Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 1 de junho de 2013

Lidando com a culpa

Uma das coisas que um feriado prolongado pode proporcionar é a ida ao cinema de maneira plena, quase excessiva. É difícil este exercício em Campinas, onde impera a exibição de blockbusters nas centenas de salas contidas nas dezenas de shopping centers da cidade. Não há alternativa. Pra ter verdadeira variedade de filmes, é preciso ir pra São Paulo.
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Supus que o feriado tornaria o trânsito naquela cidade mais ameno. Ledo engano, estava impossível. A quantidade de carros era inacreditável, tornando realidade que o preço do estacionamento chegue a 14 reais por meia hora. De qualquer forma, apesar do valor extorsivo dos estacionamentos e, também, das entradas do cinema (25 reais, uma inteira!), logramos assistir a 2 filmes que, se acaso estiveram em alguma sala de Campinas, isso não durou mais do que 1 semana.
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O primeiro foi o filme canadense O que traz boas novas (Monsieur Lazhar), do diretor Philippe Falardeau. Uma leitura superficial da sinopse poderia sugerir tratar-se de mais uma daquelas histórias de professor e alunos, no estilo “Ao mestre com carinho”, com uma sala de aula, cheia de jovens desajustados e que são convertidos em pequenos gênios, graças aos métodos diferenciados de algum professor iluminado. Coisa de ficção científica. Uma leitura atenta da sinopse, entretanto, indica que não é este o caso. Muito pelo contrário, aliás, percebe-se ao assirtir ao filme. Neste caso, os alunos são absolutamente ajustados, nada indica que tenham grandes problemas sociais, mas a tela mostra que este equilíbrio não é garantia de uma rotina sem conflitos.

 
De uma delicadeza cirúrgica, o filme, entre outras coisas, desnuda o conflito entre ensinar e educar, questionando a função da escola e a dos pais. E, nesta questão, o principal mérito do filme é o de nem ao menos sugerir uma resposta para ela.  Há, ainda, que se ressaltar o exelente desempenho do ator protagonista e os de duas das crianças que interpretam seus alunos. De arrepiar.
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O segundo filme que assistimos, logo em seguida, foi o brasileiro Hoje, de Tata Amaral com Denise Fraga e o ator uruguaio Cesar Trancoso. Muito mais tenso que o primeiro, o filme trata das marcas deixadas nas pessoas que sofreram torturas no regime militar, mesmo depois de muito tempo passado. A diretora escolhe uma forma de condução da narrativa nada usual e que confere ao filme, em alguns momentos, uma morosidade incômoda. Incômoda, porém, é a realidade na qual viveu o país por 20 anos e da qual não está conseguindo se livrar, por total incapacidade de expiar suas culpas.
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E falando em culpa, para explicar o título dete post, é necessário dizer que a forma de lidar com a culpa é a única coisa comum a dois filmes tão diferentes, tanto na temática quanto na maneira de conduzir a direção. A culpa (e o jeito de lidar com ela) é o elo de ligação destas duas histórias tão distintas. E mais não vou falar, para que, quem tiver a oportunidade, possa assisti-los. A ambos.
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Em tempo: Acho que mudaram o material da embalagem dos sacos de pipoca, nos cinemas. Parece algum tipo de papelão grosso. O que sei é que isso produz um ruído insuportável na sala de projeção. E como os sacos são imensos, o ruído é interminável. As pessoas, tudo indica, vão mais ao cinema para comer do que para assistir a um filme.

Um comentário:

Anônimo disse...

Seus textos, como sempre, impecavelmente escritos!
Bim, infelizmente, não terei a oportunidade de assisti-los. Se você sente dificuldade em achar esses filmes em campinas... Imagine eu aqui onde estou. As vezes nem os blockbusters chegam... Estarei em sp no final do mês, quem sabe consigo pegar algo ainda. Queria ver esse primeiro filme. Parece ser muito bom.
Bjs
(eu nao tenhi conserto - assinando como anônimo porque ainda não consegui desvendar os mistérios de como usar o meu celular corretamente... Rs)