
Estar em Brasília causa duas sensações antagônicas. A primeira, muito positiva, é perceber que arquitetura pode ser instrumento de arte, ferramenta capaz de produzir muita beleza. É encantador ver, em todo canto da cidade, o traço típico de Oscar Niemeyer, privilegiando as curvas em detrimento da linha reta. É bom olhar as obras, entendendo o que ele pensou ao fazer os projetos, principalmente quando sabemos o que ele pensa sobre o mundo e sobre a vida. Da torre da TV tem-se uma visão magnífica da cidade, que ajuda a entender a simetria idealizada por Lúcio Costa. Enfim, uma beleza de encher os olhos.
A beleza externa da catedral metropolitana só é suplantada pela sensação que se tem ao entrarmos na igreja, onde o mármore foi usado com abundância, mas sem exagero e muito menos ostentação. Pena que os belíssimos vitrais estejam necessitando de manutenção.
A segunda sensação que se tem na cidade, esta bem negativa, é a proximidade com o poder. O poder que seduz e que atropela a ética e a solidariedade. O poder que se percebe ao passar pela esplanada dos ministérios, cujos prédios, sem arte, como se fossem retos caixotes, contrastam com os traços curvilíneos de Oscar Niemeyer, pai também destas crianças feias. Não me é difícil imaginar que o mestre tenha feito isso de forma proposital, sabedor do quanto pode ser pernicioso chegar tão perto do poder.

E esta gente tem muito orgulho da cidade. Tem muito orgulho de morar lá. Esta gente que nasceu em Brasília e que a construiu. Uma gente que fica entristecida quando alguém associa Brasília a roubo e corrupção. Eles têm a resposta na ponta da língua: Essa turma da maracutaia vem de fora, de todos os pontos do país, e a gente é quem leva a fama.
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