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domingo, 4 de outubro de 2009

Aos 74 anos, morre La Negra


A primeira vez que fui a Buenos Aires foi numa viagem de trabalho. Meu portuñol era muito pior do que é hoje e eu ainda não fora apresentado à carne argentina e ao tango, duas das minhas paixões atuais. Dos argentinos eu só conhecia Mercedes Sosa e Violeta Parra, já que as canções desta, na voz daquela, embalaram meus sonhos na juventude. Foi uma época em que eu tinha esperança nos homens. Conhecia tão pouco a Argentina que achei, até hoje, que Violeta Parra fosse de lá, mas era chilena, me corrigiu o bom amigo Bruno Ribeiro.

Naquela viagem, indo de taxi para o trabalho, vi um cartaz que anunciava um show com La Negra, naquela semana. Era um teatrão antigo e imponente, na Avenida Corrientes, próximo ao hotel em que eu estava hospedado, na região central da cidade. Fui à bilheteria e comprei um lugar na primeira fila do balcão superior. Na platéia não havia mais lugar.

A primeira parte do show foi só com músicas mais modernas, com participações de artistas, até então, desconhecidos pra mim, como Fito Paes e Charly Garcia. Foi um bom show, mas eu sentia um certo vazio, ansioso por ouvir as canções que embalaram a minha mocidade. Após o intervalo, ela volta e começa a cantar todos os clássicos de Violeta Parra, Victor Jara, Athaualpa Yupanqui. Não tive como segurar as lágrimas. Eu estava lá, sozinho e longe das pessoas que mais amo e, ao mesmo tempo, muito perto de mim. Perto da pessoa que havia sido anos antes, cheio de sonhos e esperanças.

Morreu Mercedes Sosa, muito tempo depois que morreu, em mim, a esperança. Mesmo assim, sinto saudades. Saudades de um tempo, saudades de uma cantora, saudades de mim.





7 comentários:

A n d r e a disse...

Não há quem não se emocione com La Negra.

Unknown disse...

Amigo Arnaldo, mire-se no exemplo da Negra. Ela morreu aos 74 anos, plena de esperança. Jogarmos a toalha - é exatamente isto o que os canalhas querem que façamos. A falta de esperança facilita o trabalho sujo. Tenhamos esperança, nem que seja para deixá-los irritados e inseguros. Viva Mercedes Sosa! Viva a América Latina!

PS - apenas uma correção: Violeta Parra não é argentina, como você diz, mas chilena.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Bruno,

Obrigado pela correção. Já fiz um remendo lá no texto.

Romanzeira disse...

Que triste. As pessoas morrem, sabemos, mas é triste perder um ícone. Toda uma época toda uma geração morre com ele. Os sonhos dão seu ultimo suspiro e partem, sabe-se lá para onde?

Andrea Nestrea disse...

bela e triste homenagem.
mas a esperança deve continuar!
beijos

Unknown disse...

Que bela homenagem!
A minha, lá no Abracadabra, foi bem mais sutil. Porém esta frase que vc escreveu "Saudades de um tempo, saudades de uma cantora, saudades de mim." é exatamente o que eu senti quando soube da morte dela.
Saudade é coisa boa, pois só sentimos saudade do que foi bom!
Abraços!
:)

Anônimo disse...

Muito sincero...muito bonito...muito triste.
Sentir saudade de uma época , de uma música, de uma pessoa é muito bom.Perder a esperança ou deixá-la morrer, não é bom. Você está vivo, saudável, contando e fazendo história...vejo esperança nisso!
abs
Manoel