Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 7 de julho de 2007

Dupla personalidade

Depois de fundar a Mangueira e de compor sambas importantes, o compositor Cartola sumiu do mapa. Ficou desaparecido, por quase dez anos, até que o escritor e jornalista Sérgio Porto o encontrou trabalhando como lavador de carros e tratou de resgatá-lo, trazendo-o de volta, exclusivamente, ao mundo do samba.

Só por isso, Sérgio Porto já mereceria um lugar de destaque na história da cultura brasileira. Mas Sérgio Porto foi muito mais do que isso. E foi muito mais sendo mais que um. Foi Sérgio Porto e foi Stanislaw Ponte Preta, um pseudônimo que inventou pra si, inspirado no personagem Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade.

Li muito o Stanislaw quando era jovem. Tia Zulmira e eu me encantou por seu humor ferino. Mas foi com o Febeapá – Festival de besteiras que assolam o país, livro lançado em plena vigência da ditadura, que eu mais vibrei, por mostrar-se tão corajoso e crítico, sem deixar de ser divertido.

Apesar de ter gostado de ler Stanislaw Ponte Preta, nunca tinha lido Sérgio Porto. Falando assim, até parece que eram duas pessoas. É que, sendo um só, ambos foram tão importantes, que parece até natural tratar a coisa assim.

Pois acaba de ser relançado o livro As Cariocas, cuja edição original é de 1967. São pequenas histórias abordando seis personagens femininas e seus respectivos bairros cariocas. Em seu auto-retrato ele definiu a mulher como sua maior motivação. E sendo carioca até as últimas conseqüências, retratar a mullher do Rio de Janeiro foi, pra ele, uma confortável tarefa. E é falando sobre A Grã-Fina de Copacabana, A Noiva do Catete, A Donzela da Televisão, A Currada de Madureira, A Desquitada da Tijuca e A Desinibida do Grajaú que ele destila humor, crítica e sensualidade até dizer chega.

Apesar de terem 40 anos, temos a impressão que estamos lendo histórias do Rio de Janeiro de agora. A malandragem, o gingado feminino, a truculência da polícia. Tudo igual aos dias de hoje.

A nova edição traz um prefácio de Aldir Blanc, mas traz, também, o prefácio da primeira edição, de Jorge Amado. Só por isso, já valeria o investimento. Mas é na leitura das 6 histórias que a gente se esvai em prazer. Puro prazer.

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