Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 27 de junho de 2009

Maturidade e medo

Comprei um livro de Philip Roth por pura curiosidade, alguns anos atrás. Fiz isso ao perceber como este escritor norte-americano vinha sendo incensado pela mídia (daqui e de lá) como o grande autor da atualidade, talvez o maior. Resolvi comprar O Animal Agonizante, sua última publicação naquela época. Confesso que não achei muita coisa naquele livro. Li-o, rapidamente e ele não me deixou nenhuma marca, nenhum gosto, nem doce, nem azedo.

Outro dia a Clélia pegou um DVD na locadora, para assistirmos a um filme, com Penélope Cruz e Ben Kingsley. Chamava-se Fatal. Ao ler a sinopse, lembrei-me imediatamente do livro que lera anos antes e certifiquei-me, na ficha técnica, tratar-se de um filme baseado naquela obra.

Surpreendentemente, achei o filme melhor que o livro. Dois motivos óbvios: a estonteante beleza de Penélope Cruz e a excelente interpretação de Ben Kingsley. Nem uma coisa nem outra me surpreendem mais.


A história trata do relacionamento do homem maduro com uma mulher mais jovem. E trata, sobretudo, da carga de insegurança que este tipo de relacionamento provoca. Mostra o quanto o homem maduro sente-se seguro para tentar conquistar uma mulher mais jovem e quanto lhe atormenta a expectativa de perdê-la logo em seguida. Mais do que isso, o quanto essa perda pode derrubar seu estado de espírito.

É que a maioria dos homens alimenta a ilusão de que basta manter um físico exuberante e o pinto duro pra que isso não aconteça. Doce ilusão! Estes dois problemas já foram, há muito tempo, resolvidos pela academia da esquina e pela indústria farmacêutica. O que ninguém consegue fazer é retroceder no tempo, recuperar a jovialidade, perder a maturidade e o senso de ridículo. E, caso consiga fazê-los, cai no ridículo.

Todos nós temos que viver os nossos tempos. Em cada um deles, colecionamos vitórias e derrotas, sucessos e fracassos. É um erro querer conquistar, hoje, um prêmio que era cobiçado ontem. Não terá mais o mesmo sabor. As pessoas que conseguem perceber isso olham pra frente e identificam, no futuro, novas fontes de prazer e satisfação. Por mais curto que possa parecer este futuro.

2 comentários:

Valéria Martins disse...

Interessante! Vi o trailer desse filme no cinema e não me deu vontade de assistir. Agora, sabendo que é baseado no Philip Roth - fui casada com um judeu e esse escritor fala como nenhum outro das questões desses homens - e que a temática é essa, vou pegar no DVD.
Bjs!

Romanzeira disse...

Achar o filme mais interessante que o livro foi o mesmo que aconteceu com tomátes verdes fritos. Não li o livro, mas adorei o filme, entretanto uma amiga minha leu o livro e viu o filme. Teve a mesma impressão que vc. O livro era ruim, mas o filme uma doçura. A questão é a escolha de como contar a historia, e a diferença de linguagens - a linguagem escrita e a linguagem imagética. Uma não é melhor que a outra, mas ambas possuem inúmeras possibilidades basta saber trabalhar cada uma delas.
Agora, sobre a insegurança, penso que também há a inseguraça das mulheres mais novas. Imagina: um homem mais velho, cheio de histórias, de vivências, de experiência. Dá uma certa insegurança em não corresponder as expectativas dele. Gosto de homens mais velhos, e prefiro me relacionar com eles, mas que dá uma certa insegurança, há dá sim.
Vou procurar essse livro.