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sábado, 28 de setembro de 2013

O ouvido argentino para a nossa música

É emblemática a frase do sociólogo Pablo Alabarces, da Universidad de Buenos Aires: “Os brasileiros amam odiar os argentinos, enquanto os argentinos odeiam amar os brasileiros”. De fato, se colocarmos a questão da rivalidade no futebol de lado, é claramente perceptível, em qualquer viagem a Buenos Aires, seja a passeio, seja a negócios, a admiração que as pessoas, na Argentina, nutre pelo nosso país. O inverso já não é tão perceptível. Aliás, é típica a má vontade dos brasileiros, em geral, com o país vizinho, como, de resto, é típica a má vontade dos nossos patrícios com outros povos, como os portugueses, por exemplo, como foi dito pelo escritor Valter Hugo Mãe, no programa Fim de expediente, da CBN, alguns dias atrás.
Mas, voltando aos “hermanos”, até mesmo na questão da carne, item no qual a deles é absolutamente superior que a nossa, mesmo nesse tema, é comum ouvir os argentinos se derreterem em elogios a um corte que não é muito comum por lá, ou seja, a picanha (que em minha opinião, nem é assim tão especial). Mas é, sobretudo na música, que percebemos a maior razão da admiração deles por nós. Enquanto, por aqui, o máximo que se observa é um parco conhecimento do tango, qualquer loja de discos de Buenos Aires, tem, pelo menos, uma uma estante inteira exclusiva para expor CDs dos nossos artistas. Eles, realmente, conhecem nossa música e este conhecimento não se atém somente ao óbvio. É possível encontrar muita coisa que, até por aqui, é raro.
Foi este fenômeno que me levou a comprar o livro Estação Brasil – Conversa com músicosBrasileiros, coletânea de entrevistas com alguns de nossos mais importantes músicos, pela argentina Violeta Weinschelbaum. 
O livro tem dois aspectos bastante interessantes. O primeiro deles é perceber o nível de conhecimento da autora dos detalhes de nossa história musical, sobretudo do movimento tropicalista. O segundo aspecto, mais importante, pra mim, é o fato das entrevistas sempre terem uma condução no sentido de se desvendar aspectos relativos à criação artística dos entrevistados. Em nenhum momento, no livro, encontramos qualquer pergunta a respeito da vida pessoal do músico. Isto, comparado a uma mídia como a nossa, em que a veiculação da fofoca e o culto às celebridades é o que impera, chega a ser uma redenção.

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