Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 7 de junho de 2009

Três meninas

Uma das coisas de que mais me orgulho, no Brasil (e são muitas), é a nossa diversidade cultural. Se, por um lado, é surpreendente que um país tão grande tenha conseguido manter a unidade do idioma, coisa que não acontece com países menores como Itália, Espanha ou Alemanha, por outro lado, é admirável que consigamos, apesar da comunicação massificadora a que estamos expostos, manter os nossos regionalismos, no que diz respeito aos sotaques, comida e música, só pra citar o que temos de mais delicioso.

Comer feijão tropeiro ou sarapatel são experiências tão diferentes quanto igualmente deliciosas. O mesmo vale para feijoada, carne de sol ou um carioquíssimo filé à Oswaldo Aranha. A diversidade cultural brasileira nos apresenta tanta variedade que pode parecer difícil escolher, mas não é preciso escolher. Basta deixar o tempo passar, bem devagarinho, e ir provando, aos poucos, tudo o que a vida nos dá. E essa diversidade se exprime na música, também.

Pensei nisso assim que vi a capa do CD Três Meninas do Brasil que reúne as cantoras Jussara Silveira, Teresa Cristina e Rita Ribeiro. Uma baiana, uma carioca e uma maranhense, três origens distintas, três estilos diferentes. Mas se a diversidade enriquece e a união fortalece, este CD ficou bastante aquém do que poderia ter sido. Na ânsia de acomodar cada um dos estilos, o resultado obtido é um disco sem identidade definida e, com isso, um produto mais pobre do que seria qualquer disco de qualquer uma delas, separadamente. Outro fator que pode ter influído neste resultado é o repertório que, de tão eclético, ficou um pouco disforme. Não se trata de um disco ruim. Nada disso. É que diversos discos destas 3 cantoras são melhores do que este do qual estou falando.

Rita Ribeiro, por exemplo, já em seu disco de estréia, em 1997, nos brindou com um repertório vivo e criativo, diferente de tudo que estávamos acostumados a ouvir aqui no Sul maravilha. Recheado com canções de Zeca Baleiro, naquela época, um ilustre desconhecido, o ponto alto era um samba de Antônio Vieira, chamado Cocada, que vivia tocando na estação de rádio que eu ouvia, no carro, na época. Aquela música me empolgava, sempre que tocava. Depois vieram outros discos, sempre mantendo a qualidade.

Teresa Cristina surgiu para o público em 2002, com um disco duplo em que cantava sambas de Paulinho da Viola. Não precisei muito ouvi-lo pra perceber que estava ali um fenômeno de qualidade. Essa convicção só se reforçou com os discos seguintes, em que a sua veia autoral foi exposta, pra minha felicidade. Sempre me comovo ouvindo sua voz.

Jussara Silveira me chamou a atenção por sua participação num disco do Zé Miguel Wisnik, São Paulo Rio, em que ela interpretava a belíssima Terra Estrangeira. Por essa ligação, sempre imaginei que ela fosse paulista. Há pouco tempo, descobri que ela é baiana e essa baianidade fica clara no disco Canções de Caymmi. Seu timbre metálico tinha tudo pra me desagradar e, surpreendentemente, me agrada.

De qualquer forma, apesar de tudo isso que eu escrevi, ou até mesmo por tudo isso, acho que é um disco que vale a pena ser ouvido. Mas, se for pra descobrir essas cantoras, sugiro ouvi-las sozinhas, cada qual em seus discos, qualquer um deles. O prazer será muito maior.

6 comentários:

Andrea Nestrea disse...

adorei a dica!!!!
adorei o disco!
beijos

Valéria Martins disse...

Oi, Arnaldo! Eu amo a Rita Ribeiro, tenho dois Cds dela. E presenteei uma grande amiga, recentemente, com este Cd das Três meninas, ela já me agradeceu, disse que é ótimo!

Quanto à dica de livro, eu li faz muito tempo, o Samuel fala do meu pai, que era diretor de redação da Manchete nos seus melhores tempos. O nome dele é Justino Martins (1917-1983), quando ver lá, lembre-se de mim.

Beijos!

Eli Carlos Vieira disse...

Já ouvi o disco sim e também achei disperso, eclético demais. Mas em se tratando de uma reunião de três nomes diferentes, essa característica acaba por ser atenuada.
Rita Ribeiro é muito boa, já a conhecia de outras canções (mas não cheguei a ouvir um álbum inteiro dela).

Dica muito boa. Vozes femininas, elementos fortes e com uma finalidade interessante!

Abração, Arnaldo!

andrea disse...

arnaldo, eu gostei do disco, apesar de ter críticas, claro.
agora fiquei pensando no que vc falou sobre a unidade de idioma...
poxa, o qu eu penso, foi que ouve um massacre de línguas no Brasil. se vc pensar bem nisso e ler um pouco sobre o assunto, vai ver que apesar de tudo o que houve, lingua geral e tal... ainda temos as línguas indígenas que estão morrendo, mas que estão aí, carregadas de um cultura que se perde com a língua, infelizmente.
sabia que por volta do começo século passado em uma igreja de pinheiros a missa era rezada em língua geral? mas enfim.. essa é outra história..
bj

ninguém disse...

arnaldo, invejo tua disposição para o novo. eu não saio da bossa nova, de geraldo vandré, milton nascimento, dóris monteiro, simonal, regininha e a turma da pilantragem, marcos valle. hii, to velha amigo.
abs

Romanzeira disse...

Adoro a voz da Rita Ribeiro. Uma pena que o disco não tenha ficado tão bom quanto essas tres cantoras - tão brilhantes - mereciam.
Mesmo assim, vou conferir.