Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nuvens esparsas

Não me lembro se foi Gilberto Gil ou outro artista que, em seu depoimento no filme, fez um paralelo entre o samba e o baião, como os dois únicos ritmos genuinamente populares brasileiros. Nunca tinha pensado nisso, mas a coisa faz sentido. Foi no pós-guerra, quando uma enxurrada de ritmos estrangeiros invadiu nosso país e quando o samba mais autêntico enfrentava preconceituosa resistência de nossa elite, que, através de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, o baião ganhou o país e depois o mundo. Luiz Gonzaga, o rei do Baião, ficou na mente de todos. É reverenciado, até hoje, por várias gerações de músicos importantes que reconhecem a influência que foi exercida por sua música. Mais do que isso, a marca de Luiz Gonzaga ficou fixada, de forma indelével, na vida do povo brasileiro. Tão importante quanto o velho Lua, para a disseminação deste ritmo, foi seu grande parceiro Humberto Teixeira. E como ocorreu com Guilherme de Brito e Vadico, que tiveram reconhecimento muito menor que seus parceiros Nelson Cavaquinho e Noel Rosa, respectivamente, Humberto Teixeira ficou relegado a um plano inferior, apesar da fundamental importância. O filme O Homem que engarrafava nuvens vem para reafirmá-la.

Desde o ano 2000, sua filha, a atriz Denise Dumont, que mora em Nova York, vem-se encarregando de resgatar suas memórias, promovendo shows e artigos em jornais e revistas sobre a importância de sua obra, nos ensina Ricardo Cravo Albin em seu Dicionário da Música Popular Brasileira.

Em 2002, idealizou o projeto que culminou com um show no teatro Rival, Rio de Janeiro, em que vários artistas importantes apresentaram clássicos compostos por ele. O show, gravado ao vivo, virou o CD O doutor do baião lançado pela gravadora Biscoito Fino. E agora, neste filme dirigido por Lirio Ferreira, é ela a responsável pela produção e quem conduz os depoimentos, dando, ela mesma, o seu próprio.

Muitas cenas do show são utilizadas no filme, mas as imagens mais instigantes são as do Rio de Janeiro da década de 50. São muitas cenas, muitas imagens, muitos depoimentos e muitos sons. Informações esparsas, como nuvens, que o diretor, com muita sensibilidade, conseguiu engarrafar em quase duas horas.

Resumindo, são quase duas horas do mais puro prazer. Prazer por ouvir boa música e por rever Denise Dumont, que tanto me encantou na adolescência, seja em filmes de qualidade duvidosa, seja nas páginas de revistas masculinas.







Respeita Januário (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) com Lenine

Nenhum comentário: