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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cantando as músicas dos outros

Há compositores que cantam tão bem que acabo preferindo ouvi-los cantando músicas de outros autores às suas próprias composições. É o caso de Ed Motta, por exemplo, que, em minha opinião, registrou a melhor gravação de Imagina, de Tom Jobim e Chico Buarque. Sinto a mesma coisa em relação a Zélia Duncan.

O inverso disso são aqueles compositores cujas músicas ganham brilho na voz de outros cantores, como é o caso de Guilherme Arantes. Basta ouvir as estupendas gravações de Aprendendo a jogar, na voz de Elis Regina, Coisas do Brasil com Leila Pinheiro ou Amanhã cantada por Caetano Veloso. Interpretadas pelo autor são baladinhas despretensiosas.

Djavan não se encaixa num caso e nem no outro. Embora algumas de suas letras sejam absolutamente incompreensíveis para o meu limitado entendimento, o som destas palavras, emolduradas por suas melodias, quase sempre, fazem bem aos meus ouvidos. E apesar de suas canções já terem sido gravadas por grandes cantores, normalmente, suas próprias interpretações são as mais interessantes. E foi por isso que fiquei curioso para ouvir o seu último disco, Ária, em que ele só canta músicas de outros autores.

O disco é bom, sem ser espetacular. A principal virtude é a diversidade de autores. Djavan mistura Cartola, Tom, Vinícius, Caetano Veloso, Beto Guedes e Silas de Oliveira, entre outros, sem que isso transforme o disco em uma gororoba sem sabor definido. A segunda virtude é a simplicidade e o minimalismo dos arranjos, o que permite, ao ouvinte, degustar com mais facilidade a voz do cantor. Ironicamente, estas duas virtudes é que propiciam os dois principais defeitos do disco. A diversidade acaba permitindo alguns equívocos, como a inclusão de La Noche e Fly me to the moon, músicas cantadas num espanhol e num inglês pouco convincentes. O segundo equivoco é a inclusão de Treze de Dezembro, um xaxado instrumental de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, gravado num vocalise em ritmo um tanto jazzíztico. Poderia ter gravado com a letra que Gilberto Gil compôs e nos livrar da inclusão de Palco, do mesmo autor, com a qual ele fecha o disco. Outro defeito é justamente a voz do cantor que parece, neste disco, inexata, talvez cansada. Não chega a desafinar, mas não se oferece límpida.

Felizmente, as virtudes vencem os defeitos com folga e, com isso, ouvir o disco acaba sendo uma experiência prazerosa.



Disfarça e chora (Cartola e Dalmo Castello)

2 comentários:

Anônimo disse...

Na minha humilde opinião, existem compositores fantásticos, como o Nando Reis, q é um cantor mediano, e cantores ótimos, q nunca fizeram uma música se quer... rs

O bom é isso, cada um na sua essência!

Bjusss

Selma disse...

Olha, Arnaldo, eu concordo com algumas de suas colocações, mas confesso que adoraria que tivéssemos mais cantores/compositores. Aqui nos Estados Unidos curto muito as cantoras folk que são poetas e ao mesmo tempo têm voz lindíssima, um casamento que dá supercerto.E de quebra tocam violão! Vejo pouca gente nova fazendo isso (bem) no Brasil. Talvez a Adriana Calcanhoto? Aqui também é comum a gente ir ver música ao vivo e as bandas apresentarem composições próprias. Sei que nós brasileiros temos uma certa preferência por covers, no entanto sempre me pergunto se não deveríamos ter mais espaço pra gente mostrando suas criações sem necessariamente ter de esperar por uma fada madrinha ou apadrinhamento de uma estrela da música. Quanto ao Djavan, agradeço as impressões sobre o disco novo, que ainda não ouvi. Ele esteve recentemente dando show em New York City, que é longe demais da minha cidade. Estou absolutamente de acordo que Djavan canta Djavan melhor. Eu me lembro nos tempos de juventude, cantando em batucadas improvisadas e festas com amigos, o sofrimento que era tirar uma Flor de Liz decente. Acho que a única dele que saía, com a força de uma amiga, era Pétala. Mesmo assim soava outra coisa, claro... Ah! E eu incluíria entre as belíssimas interpretações de Ed Motta, Beatriz, do Edu Lobo. Fico arrepiada só de lembrar. Enfim, valeu a reflexão.
Abraços!