Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O vôo raso dos tucanos

A campanha do PSDB à presidência da república, depois da fase atabalhoada, está entrando na fase melancólica cujo fato mais emblemático foi a escolha do candidato a vice na chapa de José Serra. Mais correto seria dizer a falta de escolha, já que não pululam nomes dispostos a embarcar num barco furado como este, aparentemente, nem no DEM e muito menos no PSDB.

A próxima fase será a do desespero, da agressividade rasgada, dos golpes baixos. É uma estratégia típica, porém, ultrapassada, já que, felizmente, tudo indica que este tipo de estratagema não seduz mais a sociedade. Deu certo no passado, quando foi utilizada por Collor contra Lula, no caso Miriam Cordeiro-Luriam, mas deu errado nas últimas eleições municipais em São Paulo, quando Marta Suplicy tentou alavancar sua candidatura na “solteirice” de Gilberto Kassab. Não funcionou, pois, aparentemente, o eleitorado adquiriu maturidade suficiente para não cair neste tipo de armadilha. Torço para que seja isso. Torço para que, realmente, o eleitorado esteja mais maduro, este eleitorado que votou em Lula, mas que também já elegeu Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor.

Voltando à campanha atual, a escolha de Álvaro Dias para vice de Serra teria sido absolutamente equivocada, já que ele é um nome que não conta com apoio dentro do partido. A solução, entretanto, não podia ser pior, ou seja, a escolha de um nome obscuro do DEM. Mas afinal, qual político do DEM não apresenta um perfil obscuro?

Este partido, não devemos esquecer, é aquele que já foi PFL, oriundo do PDS, originado na velha ARENA. É o partido mais identificado com o regime instaurado pela ditadura militar que reinou neste país nas décadas de 1960 e 70. Este partido reúne o que há de mais retrógrado na representação política brasileira. É um partido que, aliás, não soube ser oposição nestes anos de governo Lula. Sim, este partido, o DEM, não sabe ser oposição. Comparado a seus quadros, só encontramos paridade em alguns nomes do PMDB que estão aliados ao governo Lula, como José Sarney ou Renan Calheiros, que também têm grande dificuldade de ocupar uma posição oposicionista.

As apostas dos tucanos, agora, irão se voltar ao programa eleitoral gratuito da TV, confiantes nos milagres que os marqueteiros de plantão poderão operar. Ocorre que o outro lado também conhece os poderes destes marqueteiros, já experimentou seus truques e tirou proveito de seus resultados. Se fosse depender disso, haveria empate.

Além do mais, a penetração da TV aberta é muito menor do que foi no passado, já que a classe média, responsável por 53% do eleitorado, tem hoje, em sua maioria, algum plano de TV paga. Será natural mudar o canal da TV no momento do programa eleitoral. Aos que permanecerem sintonizados no canal aberto, será oferecido o mais baixo nível de debate político que nossos candidatos são capazes de produzir. Pode ser que seja até divertido, mas, certamente, não será nem um pouco instrutivo.
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Um comentário:

Unknown disse...

Arnaldo: eu tributo à algumas razões o amadurecimento do eleitor brasileiro. Uma delas é a decadência dos meios convencionais de informação diante do avanço da internet entre toda a população. Já não dependemos mais exclusivamente das notícias que nos chegam via TV, jornais e revistas. Hoje, a maior parte das pessoas que querem informação busca se atualizar através de sites e blogs independentes. Outra é que os oitos anos de governo Lula fizeram muito bem à democracia. O País avançou em muitos setores e isto me parece inegável. O povo não é burro, ao contrário do que diz a elite nativa. Ele sabe muito bem diferenciar o discurso da prática. Se a vida melhorou para a maioria, de nada adianta a oposição dizer o contrário. Há ainda uma terceira causa: o discurso da oposição parou no tempo, está envelhecido, ultrapassado, e continua atrelado aos interesses mais escusos. O mundo, em linhas gerais, mudou muito desde o fim da Guerra Fria, mas a direita brasileira permaneceu apegada aos valores mais conservadores daquele período -- e estes valores só encontram ressonância entre uma parcela muito pequena do eleitorado, um tipo de gente reacionária, acima dos 50 anos, que ainda vê a "ameaça comunista" em toda parte. Este grupo, no entanto, está na UTI, vivendo seus últimos momentos, e não tem mais o poder de decidir uma eleição. A não ser que aconteça uma merda das grandes, Dilma será eleita a próxima presidente do Brasil. Com muita justiça, diga-se de passagem. Como já disse aqui, uma vitória de José Serra seria um retrocesso de consequências trágicas para o País. Quero crer que a maioria pensa assim. Abraço.