve, ao discursar, fazem lembrar, com precisão milimétrica, o decano comandante. Até mesmo Rodrigo Santoro, numa discretíssima participação, usa um bigodinho que Raul Castro ostenta até hoje. E o ponto alto da fita, sem sombra de dúvida, é o trabalho do ator Benicio Del Toro, no papel protagonista. Este ator começa a ocupar um lugar que é reservado a poucos, o de um ator excepcional.

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Não chega a ser ruim o filme. As cenas são bem feitas e as interpretações são convincentes. Perdeu-se, entretanto, uma ótima oportunidade de resgatar o pensamento do Che e preferiu-se o caminho mais fácil, ou seja, investir no mito e no símbolo. Isso empobrece o que poderia ser um grande filme, mas, provavelmente, irá render mais dinheiro para os produtores, como já rendeu aos fabricantes de camiseta.

6 comentários:

Unknown disse...

Perfeita a sua crítica, Arnaldo!

Eli Carlos Vieira disse...

Valeu a dica.
Quero ver o filme!
Apesar de parecer que não se verá algo mais aprofundado sobre o pensar de Che, fora do estrelismo que se criou e do lado comercial.

De Soderbergh, conhecia Obsessão e as séries dos 11, 12 e 13 homens com os segredos. ehehe

Bom fim de semana!
Abração!

Vanessa Dantas disse...

Não assisti o filme, e a recomendação que recebi foi: "não vale, não vá". Lendo seu texto agora, me instigou um pouquinho mais. Quem sabe?

Bj.

Valéria Martins disse...

Oi, Arnaldo! Estou me preparando para ver esse filme, porque é longo e não deve ser leve. No momento, tenho preferido assistir a coisas leves, mas nem sempre dá certo.
Na sexta fui ver "Simplesmente feliz" e achei chaaato. A mulher me pareceu meio retardada, em certos trechos, em fez de "feliz". Devia se tratar, isso sim.
Hoje, para dar uma idéia do que meu gosto está pedindo, vou ver "Monstros Vs. Alienígenas" com meus dois filhos... Mas em breve assistirei ao Che.

Abraço e boa semana

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Sempre generoso, Bruno.

E tem mais coisas, Eli. Tem Sexo, Mentiras e Videotape, Erin Brockovich, Traffic, e outras cositas mas. Nada que me empolgue. Fui ver o filme menos pelo diretor e mais pelo personagem, este sim, muito empolgante.

Acho que vale a pena ir, sim, Vanessa. Aliás, na medida do possível, tento ver de tudo. Prefiro ver uma grande bobagem do que correr o risco de perder algo interessante.

Valéria, o filme não é tão longo assim. Afinal, o distribuidor, no Brasil, optou em exibir as 2 partes do filme separadamente. Nem sei quando a segunda parte (que trata de sua participação na guerrilha na Bolívia) vai estrear por aqui. Agora, cá pra nós: Monstros vs. Alienígenas deve ser uma coisa!

andrea disse...

arnaldo, deve ver o filme por estes dias, meu namorado quer ver!
depois volto aqui e dou o meu pitaco!
beijos