Termino de ler a biografia
de Tiradentes, escrita por Lucas Figueiredo, convicto dele ter sido um dos
livros mais interessantes que li este ano. Construído sobre um processo
magnífico de pesquisa, tem o rigor de um trabalho acadêmico, mas o resultado é o
de um folhetim que prende o interesse do leitor do começo ao fim. O rigoroso
cuidado com a ordem cronológica dos fatos, mesmo quando o cenário muda de
cidade ou até de continente, é um dos fatores que garantem a fluidez do texto.
A enorme quantidade de
detalhes, devidamente comprovados em quase cem páginas de notas bibliográficas,
utilizada para contar esta história, em nenhum momento se mostra exagerada, já
que, cada um destes detalhes vai ter, em algum momento do texto, sua razão de
ser.
Escapando da armadilha em
que muitos biógrafos costumam cair, o autor não se comporta como um fã ardoroso
do biografado. Mostra discernimento para pontuar características positivas e
negativas do personagem e, com isso, deixa uma margem saudável para que o
leitor possa refletir e tirar, ele mesmo, algumas conclusões.
Um evento que me provocou
reflexão foi a interação que, em dado momento da história, um brasileiro adepto
da independência brasileira do reino de Portugal, interage, na Europa, com
Thomas Jefferson, principal autor da declaração de independência dos Estados
Unidos. O texto desta declaração será fonte fundamental para a disseminação das
ideias libertárias dos inconfidentes mineiros.

Dividido em partes, que
vão da origem à execução de Joaquim José da Silva Xavier, a trama, ocorrida na
segunda metade do século XVIII, nos remete, inúmeras vezes, ao Brasil de tempos
mais modernos. É impossível não pensar no que ocorreu com Vladimir Herzog, no
auge da ditadura militar, quando lemos sobre a cena do, mais que suspeito, “suicídio”
de Cláudio Manuel da Costa.
Já as características
do processo de julgamento dos inconfidentes com manipulações de provas e o uso
das delações como principal motor das investigações (nas quais o bônus do
delator é mais fácil de ser conseguido quanto mais perto seu relato estiver do
desejo daquilo que o inquiridor deseja ouvir) nos remetem a um Brasil muito
mais atual.
Enfim, se eu puder
indicar um livro para se presentear, neste natal, esta é minha indicação: O Tiradentes, de Lucas Figueiredo.
Um comentário:
Me convenceu! Vou comprar!
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