
Deixando claro que têm, muito firmemente, suas próprias convicções, os organizadores decidem eximir-se de mostrá-las para oferecer aos leitores o pensamento dos militares entrevistados. Sendo assim, o livro acaba não cometendo o maior pecado que cometeu Elio Gaspari ao não conseguir disfarçar sua clara admiração por Geisel e Golbery em sua trilogia. Esta é a diferença entre livros de história quando são escritos por jornalistas e quando são escritos por cientistas políticos, sociólogos ou historiadores.
O que fica patente, no livro, além do fato de todos os entrevistados defenderem o golpe, é a clara existência, na época, de dois grupos distintos dentro das forças armadas. Os Castelistas e os Costistas, uns defendendo a legalidade e outros, a chamada Linha Dura. Todos eles reconhecem que Castelo Branco tinha por objetivo devolver o poder a um civil depois de seu mandato. Segundo eles, esta disposição foi atropelada pelo grupo da linha dura que teria, aliás, levado Costa e Silva a apoiar esta direção. A maioria admite que Costa e Silva queria o poder, desde a deflagração do golpe, o que não significa que quisesse a presidência. Isto, pra mim, é mais do que suficiente para caracterizar o regime como uma ditadura.
Independentemente das questões históricas, o relato dos entrevistados serve para deixar muito clara a maneira como pensam os militares, como eles se consideram em relação aos civis e como é importante, mais do que tudo, a questão da hierarquia dentro das corporações. Tanto que, todos eles não hesitam em apontar como causa da deflagração do golpe o apoio que Jango deu aos sargentos e marinheiros nos momentos em que se sublevaram ou questionaram a ordem estabelecida dentro das casernas. Muitos deles não titubearam em declarar que sem este apoio, provavelmente, os militares não teriam se unido a ponto de desferirem o golpe no estado. Afirmam, sobretudo, que Castelo Branco não o faria.
E esta afirmação me leva, sempre, a fazer pequenas digressões condicionais. Como seria o nosso futuro se Jango não tivesse sido deposto? E se Jânio não tivesse renunciado? Aliás, o que teria acontecido se Lott não tivesse garantido a posse de Juscelino? O que teria sido de nosso país se Getúlio não tivesse dado um tiro no peito? Nada disso, porém, serve pra alguma coisa. A história não admite o uso da conjunção condicional.
O livro trata apenas do período que vai da tomada do poder até a posse de Costa e Silva, como segundo presidente militar. Engloba, portanto, o tempo anterior ao recrudescimento do regime, com sua onda de repressão e tortura, marcas registradas dos governos de Costa e Silva e Médici. Mas, como na obra de Gaspari, este livro faz parte de uma trilogia. Sendo assim, já tenho em minhas mãos o segundo volume, cujo título é Os anos de chumbo. Este, sim, é um período que me interessa ver como os militares vão encarar.
2 comentários:
Arnaldo,
Esta época ainda me dói, provoca indignação demais. Não conseguiria ler com a isenção necessária.
Grande abraço
Nada a ver ou talvez algo a ver, mas sabe que o cd do Ivan Lins ao lado do texto sobre o golpe me lembraram do único disco do Ivan que tenho e adoro, que é aqule que tem a foto criminal dele na capa, qdo foi preso durante a ditadura..
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