Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 26 de setembro de 2009

Samba e piano

Ivan Lins não está entre meus ídolos. Na verdade, eu não gosto dessa idéia de idolatrar ninguém, mas há artistas por quem tenho extrema admiração. Artistas que me comovem, fazendo músicas que me emocionam. Músicos que me seduzem com canções que fazem minha vida ser mais feliz. Enfim, Ivan Lins não está entre eles.

Não estou dizendo que desgosto deste artista. Muito pelo contrário. Acho que sou capaz de relacionar dez ou até vinte músicas dele que acho excelentes. Gosto muito da maneira que ele lida com a harmonia e percebo sua assinatura em muitas composições, em geral, gostando dela. Me incomoda, entretanto, sua voz um tanto metálica e sua maneira de executar o piano, de forma martelada. Gosto bastante, enfim, de algumas de suas músicas, preferencialmente cantadas por outros artistas. E, da mesma forma, nunca me interesso quando ele canta músicas de outros compositores.

Foi por tudo isso que não me interessei em ouvir o disco em que Ivan Lins canta Noel Rosa, há doze anos, quando foi lançado. Afinal, se Ivan Lins figura entre os artistas que eu apenas admiro, Noel está naquela outra categoria, a de quase idolatria. Fiquei imaginando seu martelo assassinando as clássicas obras de um gênio, e sua voz metálica profanando algumas letras magistrais do poeta da Vila Isabel. Além do mais, tenho tremenda má vontade com a mistura de samba e piano. O disco saiu e eu deixei passar.

Por esses dias, por puro acaso, este CD começou a tocar no meu carro (Acaso, aliás, é uma das canções de Ivan Lins que muito me agradam). Fui tomado de grande surpresa. Surpresa, aliás, é o que mais existe neste trabalho, lançado, inicialmente, em 2 volumes e depois relançado em formato de box, com a adição de um terceiro. Já na primeira faixa, numa grande sacada, o samba De Babado de Noel e João Mina é transformado em um partido alto em que Ivan versa ao lado de Nelson Sargento, Nei Lopes e Zeca Pagodinho, partideiros notórios. Outra surpresa agradabilíssima é que o piano foi deixado a cargo de duas feras do instrumento: Cristóvão Bastos e Leandro Braga. Desse jeito, um piano se encaixa bem até em bateria de escola de samba. Entre os músicos, executando o samba mais autêntico que a nossa gente é capaz de produzir, tem gente da lavra de Armando Marçal, Cláudio Jorge e Marcos Suzano. Fica difícil não acertar.
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De Babado (Noel Rosa & João Mina)

Como se isso tudo já não fosse suficiente, há participações especiais de uma turma do primeiro time da nossa música como Chico Buarque, Caetano Veloso, MPB4, Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Fátima Guedes, Zé Renato e Guinga, entre outros do mesmo quilate. O som fica quase perfeito. O que destoa é o que eu já previa: a voz metálica de Ivan Lins. Mesmo isso não consegue estragar este excelente trabalho. Ainda bem.

7 comentários:

Anônimo disse...

bom, bom... não sou fan de ninguém, aos treze, bem que me chamavam de Kurt, por que morria de amores pelo Kurt Cobais do Nirvana, mas passou.. Fora ele sou louca pelos Beatles, mas me pergunta por onde anda o Ringo.. (sei lá!)
Não gosto muito do Ivan Lins, algumas músicas são legais, mas só conheço de ouvir no rádio... não compraria um cd dele..
gosto do Vercilo.. ele é legal..
aliás pa música tá pra nascer pessoa mais desorientada.. meu gosto vai do pagode ao erudito sem a menor vergonha.

Valéria Martins disse...

Oi, Arnaldo! Adoro Noel Rosa, mas não me animo a ouvir o CD, porque também acho o Ivan Lins chatérrimo!

Mas vc não me disse o que acha das minhas "observações" sobre o impasse entre homens e mulheres atualmente...

Beijos

Andrea Nestrea disse...

oi, arnaldo,é o ivan lins é um artista cheio de reticências pra mim... mas respeito bvastante o trabalho dele... e deu vontade de ouvir esses sambas!
bj

Diego Moreira disse...

É, fica difícil não acertar. Eis o resumo do troço todo.

Beatriz Fontes disse...

Eu fiz questão de ter esses discos, mas só porque eram músicas do Noel. Naquela época - 12 anos atrás, você diz?, então 1997 - eu estava no auge da minha paixão por Noel Rosa. Na verdade, eu o havia descoberto havia apenas um par de anos, durante o vestibular. Daí, comecei a catar tudo que fosse relacionado a ele.

Essa fase já passou. Não sou uma pessoa de idolatrias e confesso que pouco ouvi qualquer um dos discos. Inclusive o terceiro, que não consegui comprar porque achei absurdo recomprar os outros dois para tê-lo e simplesmente copiei. Compartilho de sua opinião quanto ao Ivan Lins em todas as suas reticências. Os discos são bons, mas acho que acaba que o Ivan Lins estraga um pouco. :-)

Unknown disse...

Apenas um comentário: a faixa De Babado não foi transformada num partido-alto, como você diz; ela já nasceu como partido-alto, embora não levasse ainda este nome. Noel, na minha opinião, foi um dos primeiros - se não for o primeiro - a fazer um samba de partido-alto. E sem saber que o fazia, já que esta não era a sua linha de samba.

Assim como a Bia, comprei os CDs há mais de 10 anos, quando foram lançados. O mais curioso - e sei que você vai acreditar em mim - é que nunca os tinha escutado. Talvez porque Ivan Lins cantando samba nunca me passou muita confiança. O fato é que fui ouvir os discos depois de ler o seu post e ouvir essa bela gravação.

Estive ontem com Nei Lopes. A divisão e os versos de improviso do malandro são um show à parte. Melhor escolha impossível para dividir esse samba com o Ivan.

Abraço!

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pois é, Bruno. Eu nunca tinha identificado este samba como partido alto, já que nas gravaçõe que eu conehcia (inclusive a do própro Noel) essa característica não tinha ficado tão evidente para mim.