Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Passado Interrompido

Desde que surgiu este dilema das biografias autorizadas, me senti meio que em cima do muro, posição que, em geral, me incomoda. Confesso que mantive esta posição um pouco por preguiça e, por isso, não me sentia motivado a ler mais sobre o que estava se passando, já que, embora seja um grande admirador da obra de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e, até mesmo, de algumas canções do Roberto Carlos, tenho muito pouco interesse pelas opiniões deles a respeito de assuntos gerais e, muito menos, de detalhes sobre suas vidas privadas. Aliás, a vida privada das pessoas me interessa quase nada. Por outro lado, a biografia chapa branca sempre me deixa bastante desconfiado, com a sensação de estar sendo ludibriado. Acabei vencendo a preguiça e escolhi uma posição que, neste momento, pouco importa, visto que este assunto já esfriou.
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De qualquer forma, tenho de confessar que gosto de ler biografias, principalmente aquelas em que o foco principal seja a obra (ou o pensamento) do biografado e não tanto a sua vida privada. E gosto muito de ler entrevistas, também. Aliás, acho que gosto mais de ler entrevistas, já que esta fica no meio do caminho entre a biografia não autorizada e a de chapa branca. O problema é que entrevista, em geral, é uma coisa datada, que reflete a opinião do entrevistado naquele momento, e que pode mudar em pouco tempo, em função de alguma reflexão mais profunda ou de algum acontecimento inesperado. Por isso mesmo, é sempre muito estranho ler entrevistas antigas.
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O que dizer, portanto, de ler uma entrevista feita há mais de 30 anos?  Faz algum sentido? Pode até fazer, principalmente se o entrevistado, logo depois dela, não tiver tido a chance de refletir ou ver as voltas que o mundo deu. E foi exatamente o que me motivou a ler A última entrevista de John Lennon e Yoko Ono, conduzida por David Sheff, à época, jornalista escalado pela revista Playboy para esta tarefa, transformada em livro. A entrevista aconteceu em algumas sessões na casa do ex-Beatle, em seu escritório e no estúdio em que estava sendo gravado o último álbum lançado por ele, Double Fantasy. Poucos meses depois, Lennon seria baleado em frente à sua casa.
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Apesar de datadas, algumas de suas posições a respeito de política e, principalmente, sobre a paz, parecem atuais. Fica uma sensação de que nenhuma reflexão ou acontecimento histórico teria mudado sua maneira de pensar e enxergar o mundo, não que isso fosse ruim, muito pelo contrário, mas sua argumentação era tão consistente que poderia ser utilizada mesmo hoje em dia, com mais de 70 anos, caso estivesse vivo. Os detalhes de seu relacionamento com os outros Beatles, assim como com Yoko Ono, longe de serem tratados como fofoca, servem como pano de fundo fundamental para entender sua obra e sua forma de pensar.
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É a respeito de sua obra, aliás, que o conteúdo da entrevista mais me seduziu, justamente na parte em que, a convite do jornalista, ele comenta cada uma das mais importantes canções produzidas durante a carreira solo ou juntamente com os Beatles. Para quem foi um beatlemaníaco extemporâneo, como eu, foi absolutamente delicioso conhecer os detalhes das composições daquele que sempre foi meu Beatle preferido.

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