Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Risco

Pouca gente se arrisca. Afinal, é muito mais seguro garantir o equilíbrio, o conforto, a paz. Acontece que a paz e a tranqüilidade, às vezes tão ansiadas, não movimentam o mundo. Não movimentam a gente. Arriscar nos tira do marasmo, mexe com a nossa cabeça, nossos sentidos, nossos sentimentos.

O medo é o sentimento que logo aflora quando arriscamos. E esse sentimento, o medo, que tanta gente teme e dele foge, é esse sentimento que, muitas vezes, nos acorda pra vida, pra real vida. Quando vencemos o medo, quando o enfrentamos, quando o buscamos, estamos dando a chance, abrindo uma brecha pra que a felicidade se instale na nossa vida. Mesmo que seja uma felicidade efêmera, até porque, toda felicidade é efêmera. Ao menos, a real felicidade.

Não arriscar significa fugir pra dentro da gente. Significa empobrecer-se, grudar nas nossas convicções mais profundas e se fechar pra novas descobertas, novos prazeres. De novo, a felicidade.

Muita gente evita arriscar. Evita improvisar, sair da linha. No futebol, na política, no amor, na arte.

Tomemos a música, por exemplo. Há uma verdadeira enxurrada de cantores e cantoras que optam pelo óbvio. Gravar um disco repleto de sucessos. Um disco com músicas consagradas, de compositores inquestionáveis. Eu sempre fico com um pé atrás quando me deparo com um disco assim:

Fulano canta os sucessos de Tom Jobim

Os grandes sucessos de Elis Regina na voz de Sicrano

Coisas deste tipo, que denotam uma desesperada tentativa de emplacar, de atingir a fama.

E foi com essa expectativa que comecei a ouvir o disco São bonitas as canções – As parcerias para teatro de Edu Lobo e Chico Buarque, da cantora Marianna Leporace. Inacreditavelmente, o disco me surpreendeu. Não porque a voz da cantora ou seu poder de interpretação fossem revolucionários. Nada disso. São bem comuns, na verdade. O que surpreende são os arranjos, o acompanhamento. Na verdade, o disco reúne faixas em que, além da voz, há apenas um singelo piano. Singelo, porém rico. O piano de Sheila Zagury.
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É isso que salva o disco. Faz mais. Dá um brilho excepcional a cada uma das faixas, fazendo com que a gente queira ouvir a próxima, ansiando pela idéia, pela inovação. E nesse sentido, o disco não é linear, absolutamente. Cada canção, cada frase, cada palavra, vem embalada num acorde novo, num arranjo inovador. Em cada faixa do disco, vem embutido um risco.

2 comentários:

Andrea Nestrea disse...

bonito o texto!
conheço tão pouco a mariana leporace, mas sempre ouço falar bem! sheila zagury toca com a daniela spielman e sempre que posso acompanho. essas mulheres!!

quanto ao risco e ao óbvio. é preciso saber a hora e a dose de cada um... no amor, na arte, na música, na vida. eu sempre arrisco, é da minha natureza! pago algumas penas por isso!
bj

Valéria Martins disse...

Estou escrevendo um livro de negócios sob encomenda e o "autor" - profissional super bem sucedido - diz toda hoje: "Eu nasci sem nada, vou morrer sem nada. Nesse meio tempo, quero ser feliz!" Ele diz isso para mostrar que é preciso se arriscar. Por as idéias em prática para ver o que dá certo etc...
O amor pelo que se faz é a fagulha.
Estou aprendendo muito com ele...