Por conta das agruras que o sistema de transporte aéreo brasileiro tem imposto aos usuários, meu vôo saiu com duas horas de atraso de São Paulo e eu perdi minha conexão para Carajás, no sul do Pará. Como só há um vôo diário para lá, tive que dormir em Brasília, cidade que eu não conhecia. Nunca a tinha visitado.
Estar em Brasília causa duas sensações antagônicas. A primeira, muito positiva, é perceber que arquitetura pode ser instrumento de arte, ferramenta capaz de produzir muita beleza. É encantador ver, em todo canto da cidade, o traço típico de Oscar Niemeyer, privilegiando as curvas em detrimento da linha reta. É bom olhar as obras, entendendo o que ele pensou ao fazer os projetos, principalmente quando sabemos o que ele pensa sobre o mundo e sobre a vida. Da torre da TV tem-se uma visão magnífica da cidade, que ajuda a entender a simetria idealizada por Lúcio Costa. Enfim, uma beleza de encher os olhos.
A beleza externa da catedral metropolitana só é suplantada pela sensação que se tem ao entrarmos na igreja, onde o mármore foi usado com abundância, mas sem exagero e muito menos ostentação. Pena que os belíssimos vitrais estejam necessitando de manutenção.
A segunda sensação que se tem na cidade, esta bem negativa, é a proximidade com o poder. O poder que seduz e que atropela a ética e a solidariedade. O poder que se percebe ao passar pela esplanada dos ministérios, cujos prédios, sem arte, como se fossem retos caixotes, contrastam com os traços curvilíneos de Oscar Niemeyer, pai também destas crianças feias. Não me é difícil imaginar que o mestre tenha feito isso de forma proposital, sabedor do quanto pode ser pernicioso chegar tão perto do poder.
Uma coisa que me surpreendeu e encantou foi constatar que o sotaque de Brasília é o sotaque nordestino. 65% dos moradores de Brasília são de origem do Nordeste do Brasil. Quem tem mais de 45 anos não nasceu lá. Foram os candangos que vieram, sobretudo do Norte e Nordeste, pra construir a cidade de Juscelino. E hoje estão, eles e seus descendentes, trabalhando no comércio, nas recepções dos hotéis, nas cozinhas das casas do Lago Sul, dirigindo táxis. Foi um motorista de táxi, aliás, quando eu perguntei onde é que morava a gente pobre, que me disse que era nas cidades satélites, onde ele também mora. Cruzeiro, Guará, Taguatinga, Ceilândia, entre muitas outras. É nestas cidades que moram as empregadas domésticas, os choferes, os vigias de banco, os comerciários, enfim, essa gente que descende dos candangos, que vive muito perto do poder e que nunca vai morar numa mansão do Lago Sul.
Estar em Brasília causa duas sensações antagônicas. A primeira, muito positiva, é perceber que arquitetura pode ser instrumento de arte, ferramenta capaz de produzir muita beleza. É encantador ver, em todo canto da cidade, o traço típico de Oscar Niemeyer, privilegiando as curvas em detrimento da linha reta. É bom olhar as obras, entendendo o que ele pensou ao fazer os projetos, principalmente quando sabemos o que ele pensa sobre o mundo e sobre a vida. Da torre da TV tem-se uma visão magnífica da cidade, que ajuda a entender a simetria idealizada por Lúcio Costa. Enfim, uma beleza de encher os olhos.
A beleza externa da catedral metropolitana só é suplantada pela sensação que se tem ao entrarmos na igreja, onde o mármore foi usado com abundância, mas sem exagero e muito menos ostentação. Pena que os belíssimos vitrais estejam necessitando de manutenção.
A segunda sensação que se tem na cidade, esta bem negativa, é a proximidade com o poder. O poder que seduz e que atropela a ética e a solidariedade. O poder que se percebe ao passar pela esplanada dos ministérios, cujos prédios, sem arte, como se fossem retos caixotes, contrastam com os traços curvilíneos de Oscar Niemeyer, pai também destas crianças feias. Não me é difícil imaginar que o mestre tenha feito isso de forma proposital, sabedor do quanto pode ser pernicioso chegar tão perto do poder.
Uma coisa que me surpreendeu e encantou foi constatar que o sotaque de Brasília é o sotaque nordestino. 65% dos moradores de Brasília são de origem do Nordeste do Brasil. Quem tem mais de 45 anos não nasceu lá. Foram os candangos que vieram, sobretudo do Norte e Nordeste, pra construir a cidade de Juscelino. E hoje estão, eles e seus descendentes, trabalhando no comércio, nas recepções dos hotéis, nas cozinhas das casas do Lago Sul, dirigindo táxis. Foi um motorista de táxi, aliás, quando eu perguntei onde é que morava a gente pobre, que me disse que era nas cidades satélites, onde ele também mora. Cruzeiro, Guará, Taguatinga, Ceilândia, entre muitas outras. É nestas cidades que moram as empregadas domésticas, os choferes, os vigias de banco, os comerciários, enfim, essa gente que descende dos candangos, que vive muito perto do poder e que nunca vai morar numa mansão do Lago Sul.
E esta gente tem muito orgulho da cidade. Tem muito orgulho de morar lá. Esta gente que nasceu em Brasília e que a construiu. Uma gente que fica entristecida quando alguém associa Brasília a roubo e corrupção. Eles têm a resposta na ponta da língua: Essa turma da maracutaia vem de fora, de todos os pontos do país, e a gente é quem leva a fama.
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